Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Vincent Van Gogh (1853-1890) parece ter entrado na moda nos últimos tempos. Dois filmes, dramas biográficos sobre os últimos anos de vida de Vincent Van Gogh estão no Prime Video. Um deles, realizado por Julian Schnabel, em 2018 e o outro realizado em 2017 por Dorota Kobiela e Hugh Welchman, este na forma de animação, muito interessante por sinal. Ao mesmo tempo, percorrendo o Brasil, São Paulo, Rio de Janeiro e agora em Recife, há uma exposição imersiva de altíssima qualidade sobre Van Gogh (está no Shopping Rio Mar). Van Gogh, considerado uma das figuras mais famosas e influentes da história da arte ocidental, criou mais de dois mil trabalhos ao longo de pouquíssimo tempo, sendo que 860 pinturas a óleo foram, em sua maioria, concluídas nos seus últimos dois anos de vida! As suas obras incluem paisagens, naturezas-mortas, retratos e autorretratos, caracterizados por cores dramáticas e vibrantes, além de pinceladas inquestionavelmente expressivas. Antes de se dedicar à pintura, o holandês Vincent Van Gogh teve uma breve carreira como pastor evangelista. Em Paris, para onde se mudou em 1886, cruzou com artistas que tiveram uma enorme influência sobre si, entre eles Monet, Pissarro, Degas e Gauguin. Dois anos mais tarde, partiu para Arles, Sul da França, onde pintou algumas das suas obras mais importantes, marcadas pela solidão e desordem da sua vida. Afundado na depressão, o pintor acabou por morrer a 29 de Julho de 1890, como consequência de um tiro que atingiu o seu peito, dado por ele mesmo, ou por terceiros, até hoje permanecendo a dúvida. Vendeu um único quadro em toda a sua vida, sem nunca ter tido o reconhecimento e prestígio que viria a conquistar anos após a sua morte. Hoje é considerado um dos maiores artistas da arte ocidental, mas foi só após a sua partida que obteve o devido reconhecimento. A sua primeira exposição só foi realizada 10 anos após a sua morte. Seja por suas pinceladas e estilo inconfundíveis, ou pela vida marcada por doenças mentais e tragédias, Van Gogh é a personificação máxima do gênio incompreendido. A beleza e sentimento que emanam das telas pós-impressionistas já são magnéticas por si só, mas é na trajetória pessoal do pintor que encontramos as peças que formam o quebra-cabeça do imaginário popular. Ele deixou contribuições importantes para a arte moderna, mas sua influência não se resume aos quadros. O cinema também bebe da fonte de sua estética e história, originando grandes trabalhos na tela grande. São pelo menos 8 filmes entre curtas- e longas-metragens: Van Gogh, de Alain Resnais, 1948,filme biográfico que é o primeiro a falar sobre o artista e conta sua história apenas por meio de suas pinturas e ilustrações; Sede de Viver, Vincent Minnelli, 1956, o artista foi interpretado por Kirk Douglas, e tem uma intensa relação com o pintor Paul Gauguin, vivido por Anthony Quinn. Douglas e Quinn ganham um Globo de Ouro e um Oscar, respectivamente, por suas grandes atuações; Sonhos, de Akira Kurosawa, 1990, uma série de curtas seguindo a temática central de relacionamento do homem com o meio ambiente, baseado nos sonhos reais do autor; Vincent & Theo, 1990, trata dos últimos anos da vida adulta e das relações entre os dois irmãos; Van Gogh de Maurice Pialat, 1991; Van Gogh. Colorindo com Palavras, de Andrew Hutton, 2010, filme para televisão contando a história de Van Gogh através das suas próprias palavras apostas nas cartas endereçadas a Theo; e mais os dois comentados em seguida. Os dois filmes que comento são Com Amor, Van Gogh, de Dorota Kobiela e Hugh Welchman e No Portal da Eternidade, de Julian Schnabel. O primeiro é uma verdadeira declaração de amor ao trabalho do artista. A animação biográfica é o primeiro filme totalmente pintado, envolvendo 115 pintores. A técnica escolhida foi o óleo sobre tela, a mesma utilizada por Van Gogh. O segundo, com atuação primorosa de Willem Dafoe, revela os últimos anos do pintor em Arles, no sul da França. A obra vai além da imagem do artista torturado e busca compreender a mente adoecida e sua perspectiva de mundo. Com amor, Van Gogh, é de Dorota Kobiela e Hugh Welchman. Este filme traz uma novidade: é uma animação feita inteiramente por pinturas. A história é fictícia e mostra o filho do carteiro da cidade da qual Vincent fora expulso (Armand Roulin, interpretado por Douglas Booth) tentando entregar uma última carta do pintor ao seu irmão, Theo. Durante o longa, acompanhamos Roulin em uma jornada para descobrir como foram os últimos dias de Van Gogh. Cada personagem é baseado em retratos feitos pelo pintor, e a animação é inspirada nos traços e nas cores das telas do holandês. Usando a técnica de animação a partir de pinturas a óleo, técnica usada por Vincent, o filme é inspirado em mais de 400 pinturas do artista e traz paisagens e cenários com as cores típicas e vivas. Ao todo, 125 pintores trabalharam em cerca de 65 mil frames, sendo que os atores que dão voz aos personagens também precisaram servir de modelo para os mesmos. Além do trabalho artístico deslumbrante, a história também prende a atenção por seus toques de suspense, pois a pergunta que embala a narrativa é: como Van Gogh morreu? Foi suicídio ou assassinato? Assim, além de apresentar a vida e as obras, vemos essa “investigação” feita pelo personagem Armand Roulin. At Eternit’s Gate é um drama biográfico sobre os últimos anos de vida de Vincent Van Gogh, realizado por Julian Schnabel. A narrativa retrata Van Gogh em Arles, no sul da França. Lá, ele vive seus últimos dias e, talvez, sua fase mais conturbada, consequência do avanço de sua doença. O filme de 2018 é dirigido pelo norte-americano Julian Schnabel e fez com que Willem Dafoe ganhasse o prêmio de Melhor Ator no Festival de Veneza por sua interpretação como Vincent. O longa-metragem, é poético, não contém muitos diálogos, e as filmagens tortas e embaçadas davam uma ideia de como o pintor enxergava o mundo a seu redor. Van Gogh pintou mais de 2 mil quadros, entre paisagens, elementos da natureza, retratos, autorretratos, cafés, representações de camponeses, flores (como o girassol, que ele tanto adorava). Também teve inspiração na cultura japonesa. Seu legado inclui mais de 800 pinturas a óleo, especialmente nos dois últimos anos de sua vida. Se em vida sofreu com a falta de dinheiro, hoje suas obras figuram entre as mais caras do mundo. À época já tinha uma visão de mundo muito próximo da realidade, como atesta um trecho de uma carta dele enviada ao seu irmão Theo:
“Agora vivemos num mundo em que a pintura está tomada de pessoas que ganham muito dinheiro. […] E não pense você que estou imaginando coisas. As pessoas pagam muito pela a obra quando o próprio pintor se suicida.” [CARTA DE VAN GOGH A THEO, ARLES, ENTRE 16 E 20 DE JUNHO DE 1888].
0 Comments
Leave a Reply. |
AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
Categorias |