Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Três Dias que Mudaram Tudo, é uma dramatização do desastre nuclear da Usina Nuclear de Fukushima Daiichi, em Okuma, no Japão, que ocorreu em 2011. Está se destacando pelo seu nível de realismo e produção ao contar a história real do acidente nuclear na região japonesa no início da década de 2010, em março de 2011, como consequência do terremoto e tsunami de Tōhoku, que continua sendo o terremoto mais poderoso já registrado no Japão e que ocorreu naquela época e naquela região. A série de oito episódios detalha os eventos do incidente ao longo de um período de sete dias, contando a história a partir da perspectiva de várias pessoas envolvidas, incluindo funcionários do governo e empregados da usina. Após o maremoto de magnitude 8,7, que desencadeou o tsunami, ondas de até 14 metros de altura atingiram a costa do Japão. Com toda sua força, elas alcançaram a usina nuclear e danificaram geradores a diesel de emergência, o que resultou em perda de energia na usina. Devido a essa perda, as bombas de resfriamento do reator também pararam de funcionar. Sem o resfriamento crucial do núcleo do reator, ocorreu o derretimento de três dos seis reatores nucleares, três fusões nucleares, três explosões de hidrogênio e a liberação de contaminação radioativa em três unidades diferentes entre os dias 12 e 15 de março. O desastre nuclear foi o mais grave desde Chernobyl em 1986 e se juntou a ele como o único outro acidente a receber a classificação Nível Sete na Escala Internacional de Eventos Nucleares (INES). A radiação resultante do desastre forçou o governo a declarar uma zona de evacuação ainda maior ao redor da usina, totalizando um raio de 20 quilômetros. Cerca de 110.000 residentes tiveram que ser evacuados das comunidades próximas à usina. Nas semanas seguintes ao desastre, um esforço em grupo maciço foi feito para restaurar a remoção de calor dos reatores e lidar com lagoas de combustível superaquecidas. Isso foi feito por centenas de funcionários da Tokyo Electric Power Company (TEPCO), bem como por empreiteiros, com apoio de bombeiros e militares. Até hoje existe uma controvérsia muito grande sobre o desastre, por conta da grande quantidade de água contaminada com isótopos radioativos que fora liberada no Oceano Pacífico durante e após o desastre. Um plano foi implementado desde então para limpeza intensiva contínua, com esforços para descontaminação das áreas afetadas e o descomissionamento da usina, o que levará de 30 a 40 anos a partir do desastre, conforme estimado pela própria administração da usina. A série teve criação de Jun Masumoto e direção de Masaki Nishiura e Hideo Nakata. O roteiro é de Ryusho Kadota, baseado no livro On the Brink: The Inside Story of Fukushima Daiichi, e Jun Masumoto. No elenco, Kôji Yakusho, como Masao Yoshida (que foi uma pessoa real, gerente da usina), Yutaka Takeenouchi (como Maekawa, supervisor de turno), Fumiyo Kohinata (como o primeiro ministro Azuma) e muitos outros.
Para quem gosta de documentários que aconteceram na vida real há, na mesma Netflix, outra minissérie documental de quatro episódios, Reação Nuclear (Meltdown: Three Mile Island). Este mostra as pessoas que viram de perto o acidente na usina nuclear Three Mile Island, na Pensilvânia, EUA e explicam os eventos, as controvérsias e as consequências, do que aconteceu no dia 28 de março de 1979 e que duram até hoje. Nesse dia houve uma fusão parcial, havendo vazamento de radioatividade para a atmosfera. O acidente nuclear nesta central era considerado o mais grave, até ser superado pela ocorrência em Chernobil e Fukushima. Mesmo com todos esses acontecimentos o início do programa nuclear de geração de energia no Brasil sempre teve nuvens muito nebulosas e a discussão sobre isso permanece até hoje. A impressão dominante é a de que embarcamos num barco furado desde o princípio, construindo uma usina nuclear numa falha geológica em Angra dos Reis. Nem bem instalado um novo governo agora e se alvoroçam os defensores da continuidade da construção de Angra III, iniciada em 1984, com grandes interesses implicados, nacionais e internacionais, civis e militares, e os argumentos de sempre sobre o nuclear e o aquecimento climático. Os que se opõem a Angra III lembram as acusações de corrupção, que envolveram até um ex-presidente da República, e comparam o nuclear com alternativas em pleno desenvolvimento, dentro e fora do Brasil, com menores investimentos e energia elétrica mais barata para o usuário. No meio disso tudo surge até um vazamento de radioatividade em Angra II, mantido em segredo, mas que “acordou” a Prefeitura de Angra dos Reis. Esta embargou então a obra, por falta de pagamento da “compensação socioambiental” pela aceitação pelos moradores da cidade – que, aliás, nunca foram consultados – da instalação de algo tão perigoso no seu município. Mas no noticiário nada se fala de segurança, o maior problema da opção nuclear na produção de eletricidade, que ganhou mais atenção em 1979, quando ocorreu em Three Mile Island, nos Estados Unidos, um acidente de tipo “severo”, com o derretimento do combustível da usina. Considerado impossível, até então, era do mais alto nível de gravidade na escala da Agencia Internacional de Energia Atômica (AIEA). Ele provocou a parada imediata de todos os reatores norte-americanos e do resto do mundo, para se realizar estudos aprofundados de como evitar que se repetisse. Frente a isso tudo, a pergunta que os especialistas se fazem é de quanto Angra III já está obsoleta, e porquê o programa nuclear brasileiro continua “funcionando”? Como exemplo do que está acontecendo em outros países, depois do terceiro acidente desse mesmo tipo ocorrido em Fukushima, no Japão, como vimos acima e que foi a gota d’água que mudou posicionamentos: A Alemanha decidiu fechar todos os seus reatores (o ultimo há bem pouco tempo), outros governos europeus decidiram imitá-la quando possível, e os austríacos e italianos proibiram, em plebiscito, a construção de usinas nucleares em seus países.
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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