Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Filme épico e de drama em coprodução EUA e China, de 2005, direção de Robert Marshall, produção de Lucy Fisher, Douglas Wick e Steven Spielberg, roteiro de Robin Swicord, baseado no livro de mesmo nome de Arthur Golden, música de John Williams, com Zhang Ziyi (Chiyo Sakamoto/Sayuri), Ken Watanabe (presidente Iwamura Ken), Gong Li (Hatsumomo) e Michelle Yeoh (Mameha). A produção ocorreu no sul e no norte da Califórnia e em vários locais de Quioto, incluindo o templo Kiyomizu-dera e o santuário Fushimi Inara-taisha. Memórias de uma Gueixa conta a história de uma jovem garota, Chiyo Sakamoto, que é vendida por sua família a uma okiya, uma casa de gueixas. Sua nova família irá enviá-la para a escola para se tornar uma gueixa. Chiyo, que passaria a ser conhecida por Sayuri — o seu nome de gueixa — recebe a sua formação de uma das mais conceituadas gueixas do Japão, Mameha, rival de uma outra (Hatsumomo) que vive na sua casa (okyia) e que, desde a sua chegada, tem dificultado a vida. Este filme é principalmente sobre Chiyo mais velha e sua luta como uma gueixa para encontrar o amor, sendo que neste processo termina por fazer um monte de inimigos. O filme foi indicado e ganhou inúmeros prêmios, incluindo indicações para seis Oscar , ganhando três: Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino. Este drama-romance provocou muitas críticas, principalmente da mídia japonesa, à época de sua estréia. Tanto por trabalhar com a cultura japonesa, quanto por evocar questões muito sensíveis, herança das questões étnicas e políticas pós-segunda guerra. Uma questão muito sensível foi a dança apresentada por Sayuri. A cena em que Sayuri tem sua dança solo é linda, um deleite visual, mas nada fiel ao tipo de dança da época que o filme retrata. Ela usa um figurino Kabuki e faz uma dança Butoh, ambos contemporâneos e que só surgiram na década de 70; além disso, ela usa sandálias muito altas que são típicas de Oirans (prostitutas). Para os japoneses, essa mistura toda só fez descaracterizar o filme e fazer a personagem parecer um fantasma. Mesmo que o roteirista Robin Swicord tenha feito um esforço no sentido de diferenciar as gueixas das prostitutas comuns, o que acaba criando um vácuo narrativo na história, já que as experiências daquelas mulheres assumem uma ingenuidade incompatível com o restante da trama. Se ignorarmos essa rigidez das críticas japonesa (lembrem-se que o filme é uma coprodução EUA/China) o filme se torna um espetáculo. A fotografia é maravilhosa e combinada com a trilha sonora de John Williams tudo fica mágico e encantador. Os cenários são maravilhosos, principalmente ao mostrar os jardins. As flores de cerejeira pareciam combinar perfeitamente com os traços de Zhang Ziyi, criando uma harmonia entre a atriz e o cenário. Além dela as atuações de Gong Li, como sempre espetacular, de Youki Kudoh (Pumpkin) num papel difícil de adolescente, quando você já tem 35 anos, de Kaori Momoi no papel da gueixa-mãe e a pequena Suzuka Ohgo, que conseguiu roubar a cena em seu primeiro trabalho para o cinema ocidental. Apesar de muitos equívocos narrativos, Memórias de uma Gueixa tem, a seu favor, o brilhantismo técnico de uma equipe experiente de artistas, a começar pela belíssima trilha sonora de John Williams, que busca inspiração em instrumentos e arranjos orientais ao compor a música que, por si só, consegue conferir certo peso dramático à trajetória de Sayuri. Da mesma forma, o montador Pietro Scalia cria transições elegantes (como a neve que se converte em fumaça) que conferem uma fluidez que o filme, de outra maneira, não possuiria. A fabulosa direção de arte vai além da simples recriação de época, investindo em cenários que expressam a realidade e os sentimentos dos personagens, como as estreitas vielas que mal permitem a passagem dos riquixás ou as colunas que, próximas umas das outras, acabam dando a impressão de formarem um longo corredor que sufoca a corrida da protagonista. Além disso, a fotografia enriquece ainda mais a beleza dos sets, atribuindo uma aura de mistério a estes, como no momento em que Sayuri sobe uma escadaria ladeada por paredes de bambu que ganham um brilho mágico em função da bela composição em contraluz de Dion Beebe. Portanto premiações no Oscar 2006 mais do que merecidas: Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Figurino. A injustiça de não ganhar Melhor Trilha Sonora no Oscar foi compensado com a premiação no BAFTA (no Reino Unido) e no Globo de Ouro (EUA).
1 Comment
Rui Lopes
6/7/2022 23:40:02
A oriental e a ocidental, duas cultura que se contrapõem em seus hábitos e costumes, mas que têm em comum o estranho experienciar da vida naquilo em que se herda sem opção de escolha. Uma expressão d'Arte cinematográfica onde a fotografia, a música e a direção se alinham harmoniosamente, numa estética que nos surpreende pela narrativa!...
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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