Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Milada (idem) é um filme tcheco de 2017 do gênero drama biográfico numa produção da República Tcheca e EUA e mostra parte da vida de Milada Horáková, uma heroína real que enfrentou o nazismo e o comunismo na Tchecoslováquia, lutando contra tudo e contra todos para defender suas crenças durante o período da Tchecoslováquia comunista. Milada Horáková e seu esposo, Boohuslav, foram presos em 1940 pelos nazistas e levados para um campo de detenção. Após dois anos de detenção, durante o julgamento por conspiração, a sentença original de pena de morte, foi substituída por 8 anos de prisão em Aichach. Ao final da guerra, em 1945, a Tchecoslováquia estava livre do domínio alemão e ela pode voltar para sua casa em Praga. Milada recebeu a Legião de Honra da França, diretamente das mãos do general Charles de Gaulle. Elegeu-se parlamentar, lutou politicamente contra o comunismo... e perdeu! Com o auxílio da então União Soviética, os comunistas tchecos “conseguiram” a renúncia do presidente da república e de seus ministros e deram um golpe de estado em 1948, o chamado Golpe Tcheco, ou Golpe de Praga. O Partido Comunista Tcheco ao assumir o poder começou a montar um sistema ditatorial caracterizado pela repressão e assassinatos de quem não lhe era subserviente. Milada foi perseguida, mais uma vez, e desta vez não pelos nazistas, e a sua família ameaçada e presa. Foi julgada em 8 de junho de 1950 e condenada à morte sob a acusação de conspiração e traição. Seu apelo de comutação de pena, corroborado por personalidades famosas como Albert Einstein, Winston Churchill, Eleanor Roosevelt, foi ignorado. Ela foi executada por enforcamento na prisão de Pankrác em 27 de junho de 1950 aos 48 anos de idade. Em 1953, Boohuslav conseguiu sair da Tchecoslováquia e chegou em Washington, DC, sozinho, depois de muitas tentativas fracassadas de também levar a filha dos dois, Jana. Ela só conseguiu se reunir com seu pai nos EUA em 1968, quase 20 anos depois da separação forçada de ambos. Em 1989 o comunismo na Tchecoslováquia é derrubado em uma revolução pacífica, a chamada Revolução de Veludo, resultando na redemocratização do país. Além da sua atuação política, Milada é lembrada também pelas suas últimas palavras apostas em sua carta de despedida endereçada à sua filha. Essa carta só foi entregue a Jana muito tempo depois da execução de sua mãe e faz parte dos momentos finais do filme, numa cena muito emotiva. Vale a pena fazer parte dessa corrente de sentimentos deixando correr solta as suas próprias emoções. O filme tem uma direção segura de David Mrnka e o roteiro foi escrito a quatro mãos por David Mrnka e Robert J. Conant e um elenco de muito boa qualidade: Ayelet Zurer (Milada Horáková), Robert Gant (Boohuslav), Anna Geislerová (Brozova), Hana Vagnerová (Marta), Karel Dobry (KGB – Makarov) e Vica Kerekes (Vera Turnová).
Apesar de emotivo em quase todo o tempo, o filme é um tanto tendencioso, mostrando os maus efeitos do comunismo, que não ocorreram o tempo todo durante o período retratado no filme. Ao se concentrar excessivamente na questão das torturas sofridas por Milada nas prisões tchecas, negligencia o conteúdo nazista semelhante que a mesma Milada sofreu também por muito tempo. Mas a meu ver, o pecado maior do filme é o de não apresentar ao grande público os feitos e os motivos de Milada ser uma referência para as causas que defendia, tanto na Tchecoslováquia, quanto no mundo.
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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