Nelson Marques Cineclube Natal e ACCiRN – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte e-mail: [email protected] O roteiro da série é mais do que manjado: Em seu aniversário de 36 anos, Nádia Vulvokov (ótima interpretação de Natasha Lyonne, de American Pie e da série Orange is the new black), vive a experiência de morrer e acordar muitas e muitas vezes... Esse reviver repetido do mesmo dia já foi visto em muitos outros filmes: A Morte te Dá Parabéns (Happy death day, 2017, de Christopher Landon), Feitiço do Tempo, Groundhog day, 1993, de Harold Ramis), Antes que Eu Vá (Before I fall, 2017, de Ry Russo-Young), Antes que Termine o Dia (If only, 2004, de Gil Junger), No Limite do Amanhã (Edge of tomorrow, 2014, de Doug Liman)... A série é mais um acerto da Netflix para 2019. É uma comédia (drama?) existencial (se existir essa categoria, gênero, ou subgênero) de Amy Poehler, Leslye Headland e a própria Natasha Lyonne, que assinam também o roteiro e a direção da série. O que diferencia, então, a série? Exatamente o roteiro bem construído, em que Nadia passa da primeira reação de achar que está alucinando pelo uso continuado de drogas, que já aparece logo no início, na festa de seu aniversário (cocaína misturada com alguma outra coisa, feita por... traficantes israelenses!). Porém com a repetição contínua do evento, Nadia começa a se questionar que esse retorno repetitivo pode ter algum outro objetivo. É nesse insight de Nadia (dos roteiristas e dos diretores) que a série adquire uma originalidade interessante, se comparada com outros filmes de temática semelhante. Ou seja, se a cada dia se tenta consertar algo, mesmo que acabe morrendo em seguida, as questões permanecem sempre em evidência. Por mais que Nadia queira descobrir o que acontece, as respostas quase nunca vêm. O que vale, então, são as diversas relações estabelecidas, umas tristes, outras engraçadas, outras conflitantes e muitas turbulentas. É aí que a história se transforma numa história nova, original, sobre um tema já conhecido. A perspectiva de Nádia se amplia quando ela se depara com uma outra pessoa, Alan (papel de Charlie Barnett), que vive a mesma experiência. O passo seguinte, e aí a série cresce conceitualmente, é que a dupla passa a construir teorias e mais teorias sobre o que está acontecendo a eles. Com isso se evita o grande problema de filmes semelhantes, que a repetição canse e passe a chatear o espectador. A cada episódio, a trama muda um detalhe ou outro, o que leva a novas interações e perspectivas. Há uma mensagem implícita na história que vai sendo construída aos poucos, até a resolução final (que não direi qual é. Assista!). A série, em razão desse bom roteiro, de uma boa direção e da empatia dos personagens, principalmente a dupla central, Nadia e Alan, envolve a todos e por isso se transforma numa grande diversão. Mais ainda... é possível fazer uma maratona como se fosse apenas um filme um pouco mais longo, pois os episódios têm apenas cerca de 25-30 minutos cada um. Preste atenção na trilha sonora, pois ela cria uma atmosfera de repetição também, com temas musicais das décadas de 1970 e 1980.
No fim de tudo, aproveite e divirta-se e pense na série e na história como a própria essência das matrioskas russas, o brinquedo tradicional da Rússia que consiste em uma série de bonecas colocadas umas dentro das outras, da maior até a menor. Poderiam ser as várias personalidades de Nadia?
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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