Nelson Marques Cineclube Natal e ACCiRN – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte e-mail: [email protected] Este filme, que fez sucesso no Festival de Sundance de 2018, pulou diretamente de lá para exibições no canal a cabo da HBO, sua produtora. O filme é um tour de force duplo, de sua diretora e roteirista Jennifer Fox, e da atriz Laura Dern num de seus melhores papéis de sua carreira. Laura assumindo com força a história real de abuso sexual da própria diretora quando criança, nos toca de forma profunda. Com ela começamos a descortinar uma trama sombria, odiosa, coberta por imagens idílicas e de uma narração surpreendentemente leve, bela e poética. O Conto é um filme poderoso, corajoso e terrivelmente perturbador. Jennifer Fox, criou uma história baseada em suas próprias memórias de vida. O roteiro, seguro, e uma direção lenta, mas, ao mesmo tempo, implacável ao mostrar fatos e acontecimentos desagradáveis, nos deixa, como espectadores, numa situação desconfortável de observadores de um mundo real com muitos questionamentos e conflitos internos. Fox, juntamente com Laura Dern, mergulha nas próprias lembranças, muitas extremamente dolorosas, e procura por um sentido em tudo aquilo que viveu. Ao abordar temas extremamente atuais como pedofilia, estupro, abusos sexuais, o filme vai fundo. Não é um filme fácil, já vi que ele fala de forma franca, sem tergiversar, de todos esses temas e da força da memória que, em algum momento, talvez nos deixe escapar desse poço e ter a esperança de seguir em frente.
Nesse ponto, Fox carrega a câmera com sobriedade, firme nas suas memórias pessoais, deixando a cargo de Dern, o extravasar de raiva, ódio, amor, e a possibilidade de redenção ao enfrentar seus monstros interiores. Laura Dern está incrível no papel principal. Talvez seja o papel de redenção pessoal, também construindo, talvez, o melhor papel de sua vida. Não há arroubos dramáticos, ou exageros, talvez apenas no enfrentamento final com o seu exterior/interior. É um alívio para todos, creio eu, Jennifer Fox, Laura Dern, e nós mesmos, como espectadores, a possível redenção e o entendimento final de um passado sombrio. Como a HBO resolveu utilizar o filme em sua rede de streaming, em vez das redes de cinema, nem o filme, nem a diretora, e nem Laura Dern entraram na arena de premiação do Oscar. O que, sem nenhuma dúvida, é onde mereciam estar todos eles.
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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