Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Há pelo menos duas razões para você assistir a essa série inglesa que está na grade de programação da Netflix. A primeira, é pela originalidade, pelo fato de fugir dos padrões habituais de filmes policiais, com muita violência e ação contínua. Provavelmente, o gênero policial é um dos que mais fazem sucesso na TV (e acredito que fora dela também). Esta série, pelo contrário, se passa inteiramente dentro de uma sala de interrogatório nas dependências da polícia. Mostra, em cada um dos seus episódios, um embate lógico ao tentar extrair, por parte dos investigadores, informações de supostos criminosos, suspeitos de crimes, apenas com o raciocínio e a conversa, sem violência. Sem dúvida, isso foge longe de outras séries policiais como 24h, NCIS, CSI e congêneres. Nesse sentido a série, curta, são apenas 3 episódios com histórias totalmente independentes entre si (só a equipe de investigadores é mantida, e mesmo assim, se revezam nos diferentes episódios), é interessante, e pode-se imaginar quanto isso exige dos personagens para conseguirem manter o "pique" e atrair a atenção do espectador. Felizmente, pela competência de direção, roteiro, e atuações, conseguem faze-lo com muita habilidade. A segunda razão para que você assista a essa série é, novamente, pela criatividade. A série "Criminal" é um projeto que envolve quatro séries diferentes feitas ao mesmo tempo, em 2019, e realizadas em quatro "países" diferentes, Reino Unido, Espanha, França e Alemanha. Daí seus nomes particulares, Criminal: Reino Unido, Criminal: Espanha, Criminal: França e Criminal: Alemanha, respectivamente. Essa divisão enriquece as histórias de cada episódio ao trazer para a telinha e o espectador questões policiais mais pertinentes aos respectivos países. Faço alguns comentários iniciais sobre a série Criminal: Reino Unido (no original, Criminal: UK), iniciada em 2019, como todas as outras, mas que já está na sua segunda temporada (enquanto as outras três ainda não). No total são, até agora, 7 episódios, três da primeira temporada e quatro da segunda. Os episódios têm cerca de 43 minutos de duração (na primeira temporada e até 48' na segunda) e todos mostram um jogo de gato-e-rato que foca no intenso conflito entre investigadores e suspeitos de terem cometido um crime. Como comentei no início, o único cenário é a sala de interrogatório (comum a todos os episódios das outras séries). Em cada episódio há a participação mais importante de um dos investigadores que está de "plantão" e de um único suspeito sob investigação que, inclusive dá o nome ao episódio (Edgar, Stacey e Jay, na primeira temporada, e Júlia, Alex, Danielle e Sandeep, na segunda). O projeto é uma criação conjunta de George Kay e Jim Field Smith, que são os responsáveis também pelos roteiros da série do Reino Unido e de todos os outros "países" (que na verdade foram todas realizadas na Espanha). Na série do Reino Unido são os diretores também de todos os episódios. Isso já não acontece nas séries França, Alemanha e Espanha, pois em cada uma delas contam com a participação de diretores, roteiristas e elencos locais e tempos diferentes para cada episódio (39' na França, 40' na Espanha, e 59' na Alemanha). Isso tudo, além de manter coerência e cores locais para cada um dos diferentes países, mantém também a unidade do projeto. Como exemplos, na França, a direção dos 3 episódios ficou a cargo de Frédéric Mermont, junto com o George e o Jim Field. Os roteiros foram deles dois, mas também de Mathieu Missoffe, Antonin Martin-Hilbert e Frédéric Mermont. Na série Criminal: Germany, a direção dos 3 episódios ficou a cargo, além de Kay e Field Smith, de Oliver Hirchbiegel, enquanto nos roteiros houve a contribuição de Sebastian Heeg, Alejandro Hernández e Bernd Lange. Na série Criminal: Spain, a direção ficou a cargo de Jim Field e Mariano Barroso e os roteiros de Jim, Kay, Sebastien Hegg, Alejandro Hernández, Antonin Martin-Hilbert, Manuel Cuenca e Mathieu Missoffe. É interessante quanto essa série teve de colaborações variadas, como visto com os nomes de diretores e roteiristas. Mas contou também com atores e atrizes de cada país, com episódios falados na língua local. Além disso, todos os episódios da primeira temporada das quatro séries foram realizados num único local, os Estúdios Secuoya, na Ciudad de la Tele, em Madrid, por isso coloquei o nome dos países entre aspas. Por enquanto, só a segunda temporada de Criminal: UK foi realizada em outro estúdio, Sheppleton Studios, em Londres, sendo realmente inglesa. Como vimos, investigação criminal é um dos gêneros mais populares dentre as séries de TV. No entanto, nunca uma série focou tanto com o que ocorre nas salas de interrogatório como esse projeto da Netflix. Por mais que aparente ser repetitiva a série, no seu conjunto, surpreende por nos colocar a par de crimes totalmente distintos entre si, seja no lado de "dentro", ou de "fora" da sala de interrogatório. O modo como cada episódio flui é diferente também, trazendo muitas surpresas ao longo do desenvolvimento dos episódios.
Como o cenário é sempre o mesmo - a sala de interrogatório -, a atenção será sempre mantida pelas interpretações firmes dos investigadores(ras) e mais ainda dos "suspeitos", atrizes e atores. Como exemplos, o primeiro caso da parte Criminal: Reino Unido traz David Tennant ("Doctor Who") como suspeito de matar a enteada de 14 anos. No segundo, Hayley Atwell ("Agente Carter") é acusada de envenenar o cunhado. No terceiro e último episódio da primeira temporada, vemos a equipe de investigadores lutando contra o tempo para descobrir o paradeiro de um caminhão carregando ilegalmente refugiados. Já na segunda temporada temos Sophie Okonedo, Kit Harrington ("Game of Thrones"), Sharon Horgan e Kunal Nayyar ("The Big Bang Theory"). Em todos os episódios, que têm duração de cerca de 40 minutos, as pistas são reveladas através do interrogatório e a luta para conseguir a confissão/verdade vai quase até o fim de cada episódio. Tudo isso através de um belo jogo de gato-e-rato entre o suspeito e os investigadores. Em cada uma das séries, o elenco, de um lado e outro da parede espelhada da sala de interrogatório, é sempre bom. No fim das contas, são eles que carregam grandes responsabilidades nas costas, pois é de sua atuação que a(s) série(s) se sustenta(am). A série Criminal: Alemanha tem episódios maiores, cerca de 59 minutos. Também são três e conta com um elenco fixo de 5 investigadores e 10 atores e atrizes no total. Os episódios também são nominados pelo nome do suspeito, Claudia (Nina Hoss), Jochen (Peter Kurth) e Yilmaz (Deniz Arora). Na série que se passa na Espanha, também com, 3 episódios, até agora, estão como "suspeitos" Inma Cuesta, Eduard Fernández e Carmen Macho, nos episódios Carmen, Carmelo e Izabel, respectivamente. Completando a quadra de episódios em cada um dos diferentes países, na série Criminal: França, os episódios, com cerca de 39 minutos, são Jérôme, Emilie e Caroline e os "suspeitos", Jérémie Renier, Sara Giraudeau e Nathalie Baye, respectivamente. O projeto Criminal, por mais que aparente ser repetitivo, cada uma das séries surpreende por nos colocar a par de crimes totalmente distintos entre si, pelo modo como cada episódio flui, pelas interpretações, algumas vezes surpreendentes, de seu elenco muito competente, e pelos roteiros e direções inovadores e competentes. Vale a pena fazer algumas pequenas maratonas, já que cada uma das séries é curtinha.
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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