Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] “Com certeza um filme que fala de memória, verdade e justiça, é um filme que traz uma mensagem importante. Quem dera os filmes pudessem mudar o mundo. Seria lindo. Mas, sim, nos faz perguntar como não cometer novamente os erros do passado” (Alejandra Flechner, como Silvia, a esposa de Strassera, em uma de suas falas quando da passagem dos atores pelo Brasil). Esta é a história verídica dos promotores públicos argentinos Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo que ousaram investigar, processar e condenar a ditadura militar mais sangrenta da Argentina em 1985. O filme tem a cinematografia de Javier Juliá, figurinos de Monica Toschi, edição de Andrés P. Estrada e interpretações magistrais de Ricardo Darin e Peter Lanzani. “Argentina, 1985” ganhou o Prêmio da Audiência no Festival Internacional de Cinema de San Sebastian, sendo exibido em outros festivais de cinema prestigiados em todo o mundo, inclusive os de Veneza, Londres e Rio de Janeiro. Ganhou o Prêmio e ganhou também o Golden Globe. Está indicado como um dos Melhores Filmes da próxima premiação do Oscar em março de 2023. No site Rotten Tomatoes, o longa argentino (realizado em parceria com os Estados Unidos), que foi selecionado para representar o país no Oscar 2023 na categoria de Melhor Filme Internacional, aparece com impressionantes 97% no “Tomatometer”, baseada em reviews dos críticos, e 98% de aprovação no “Audience Score”, nota destinada às impressões do público. A exibição, no Brasil, ocorreu e ocorre apenas no canal de streaming da Amazon Vídeo e afasta o grande público do espaço correto de exibição nos cinemas. Esse seria o espaço mais do que correto de um filme tão atual e importante. Mais ainda num país como o nosso que ficou apenas na investigação dos desmandos da ditadura de 1964, mas deixou de lado os processos judiciais e a condenação correspondente. O resultado desse erro acabou desaguando nos acontecimentos trágicos do dia 8 de janeiro de 2023 em Brasília, quase 60 anos depois. O filme Argentina, 1985 é inspirado na história real dos promotores Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo, uma dupla que ousou investigar e processar a sangrenta ditadura militar argentina, em 1985. Strassera e Ocampo reuniram uma equipe jurídica jovem e cheia de heróis improváveis para enfrentar a influência dos militares na época, para uma batalha no estilo de Davi contra Golias. O filme de longa metragem foi filmado nas locações históricas reais, sob a direção de Santiago Mitre, que também assinou o roteiro ao lado de Mariano Llinás, como vimos. Ricardo Darín e Peter Lanzani protagonizam o filme, nos papéis dos promotores Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo, respectivamente. Além da dupla, há outros nomes em seu elenco como os de Alejandra Flechner, Carlos Portaluppi, Norman Briski, Héctor Díaz, Alejo García Pintos, Claudio Da Passano, Gina Mastronicola, Walter Jakob e Laura Paredes. O filme conta uma história real. Em 1985, terminou o julgamento iniciado em 1983 que declarou culpados 5 dos 9 acusados pelos crimes da Ditadura na Argentina. Conhecido como “Juicio a las Juntas”, esse julgamento tornou-se histórico e muito importante por condenar militares que torturaram e mataram milhares de pessoas. O julgamento foi encabeçado pelo advogado Julio Strassera, tendo Luis Moreno Ocampo como promotor assistente. O filme foca, como vímos, no promotor Strassera sendo convocado para tal julgamento e em todos seus esforços em montar uma equipe para juntar informações, a fim de ter provas suficientes para a acusação. Como a democracia havia sido recuperada há pouco tempo, em 1982, o medo ainda imperava na sociedade argentina. Os militares ainda tinham força. E as pessoas ainda sofriam com tudo o que tinha acontecido. Por conta disso, a equipe reunida por Strassera foi toda de pessoas jovens, que tinham gana para ir atrás das informações e recolher depoimentos de pessoas que sofreram torturas e perderam pessoas. Não á fácil ver e ouvir os depoimentos na tela, claro. Ainda mais sabendo que tudo realmente aconteceu. Mas é importante para novas gerações, que não viveram o terror da Ditadura e a veem somente como uma parte da História, como algo longe delas, entenderem a dura realidade do que aconteceu. O filme manteve-se fiel a todos os aspectos dos anos 80. Do figurino aos enquadramentos, o espectador se sente realmente em 1985. A excelência da fotografia e da iluminação se fazem mais presentes nas cenas onde há relatos sobre as torturas, seja na Corte os nas salinhas de depoimentos para a equipe de Strassera. A iluminação mais fria leva quem está assistindo a sentir-se tão desconfortável quanto quem está recebendo os depoimentos. Porque é impossível sentir-se tão desconfortável quanto quem foi torturado. Quando Almudena González, intérprete de Judith, chora, sob a luz azulada, após a leitura de um depoimento, é impossível não chorar junto.
Apesar do tema sensível, o filme não foge, talvez para equilibrar um pouco, de algumas cenas de humor. Elas não parecem estranhas no contexto geral e cumprem perfeitamente seu papel, fazendo rir de verdade e permitindo que, quem assiste, possa dar um respiro entre tanto terror. E, finalmente, é preciso falar de Santiago Armas Estevarena, intérprete de Javier. O jovem já demonstra uma ótima atuação como o filho curioso e politizado de Strassera. O filme é a grande aposta de indicação ao Oscar 2023 da Argentina. Além de ter uma temática muito relevante, é, também, uma grande produção.
0 Comments
Leave a Reply. |
AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
Categorias |