Nelson Marques Cineclube Natal e ACCiRN – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte e-mail: [email protected] É sempre bom saber que o cinema existe e está bem vivo também fora do circuito EUA-Europa. Mesmo que com pouca frequência, ainda conseguimos assistir a produções do Irã, do Japão ou da Coréia que chegam no circuito comercial do Brasil (nem é possível se atrever a falar do "nosso" circuito potiguar de exibição, praticamente inexistente). Atividades fora do circuito comercial ainda existem também, graças às boas ações do movimento cineclubista, exemplificada em nosso estado pela ação do Cineclube Natal. Graças também aos serviços de streaming de vários circuitos comerciais, é possível hoje se ver produções até da Islândia e da Turquia. Neste caso, recentemente entrou para a grade de exibição da Netflix duas boas produções da Turquia, uma série e uma minissérie de temas históricos. A série de TV, de ação, aventura e drama, O Grande Guerreiro Otomano, criada por Mehmet Bozdag, foi iniciada em 2014 e encerrou a sua 5ª temporada em 2019. Durante esse tempo, já teve três diretores diferentes, Meton Gunay, Akif Ozkan e Hajam Arslan. É falada em turco e em árabe. Foi filmada na Vila de Riva, em Beykoz, Istambul, na Turquia, e estreou no canal TRT 1, TV da Turquia, em dezembro de 2014. A trama da série retrata o período anterior ao Império Otomano, acompanhando a vida de Ertogrul, pai do fundador do Império Otomano, e líder da tribo dos turcos oguzes. Seu filho, Mehmed II (Maomé II), será o responsável pela expansão do Império Otomano anos mais tarde no século XIII, a partir de 1453. É exatamente deste período, a fundação do Império Otomano, que trata a minissérie em seis episódios Ascensão: Império Otomano (Rise of Empires: Ottoman no original), também na grade da Netflix. A minissérie é um docudrama, misturando depoimentos de historiadores e o drama ficcional contando parte da história de Maomé II. Ela foi produzida e dirigida pelo diretor turco Emre Sahin, nascido em Istambul, de pais turcos e americanos. Sahin tem 18 filmes dirigidos e 53 produzidos, entre filmes e séries para TV. A maior parte deles é do gênero documentário. Entre seus filmes, destaca-se Takim: Mahalle Adkins!, de 2015, 40, de 2009 e o curta-metragem Canta, de 2005. A expansão do Império Otomano ocorreu entre os séculos XIV e XV na região da Anatólia, na Ásia Menor, a partir das constantes guerras contra o Império Bizantino. Ele foi um dos mais duradouros e poderosos da história da Humanidade, com início no século XI a partir do momento em que tribos nômades turcas se fixam na Anatólia. O Império, após a sua fixação e expansão, a partir de 1453, com a tomada de Constantinopla, vai entrar em declínio somente após a Primeira Guerra Mundial, no início da década de 1920. No intuito de compreender melhor esse momento da história, que marca a passagem da Idade Média para a Idade Moderna, a minissérie documental Ascensão: Império Otomano se fixa na batalha épica da tomada de Constantinopla entre o imperador romano Constantino XI e o sultão otomano Maomé II, filho do imperador otomano Murad II. A História conta que foram 23 exércitos de governantes anteriores que tentaram possuir as terras dos romanos, inclusive Ertugrul. Nenhum teve êxito. Constantinopla era uma cidade de defesas intransponíveis, com um fosso profundo, várias muralhas seguidas (quatro) extremamente reforçadas, e um comprimento total de 22 km. Elas foram construídas no século V pelo imperador Teodósio II e estavam entre as mais fortes do mundo. A minissérie narra a história deste embate, destacando ações e estratégias de combate de cada um dos lados, durante os 24 dias de um cerco implacável exercido pelos otomanos. O imperador Constantino era visto como um ser além do céu e da terra. Por outro lado, Maomé II, como um jovem imaturo, com apenas 21 anos de idade, ambicioso demais. Isso é visto quando ele chega em Adrianópolis, a capital do Império Otomano, para reivindicar o trono, sem saber se será nomeado como o novo sultão, após a morte de seu pai. Como as muralhas eram praticamente intransponíveis, quando chegou a sua vez, Mehmed II precisou desenvolver uma nova estratégia de combate. Mandou construir canhões (70 ao todo) de dimensões nunca vistas até então, com cerca de 10 metros de comprimento e grande diâmetro de boca. Com eles, o seu exército realizou um bombardeio sistemático das muralhas, dia e noite, durante os 24 dias de cerco. Mesmo não conseguindo destruí-las, conseguiu abrir buracos enormes na estrutura. Além disso, conseguiu dispor 70 navios armados, que foram colocados estrategicamente numa outra parte da muralha. Todos os navios foram transportados por terra numa única noite. Do outro lado, no exército romano, havia uma figura impressionante, um mercenário genovês, Giovanni Giustiniani Longo e seus poucos soldados, todos mercenários também, mas destemidos e guerreiros, e especialistas na defesa de muralhas. Por isso eram contratados a peso de ouro pelos governantes da ocasião. Graças a eles, os romanos conseguiram se segurar em Constantinopla por mais tempo do que os próprios otomanos esperavam.
Segundo os documentos de época, no fim das contas, a nova estratégia de guerra com os novos canhões foram decisivos no resultado final da batalha, com a vitória de Maomé II e seu exército. É importante destacar também a ação de outra força no exército otomano, os famosos e temíveis Janissarios. Esta era uma força fanática que protegia o sultão, formada por ex-escravos do mundo cristão que eram levados quando crianças, convertidos ao islamismo e treinados a vida inteira para serem o exército mais temido do sultão. Nessa batalha às portas de Constantinopla, uma coisa ficou muito clara. Cada lado deu o melhor de si para que a guerra perdurasse até quando fosse possível e necessário, ou até o esgotamento do inimigo. No fim das contas, a estratégia de Mehmed II com seus canhões e o seu exército de mais de 80 mil soldados sob o seu comando, o levou à vitória, mesmo sendo muito jovem. A sua vitória significou o fim de um império, o Bizantino, de uma era, Idade Média para a Idade Moderna, e a expansão do Império Otomano pelos próximos 300 anos. Mehmed II, muda o nome da cidade de Constantinopla para Istambul, que permanece até hoje. Transformou-se na capital e no centro do mundo à época. A filmagem da minissérie se deu em diversos locais de Istambul e além de Sahin, diretor da minissérie, contou com atores renomados turcos (não para nós, infelizmente) como Cem Yrgit Uzumoglu, Selim Bayraktar, Burkan Sokullu e Osman Sonant. Foi produzida por Jaeger Devem em parceria com a STX Entertainment e assessoria dos historiadores A. M. Celal Sengor e Emrah Safa Gurkan e outros estudiosos.
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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