Nelson Marques Cineclube Natal e ACCiRN – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte e-mail: [email protected] Mais uma vez Tim Burton surpreende fãs e críticos. O mundo bizarro, sombrio e estranho de Burton, iniciado em 1985 com As Grandes Aventuras de Pee-Wee, com o comediante Paul Reubens, continuado com o excelente Os Fantasmas se Divertem, de 1988, continua em 2019 com o remake (se é que pode se chamar assim) de Dumbo, desta vez em live-action, que teve a sua estreia no Brasil agora no finzinho de março. Dumbo 2019, é um filme de fantasia e aventura, com uma hora e 52 minutos de duração. Ele faz parte do ambicioso projeto da Disney de produzir remakes em live-action dos clássicos em animação do estúdio. Os êxitos comerciais e de crítica de Alice no País das Maravilhas, de 2010, Maléfica, de 2014, Cinderela, de 2015, Mowgli, de 2016, e A Bela e a Fera, em 2017, mostraram o acerto da ideia e do projeto. O filme Dumbo, sob a direção de Tim Burton, é realizado 78 anos após a animação original, realizada em 1941. Esse foi o quarto longa-metragem de animação dos Estúdios Disney e faz parte de uma lista de Clássicos da empresa que incluem, ainda, Branca de Neve e os Sete Anões (1937), Pinóquio (1940), Fantasia (1940) e Bambi (1942). Dumbo 2019, tanto quanto o original em animação, é baseado no livro escrito por Helen Aberson, e ilustrado por Harold Pearl. Na versão de 1941, que era colorida também, mas com apenas 64 minutos de duração, a direção foi de Ben Sharpsteen e o roteiro adaptado foi escrito por Joe Grant e Dick Huemer. A música foi de Frank Churchill e Oliver Wallace. No Dumbo deste ano, o roteiro é de Ehren Kruger e a música foi composta por Danny Elfman, autor de músicas e álbuns de sucesso em Hollywood, como Batman, Beetlejuice, Spiderman, Alice in Wonderland. A produção geral é da Walt Disney Pictures e da Tim Burton Productions. Tim Burton, com um elenco de figuras algumas interessantes e outras importantes, como Eva Green, Colin Farrell, Danny DeVito, Michael Keaton, Joseph Gatt, Sharon Rooney, Finley Hobbins e Alan Arkin, conta, à sua maneira, uma história singela e tocante. Holt Carrier, uma ex-estrela de circo retorna da guerra e encontra seu mundo virado de cabeça para baixo. O circo em que trabalhava está passando por grandes dificuldades e ele fica encarregado de cuidar de um elefante recém-nascido, cujas orelhas gigantes fazem dele motivo de risos e piadas. No entanto, os filhos de Holt descobrem que o pequeno elefante de orelhas enormes é capaz de uma façanha ímpar: voar! Com essa história simples, Burton constrói o seu mundo e o mundo do circo. Assim como havia feito com A Fantástica Fábrica de Chocolate, em 2005, Alice no País das Maravilhas, em 2010, Reino Escondido, em 2013, e O Lar das Crianças Peculiares, em 2016. As impressões iniciais dos críticos chamam a atenção pela semelhança. Aparentemente é uma das melhores adaptações da Disney no projeto de retomada dos clássicos em live-action. Destacam-se a qualidade da animação, com menção especial para a aparência do Dumbo, que se revela muito simpática e tocante. Há também um entrosamento muito bom entre o elenco humano e a vida de "verdadeiro" circo (ou como ele deveria ser). Em termos de atuação, Danny DeVito mais uma vez rouba a cena com a sua característica de "gordinho" simpático (nada de pejorativo ou crítico nisso). Faz uma figura bonachona, convincente, terna e doce. Chama a atenção também o papel importante das crianças irmãs, Milly e Joe Carrier (papéis de Nico Parker e Finley Hobbins). São elas que fazem a ligação importante entre humanos e animais, na figura de Dumbo. Dumbo, por seu lado, é um ser único: tímido, engraçado, desajeitado, amoroso, ou seja, um personagem de personalidade própria e tocante (além de uma aparência "real" impressionante). Com a estréia do filme no Brasil no final de março, as críticas que foram feitas, na sua maioria, são também semelhantes entre si: apuro técnico insofismável, uma figura "real" impressionante de Dumbo mas, infelizmente, num papel quase de coadjuvante. São poucos os seus momentos nas quase duas horas de duração do filme.
A fórmula encontrada por Walt Disney, desde o início de sua carreira – juntar crianças e animais – mais uma vez se revela acertada. Mesmo que as crianças que pareciam tão naturais no trailer do filme não confirmem essa impressão inicial: elas são apáticas e frias, na atuação tão mecânica quanto a de praticamente todos os humanos adultos. Em termos de atuação, efetivamente, Danny DeVito é o melhor personagem: natural, alegre e triste na medida do necessário. Por outro lado, Colin Farrell, como o pai das crianças, parece ter incorporado o seu braço mecânico na própria atuação. Também Michael Keaton, num excesso de histrionismo, não convence ninguém como o vilão da história. Até mesmo Eva Green, como vilã inicial, não convence, no processo de transformação no caminho de uma possível e provável mãe. Enfim, Dumbo 2019, com méritos técnicos incontestáveis, é um filme irregular, que ora emociona, ora cansa, faltando sem dúvida, o encantamento lúdico do original. A "viagem" de Burton vai por outros caminhos que não a fantasia. O filme soa burocrático em demasia e sem a inspiração que merecia.
0 Comments
Leave a Reply. |
AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
Categorias |