Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Ozark é uma das produções mais incríveis dos últimos anos, competindo em termos de qualidade e da temática amoral com a sempre referenciada Breaking Bad (2008-2013, 5 temporadas, 62 episódios, criação de Vince Gilligan), mas com uma pitada de The Sopranos. (1999-2007, 6 temporadas, 86 episódios, criação de David Chase). A série renova o gênero extrapolando-o para uma construção minuciosa de atmosfera, onde a fotografia, roteiro, direção e trilha sonora trabalham juntos para criar o clima ideal de mistério – que é percebido de longe desde o início. Ozark é uma série de televisão norte-americana de drama e suspense criada por Bill Dubuque e Mark Williams, produzida pela Media Rights Capital, com Jason Bateman (Marty Byrde), Laura Linney (Wendy Byrde). Conta atualmente com 4 temporadas, iniciada em 2017, e 44 episódios, tendo sofrido uma interrupção em 2019 e 2021. A 4ª. e última temporada começou a ser exibida na Netflix em 2022. As atuações são fantásticas, o roteiro muito bem construído e a fotografia em tons sempre azulados torna a trama e o seu desenrolar ao longo das 3 temporadas “fria”, representando de forma adequada os sentimentos e objetivos de seus principais personagens. A série acompanha o trágico destino criminoso da família Byrde, obrigada a lavar dinheiro para um cartel mexicano após a descoberta de que o sócio de Marty Byrde (Jason Bateman) estava desviando milhares de dólares. Acuados pelos traficantes, a família não vê alternativa a não ser mudar-se para a região pantanosa de Ozarks e trabalhar lá para pagar a dívida deixada pelo ex-sócio. Além de lidar com o cartel, Marty e Wendy (Laura Linney) precisam conciliar seus negócios com a própria família e com os… “negociantes” locais. Em um dos melhores pilotos que já vi nos últimos tempos, a série nos apresenta seu protagonista, o anti-herói Marty Byrde (Jason Bateman), infeliz consultor financeiro de Chicago que, após ser acusado de desviar 8 milhões de dólares de um cartel mexicano e ter sua família ameaçada de morte (que , efetivamente foi realizada... mas por seu sócio) se vê na obrigação de se mudar para os arredores do lago de Ozark (daí o nome da série), um local afastado onde pode realizar lavagem de dinheiro sem a preocupação de ser pego tão facilmente. Com esse princípio em mente, ele passa a viver em prol da dívida que possui com seu chefe, Del (Esai Morales), que a qualquer momento pode desistir de Marty e tirar sua vida. Esse contexto se apresenta como a história principal, que claramente é a busca do protagonista em sustentar e proteger sua família que é composta por sua esposa Wendy (Laura Linney), sua filha de 15 anos, Charlotte (Sofia Hublitz), e seu filho de 13 anos chamado Jonah (Skylar Gaertner). O arco familiar dá abertura para o desenvolvimento de outras narrativas secundárias, o que caracteriza Ozark como uma série, e não um filme. Outras famílias e personagens assumem sua importância na produção a partir do segundo episódio, em que seus conflitos se correlacionam com Marty e sua família, que tentam a qualquer custo aprender a lidar com o FBI, uma família de ladrões, traficantes, um ingênuo agente imobiliário, um pastor aflito e muita confusão. Um dos grandes trunfos da série é a caracterização dos personagens. Além dos principais (Marty e a explosiva Wendy), o roteiro dedica um pequeno tempo para contar um pouco mais sobre outros personagens. Jonah é um jovem estranho e curioso. Charlotte uma garota que só quer ser normal e se divertir. As atuações são todas boas, mas quem se destaca nesse meio é o casal Jason Bateman e Laura Linney, que cumprem com seus papéis com esmero e não deixam a desejar. Ozark é uma daquelas séries com marcas registradas. Ou seja, do mesmo jeito que pensar em metanfetamina te lembra Breaking Bad ou pensar em mulheres de vermelho te lembra The Handmaid’s Tale, pensar em dinheiro, lentidão e na cor azul te fará lembrar de Ozark. Tudo acontece devido ao dinheiro, o qual adquire um simbolismo deprimente e problemático durante a narrativa. Chega o momento em que altas quantias no bolso soam como um problema, e não como uma solução. Além disso, reflexões pesadas são feitas em cima do significado do dinheiro dentro da sociedade. E o que não falta aqui são simbologias muito bem trabalhadas ora pelos diálogos, ora pelos enquadramentos estratégicos. Já a lentidão está presente nos roteiros de cada temporada. São 10 episódios por temporada, das 3 que estão na grade, cada um com 1 hora de duração. A trama é lenta, e os acontecimentos grandes demoram a acontecer, mas o foco aqui é a paciência e a imersão do telespectador. Falamos no início sobre a tonalidade azul presente na fotografia. É de se perguntar, se foi proposital. A resposta é simples, é! O azul está presente na fotografia. Todos os quadros possuem a cor azul explicitada e inserida por um belo filtro na tela, que deixa tudo com um aspecto frio, melancólico, silencioso, solitário… É como se não existisse calor ou alívio dentro daquela situação. Além disso, a fotografia como um todo usa a cor principal para deixar paisagens lindas ainda mais impressionantes. Por fim, a terceira temporada é uma perfeita obra-prima. Não possui defeitos e é uma das melhores coisas que a televisão já viu em décadas! Mas a história tem uma boa continuidade com a 4ª. temporada que está disponível no canal de streaming.
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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