Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] A inspiração para este ensaio veio através de parte do conteúdo do livro que tive recentemente em mãos. O livro de título “Ética y Magia A Través del Cine”, de Federico Ludueña e Juan J. Michel Fariña como compiladores, tem uma abordagem psicanalítica, evidenciada pelo subtítulo “El Acto de Prestidigitación y El Acontecimiento Clínico”. Foi publicado na Argentina, em junho de 2009. Com a colaboração de 15 profissionais da área, entre mentalistas, psicanalistas, magos, psicólogos, filósofos, traz como proposta fazer uma interlocução da magia (através do CAIRP – Centro Argentino para a Investigação e Refutação das Pseudociências) com a academia (Universidade de Buenos Aires e Universidade de Hertfordshire). O livro esta organizado em três partes. Na primeira - O Efeito Mágico e a Experiência Subjetiva - analisa-se a profunda tradição da magia e seu impacto no terreno da subjetividade. A segunda parte - Ilusionismo e Acontecimento Clínico. Ilustrações Cinematográficas - recorre a diversos cenários em que o ato de magia propicia ocasião de uma reflexão ética. A terceira parte - Os Magos e o Cinema - está integrada por textos breves originadas da pergunta “Qual foi o filme que mais o inspirou em sua relação com a magia?” O livro abre e fecha com variações mágicas que jogam com a ilusão. É exatamente esta relação entre magia, ilusão e cinema que trouxe minha atenção ao selecionar alguns filmes que trabalhassem com esses temas. Historicamente podemos dizer que o cinema é a arte da magia e da ilusão. Desde o seu princípio em 28 de dezembro de 1895, em Paris, quando houve a primeira projeção pública, a magia estava posta ao transformar fotografias estáticas em movimento no truque da projeção. Não é por menos, então, que o primeiro registro dessa magia apareça menos de um ano depois, em outubro de 1896 com o filme Escamotage d´une dame au Théatre Robert-Houdini, feito por Georges Méliés, com a invenção do primeiro truque “fílmico”, com o “truque da substituição”. O filme tem também a originalidade de ser o primeiro filme com argumento. Foi protagonizado por Jehanne D´Alcy, sua amante, que foi, portanto, a primeira atriz do cinema. A trama era muito simples, uma mulher vem a se sentar numa cadeira, entra Méliés na cena, cobre a atriz com uma coberta, que desaparece em seguida. Ante um gesto mágico de Méliés um esqueleto toma o lugar de Jeahnne na cadeira. A cena é repetida e, agora, quem desaparece é o esqueleto, reaparecendo a bela dama. O filme de apenas 1 minuto tem direção, montagem e direção de arte de Méliés. Ele mesmo como ator e Jehanne D´Alcy como atriz. Foi o primeiro filme de Méliés a fazer uso de trucagens. O tema da mulher que desaparece (The Lady Vanishes), no entanto sem magias, permanece em dois outros filmes. O clássico de 1938 de Alfred Hitchcock (A Mulher Oculta) e outro, e mais recente, de 1979 de Anthony Page (Mistérios na Bavária). O filme de Hitchcock teve roteiro de Ethel Lina White, Sidney Gilliat e Frank Launder e atuações de Margaret Lockwood, Michael Redgrave e Paul Lukas. O de Anthony Page teve roteiro de George Axelrod, Sidney Gilliat e Frank Launder e atuação de Elliot Gould, Cybill Shepherd e Angela Lansbury. Houdini (Houdini, O Homem Miraculoso) 1953, dirigido por George Marshall, com Toni Curtis, Janet Leigh e Torin Thatcher, é a história de um dos mais famosos mágicos (ou magos) da história da magia. Impressionava a muitos que além de seus truques ele tinha uma vida centrada na magia, interagindo com pessoas que tinham os mesmos interesses. Foi um empenhado artista de circo que se tornou mágico e artista de fugas mais cativante do mundo. Uma história de vida tão interessante que há uma nova versão recente, uma minissérie para televisão de 2014, com Adrien Brody, Kristen Connolly e Evan Jones. Eternally Yours (Eternamente Tua), direção de Tay Garnett, com Loretta Young, David Niven e Broderick Crawford. Conta a história do mágico Arturo e suas apresentações em clubes noturnos e grupos da alta sociedade Magic (Um Passe de Mágica ou Magia Negra), direção de Richard Attenborough, com Anthony Hopkins, como ator e narrador, Ann Margret e Burgess Meredit. Um ventríloquo à mercê de seu boneco cruel. Europa di Notte (Europa de Noite), 1959, direção de Alessandro Blasetti, co-produção ítalo-francesa. Basicamente é um passeio noturno por lugares de variedades de Roma, Londres e Paris (Crazy Horse, Nouvelle Eve, Caroussell e Pigalle). Há vários magos que trabalham no filme, mas sua importância reside no fato do aparecimento de pombas, pela primeira vez, nos números de magia nas mãos de Channing Polock (mágico e ator americano, nascido em 1926 e falecido em 2006). All About Eve (A Malvada), 1950. Direção de Joseph L. Mankiewicz, roteiro de Mankiewicz do livro “The Wisdom of Eve” de Mary Orr, e atuações de Bette Davis, Anne Baxter e George Sanders. Desenho visual maravilhoso, Diálogos com ritmo impecável, recheados de astúcia e ironia. The Bride of Frankenstein (A Noiva de Frankenstein), 1935, direção de James Whale que conseguiu eclipsar seu precursor, o clássico Frankenstein, dele mesmo realizado em 1931. O filme tem um desenho de arte avançado, música sutil de Franz Waxman e uma combinação precária entre um obscuro e inquietante drama e um bom entretenimento, com o grito e o riso muito próximos um do outro. Per Qualche Dollaro In Piú (Por Uns Dólares A Mais), 1964, direção de Sergio Leone. Não é o melhor dos “spaghetti western” (difícil superar o “Era Uma Vez No Oeste”, de 1968). É notável como Leone usa o espaço físico, visual e temporal. Seus usos do silêncio, do vazio, são eloquentes. The Horse´s Mouth (Maluco Genial), 1958, direção de Ronal Neame, mas o filme se deve sem nenhuma dúvida a Alec Guiness, seu escritor, que atua no papel “protagônico” de seu próprio roteiro, o único que realizou. O personagem de Gulley Jimson não dá respiro à audiência e temos que aceitá-lo em seus próprios termos. Scanners (Scanners: Sua Mente Pode Destruir), 1981. Direção de David Cronemberg. Um filme assombrosamente audaz e por uma razão particular (que não é vista na tela, obviamente), pois Cronenberg reeditou o filme frente à resposta da audiência na pré-estréia, modificando a sequência de certas cenas. Confirmando o que Kuleshov e Mosjukhin afirmaram há muito tempo atrás: é crucial a ordem em que a informação é apresentada. The Illusionist (O Ilusionista), 2006, direção de Neil Burger, com Edward Norton, Jessica Biel e Paul Giamati. Drama, fantasia e mistério. O ilusionista Eisenheim desperta a curiosidade do poderoso e céptico Príncipe Leopold. Quando Sophie, a sua noiva, vai ao palco, vê em Eisenheim o amor de sua juventude – e quando aparece morta, ele é o mais empenhado na investigação.
The Prestige (O Grande Truque), 2006, direção de Christopher Nolan, com Christian Bale, Hugh Jackman e Scarlett Johanson. Dois magos de palco se engajam em uma batalha para criar a ilusão final enquanto sacrificam tudo o que têm para enganar um ao outro, The Fun House (Pague para Entrar, Reze para Sair), 1981, direção de Tobe Hooper, com Elizabeth Berridge, Shawn Carson e Jeanne Austin. Quatro amigos adolescentes passam a noite em um parque de diversões e no trem fantasma e são perseguidos por um homem deformado com uma máscara de Frankenstein. Um dos poucos filmes que respeita a linguagem específica da magia. Há também um mago de aspecto sinistro, decadente e alcoolizado que simboliza o aspecto escuro e aterrorizante da magia, bonecos de ventríloquos e de papel maché, infundindo medo, terror e inquietude que são partes da arte da magia.
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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