Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Este “velho” e brilhante documentário de apenas 9 minutos realizado em 1977 por Charles Eames (1907-1978) e sua mulher Ray Eames (1912-1988) é impressionante por pelo menos dois motivos. O primeiro, pela brilhante ideia e pela sua capacidade de síntese de usar saltos de 10 segundos para cada mudança da potência de 10 para dar um mergulho, a partir de uma cena bucólica de um piquenique de um casal de namorados num campo próximo ao Lago Michigan, próximo ao Soldier Field, em Chicago, na superfície da Terra, para a imensidão do espaço e no caminho inverso para as profundezas do corpo humano. O segundo, pela permanência dessa ideia e pela própria técnica de realização que permite que esse pequeno documentário seja apreciado com a mesma surpresa e rigor científico após mais de 50 anos depois (a ideia do filme começou a ser desenvolvida pelos dois em 1963). O documentário Powers of Ten trabalha com a grandeza relativa das coisas a partir das pesquisas que o casal Charles e Ray Eames faziam e quiseram pôr lado a lado as concretudes presentes no universo. O resultado disso foi Potências de 10, um dos mais fascinantes curta-metragens já produzidos. Isso a partir de um teste inicial em 1963, uma versão intermediária em 1968 e o trabalho final em 1977. A câmera põe em foco um tranquilo piquenique em Chicago, onde um casal está sobre a grama ensolarada. É a partir deles que se inicia uma viagem aérea, espacial, galáctica, celular, molecular e atômica onde o trabalho de medição das grandezas relativas acaba por nos fazer encontrar conexões íntimas, quase que orquestradas, entre cada peça visível ou invisível do nosso redor e do nosso interior. Os filmes, em qualquer de suas versões, retratam a pesquisa de acordo com um universo de magnitude (uma escala logarítmica) de base 10 que se expande até os fins do universo depois até dentro de um único átomo. As maçãs, os átomos, os planetas, as árvores, os anéis de Saturno, os poros, os continentes, as nuvens... têm seu perfeito encaixe métrico explorado em escalas que vão de 1025 a 10-18: o tamanho do universo conhecido e o tamanho da menor partícula subatômica conhecida, pelos dados da época. O curta, escrito e dirigido pelo casal Charles e Ray, ambos designers e norte-americanos, teve distribuição feita pela IBM e reflete, em suas passagens, o fascínio e otimismo que os avanços tecnológicos e as ciências exatas exerceram sobre as pessoas naqueles anos das décadas de 1960 e 1970. Talvez isso nos permita observar o filme com um fascínio especial; é deixar de lado, por menos de nove minutos, a certa desilusão que persegue nossos dias de hoje. O documentário foi dirigido por Charles e Ray Eames baseado no livro do educador holandês Kees Booke, Cosmic View. Foi narrado na versão experimental de 1968 por Judith Bronowski e por Philip Morrison na versão definitiva de 1977. A música que acompanha a narração é de Elmer Bernstein. A distribuição foi da IBM e da Pyramid Films. O filme pode ser visto hoje em vários canais de streaming e no Youtube. A primeira versão do filme, Um esboço para uma proposta de filme com os poderes de um filme e o tamanho relativo das coisas no universo, foi um compromisso e foi concluído em 1968; o segundo filme, Powers of Ten: A Film Dealing with the Relative Size of Things in the Universe and the Effect of Adding Another Zero, foi concluído em 1977. Ambos os filmes, e um livro baseado no segundo filme, seguem a forma do original de Boeke, adicionando cor aos desenhos em preto e branco empregados por Boeke em seu trabalho seminal. O filme de 1977 tem uma série de mudanças em relação ao original, incluindo o movimento para um lado e outro, ser colorido, movendo o local de partida de Miami para Chicago, removendo a dimensão relativística (tempo), introduzindo duas potências de dez adicionais em cada extremo, uma mudança no narrador de Judith Bronowski para Philip Morrison e gráficos muito melhorados. Em 1998, Powers of Ten, a versão de 1977, foi selecionado para preservação no National Film Registry dos Estados Unidos pela Biblioteca do Congresso como sendo "culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo”. Há também um filme do National Film Board of Canada, de 1968, intitulado Cosmic Zoom, que cobre o mesmo assunto usando animação. É sem palavras, usando música acelerada durante as viagens de volta ao tamanho normal. A versão de 1977 começa com uma visão aérea de um homem e uma mulher fazendo um piquenique em um parque à beira do lago Michigan, em Chicago, numa imagem de 1 metro quadrado, em um cobertor cercado por comida e livros que trouxeram com eles, um deles The Voices of Time , de J.T. Fraser. O homem (interpretado pelo designer suíço Paul Bruhwiler) dorme, enquanto a mulher (interpretada pela funcionária da Eames Etsu Grafias) começa a ler um dos livros. O ponto de vista dos autores, acompanhado por uma narração expositiva de Philip Morrison, vai lentamente para uma visão de 10 metros de largura (ou 101 metros em notação científica). O zoom-out continua (a uma taxa de uma potência de dez a cada 10 segundos), para uma visão de 100 metros (102 metros) (onde podem ser vistos o Burnham Park, perto de Soldier Field, 1 quilômetro (103 metros) (onde vemos a totalidade da cidade de Chicago), e assim por diante, aumentando a perspectiva e continuando a diminuir o zoom para um campo de visão de 1024 metros, ou um campo de visão de 100 milhões de anos-luz de diâmetro. A câmera para, então, e volta para trás a uma taxa de potência de dez a cada 2 segundos, chegando à superfície da mão do homem e, então, volta à sua taxa original de potências de dez, 10-1 (10 centímetros), e assim por diante, revelando uma célula da pele e ampliando-a – até que a câmera chegue a quarks em um próton de um átomo de carbono a 10-16 metros. 6 momentos importantes neste vídeo: De 02:11 A Lua De 02:23 A Terra De 03:49 A Galáxia Via Láctea De 04:22 1 bilhão de anos-luz De 07:14 Numa escala atômica De 07:49 O espaço interior Há outros filmes realizados pelos Eames. Realizaram mais de 100 filmes, iniciando em 1950 (Traveling Boy), todos curta-metragens, mesclando ficção, experimentais e documentários, sendo o último filme de 1978 (Art Game). Outros destaques são: Do-nothing Machine, Where Did You Go? Out. What Did You Do? Nothing (1960), 2n: A Story of the Power of Numbers (1961), A Rough Sketch for a Proposed Film Dealing with the Powers of Ten and the Relative Size of Things in the Universe (1968), The Lick Observatory (1968), Decorator Crab (1969), Kepler's Laws (1974), Art Game (1978), Cézanne (1978). Quanto aos livros a que nos referimos, encontráveis em qualquer bom livreiro, são:
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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