Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Para aqueles que assistiram mais recentemente (e gostaram!) de “Black Mirror” (criação de Charlie Brooker, 2011, com 5 temporadas e 13 episódios) é bom saber que há muito tempo atrás existiu a série “Além da Imaginação” (a, agora, histórica e famosa Twilight Zone, no seu nome original). Histórias fantásticas, mirabolantes, que misturavam horror, ficção científica e, às vezes, até um pouco de comédia. Mas sempre tendo críticas sociais em bons roteiros, sendo agora, visto a posteriori, com muita semelhança às histórias apresentadas em “Black Mirror”. A série Twilight Zone foi apresentada originalmente dos anos 1959 a 1964. Ou seja, há mais de 60 anos! O sucesso foi tão grande que houve muitas e muitas reapresentações, desde então, ao longo dos anos, em diversos canais de televisão aqui no Brasil e em muitos outros lugares no mundo. Curiosamente, ou talvez por necessidade humana de se defrontar com histórias estranhas, além dessas “reprises”, ela foi retomada em novas versões ao longo desse tempo todo. A série original, a de 1959, foi composta por 156 episódios de, em média, 40 minutos de duração cada um deles que foram apresentadas na CBS. Desses, 93 foram episódios originais escritos por seu criador, Rod Serling. Os outros 63 episódios foram o espaço privilegiado para uma escrita criativa de episódios fantásticos, papel exercido por cerca de 45 roteiristas. Rod foi seu criador, principal roteirista (93 episódios) e produtor de muitos episódios. Além de ser o seu principal apresentador e narrador. É dele a introdução e Abertura à série e que se tornou um clássico de objetividade e concisão na TV americana e mundial: “...Há uma quinta dimensão além daquelas conhecidas pelo homem. É uma dimensão tão vasta quanto o espaço e tão desprovida de tempo quanto o infinito. É o espaço intermediário entre a luz e a sombra, entre a ciência e a superstição; e se encontra entre o abismo dos temores do homem e o cume de seus conhecimentos. É a dimensão da fantasia. Uma região Além da Imaginação...” Se a série foi espaço privilegiado para roteiristas (45 no total) e diretores, Richard Donner, Robert Stevens, Boris Sagal, Don Spiegel, Jacques Tourneur, Ida Lupino, dentre muitos (53 no total), também o foi para atores e atrizes: Dan Duryea, Robert Duvall, William Shatner, Leonard Nimoy, Robert Redford, Burgess Meredith, Martin Landau, John Carradine, Roddy McDowell, Agnes Moorehead, Busier Keaton, Donald Pleasence, Mickey Rooney, Ida Lupino, Elizabeth Montgomery, Julie Newman, Telly Savalas, Bill Bixby e... muitos outros. Autores de ficção científica também tiveram seu espaço: Richard Matheson, Ray Bradbury. Depois da criação da série original por Rod Sterling, houve um filme de longa metragem derivado da ideia original em 1983. Foi chamado apropriadamente Twilight Zone: The Movie (em português ficou com o título de “No Limite da Realidade”). Ele foi montado na forma de segmentos diferenciados, quatro, com refilmagem de três episódios da série original e um roteiro original. Cada um foi realizado por um diretor diferente, todos eles grandes fãs da série original de 1959: Joe Dante (segmento 3, “Its a Good Life”, da 3ª. temporada), John Landis (prólogo e segmento 1, “Time Out”, roteiro original), George Miller (segmento 4, “Nightmare at 20.000 Feet”, da 5ª. temporada) e Steven Spielberg (segmento 2, “Kick the Can”). Como seria de se esperar em obras desse tipo, cada um dos segmentos tem avaliação popular diferente uma da outra. Na média, o filme tem 6,5/10 na avaliação no IMDB. Houve ainda mais duas tentativas de reviver, com nova roupagem, a série original de 1959, antes desta última de 2019, The Twilight Zone 2019, criada por Jordan Peele (diretor de “Corra!” e “Nós”), Simon Kingberg, Marco Ramirez e Glen Morgan para o CBS All Acess, canal de streaming da CBS Television. A primeira, exibida entre os anos de 1985 a 1989, dez anos depois da morte de Rod Serling, contava com episódios coloridos, antes eram em branco-e-preto. No entanto, inicia o período de decadência da ideia e das séries. Teve apenas 3 temporadas, com 65 episódios no total, que foram mal recebidos e avaliados pelo público, mesmo mantendo no geral a forma de exibição dos episódios, com apresentação e narração de Charles Aidman (1985-1987) e Robin Ward (1987-1989). A segunda, realizada pela UNP, foi apresentada entre 2002 e 2003, teve recepção pior ainda, durando uma temporada, com apenas 44 episódios, mesmo tendo a apresentação e narração de Forest Whitaker. A terceira tentativa de “revival” de “Além da Imaginação” teve um nome de peso na retaguarda, Jordan Peele, e aconteceu pela admiração de Jordan pela série original de 1959, também apreciada por Simon Kinberg. Como Jordan é o garoto prodígio americano do momento, é ator, diretor (“Nós”, inspirado no episódio “Mirror Image”, de 1960), roteirista (“Corra!”), dono de uma produtora – a Monkeypaw – que produziu o filme de Spike Lee, “Infiltrado na Klan”, havia expectativas favoráveis para essa produção. Peele repete quase o mesmo esquema de Rod Sterling em 1959: é o criador dessa série nova, junto com Kingberg, é o narrador do prólogo de cada episódio ficando “dentro” do ambiente de cada história. Desta vez, os episódios tem duração de 60 minutos. Os 20 episódios tiveram roteiros criados coletivamente e “inspiração” permanente de Rod Serling. Não deixa de ser uma árdua missão seguir o legado de Rod Serling, em face do pouco sucesso das tentativas anteriores. Ainda mais que Rod Serling, desde a sua criação original em 1959, serviu e continua servindo de inspiração para muitas produções do passado e do presente. É provável que continue assim para o futuro também. O novo “Além da Imaginação” tem episódios de 1 hora de duração, com duas temporadas já realizadas, e conta também com atores do momento como Adam Scott, Steven Yeum, Kumail Nanjiani, Taissa Farmiga e diretores variados. As duas temporadas estão disponíveis na Amazon Prime Vídeo. Ambas com 10 episódios cada. Para termos um parâmetro de comparação fizemos uma avaliação dos melhores episódios de cada uma das séries e das diversas temporadas. Já avisamos de saída, como comentamos brevemente antes, que as séries foram caindo de qualidade e de expectativas por parte do público com o passar do tempo. O que pode ser também um bom parâmetro e aviso para Peele, que está com a sua série em andamento. A série clássica, que foi apresentada de 1959 a 1964 teve cinco temporadas, com todos os episódios em preto-e-branco. As temporadas 1 (36 episódios), 2 (29 episódios), 3 (37 episódios) e 5 (36 episódios) tiveram episódios de 30 minutos. A quarta temporada (1962-1963) (18 episódios) apresentou episódios de 60 minutos sem muito sucesso, pois os roteiros não acompanharam a extensão do tempo. Ficaram cansativos. A avaliação dos episódios pode ser vista no site do IMDB e impressiona muito a quantidade de episódios com notas entre 8,5-9,2/10. Além disso, qualquer consulta em sites de busca mostram listas de 10, 20 , 30... melhores episódios. Não foi fácil selecionar apenas os 10 Melhores Episódios de cada temporada e compor Os 10 Melhores Episódios da série Twilight Zone clássica, na minha opinião. São eles: Eye of the Beholder (A Beleza Está nos Olhos de Quem Vê) (9,2/10) – 2ª. temp.; To Serve Man (Para Servir o Homem) (9,1/10) – 3a. temp.; Nightmare at 20.000 Feet (Pesadelo nas Alturas) (9,1/10) – 5a. temp.; Time Enough at Last (Tempo Suficiente) (9/10) – 1ª. temp.; The Monsters Are Due On the Mapple Street (O Monstro da Rua Mapple) (9/10) – 1a. temp.; Living Doll (Boneca Viva) (8,9/10) – 5a. temp.; Will the Real Martian Please Stand Up (O Marciano) (8,8/10) – 2a. temp.; It´s a Good Life (A Vida É Boa) (8,8/10) – 3a. temp.; The Masks (As Máscaras) (8,8/10) – 5a. temp.; The Obsolete Man (O Homem Obsoleto) (8,7/10) – 2a. temp. A segunda série de “Twilight Zone” (The New Twilight Zone) (1985-1989), apesar dos seus 110 episódios, só tem avaliação de mediano para baixo em cada um seus episódios. Conseguimos, com dificuldade, escolher apenas 8 episódios que se destacam dentro dessa faixa (7,0-8,0/10). São eles: Examination Day/A Message from Charity (7,9/10) – 1a. temp.; Her Pilgrim Soul/I of Newton (7,8/10) – 1a. temp.; Profile In Silver/Button, Button (7,8/10) – 1a. temp.; Monsters!/A Small Talent for War/A Matter of Minutes (7,7/10) - 1a. temp.; Shatterday/A Little Peace and Quiet (7,6/10) – 1a. temp.; The Toys of Calliban (7,6/10) – 2a. temp.; The Hellmgranuite Method (7,4/10) – 3a. temp.; The Mind of Simon Foster (7,4/10) – 3a. temp. Na terceira série (2002-2003), com apenas 44 episódios e uma temporada, foi ainda mais difícil encontrar episódios que se destacassem. Os roteiros são mal elaborados e previsíveis. A maior parte deles está na faixa abaixo de 7/10. Conseguimos selecionar apenas alguns: The Placebo Effect (7,7/10); Memphis (7,5/10); Craddle of Darkness (7,5/10); The Pool Guy (7,3/10); The Pharaoh´s Curse (7,3/10); The Executions of Grady Finch (7,3/10). Fizemos o mesmo para os 20 episódios da nova série de “Twilight Zone 2019”, realização do Jordan Peele e já com duas temporadas de 60 minutos cada um. Apesar das expectativas da possível contribuição de qualidade que Jordan poderia ter trazido, o resultado não tem sido dos melhores. Mesmo com episódios bem produzidos e com bons atores a série não consegue se sustentar. Tendo vistos todos os episódios até agora apresentados, concordo muito com as avaliações colocadas no site do IMDB. Até agora houve apenas uns poucos episódios considerados razoáveis. Os demais são medíocres e decepcionantes. A pontuação dos episódios da 1ª. temporada oscilou entre 4,7-6,8/10. A da 2ª. temporada entre 4,4-7,4/10. Mesmo assim selecionamos alguns episódios mais marcantes, que consideramos os melhores: The Who of You (7,4/10) – 2ª. temp.; Meet in the Middle (7,3/10) – 2a. temp.; Among the Untrodden (7,1/10) – 2a. temp.; Nightmare at 30.000 Feet (6,8/10) – 1a. temp.; A Small Town (6,8/10) – 2a. temp.; Try, Try (6,7/10) – 2a. temp.
Em 2013, “Twilight Zone”, a série original de 1959, foi eleita pelo Writers Guild of America como o terceiro programa da TV americana mais bem escrita, ficando ao lado da “Família Soprano” (The Sopranos, 1999-2007, 6 temporadas e 86 episódios) e “Seinfeld” (Seinfeld, 1989-1998, 172 episódios). A revista TV Guide elegeu-a como a quinta melhor série de todos os tempos na TV americana.
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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