Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] A Ausência que Seremos (El Olvido Que Seremos) é a história de Héctor Abad Gómez, pai de um escritor colombiano. Héctor foi médico das ciências da saúde e professor de mestrado. Foi um defensor dos direitos humanos colombianos e também se manifestou no campo social como sociólogo e antropólogo. Foi assassinado em seu país, em 1987, por forças políticas conservadoras quando era candidato à prefeitura de Medellín. A Ausência Que Seremos foi o filme que o espanhol Fernando Trueba dirigiu em 2020. Trueba é diretor de cerca de 30 filmes entre curtas, documentários e longas-metragens. Dentre eles destacam-se o seu primeiro filme, Opera Prima, de 1980, Sé Infiel y no Mires com Quién, 1985, Sedução, de 1990, Chico & Rita, 2010 e A Rainha da Espanha, de 2016. O roteiro foi de David Trueba, baseado no livro autobiográfico homônimo de Héctor Abad Facioline, filho de Abad pai. Fotografia de Sergio Iván Castaño e música de Zbignew Preisner. Elenco de atores e atrizes excelente: Jávier Camara (Héctor Abad Gómez), Nicolás Reyes Cano (Quiquin, Héctor quando criança), Juan Pablo Urrego (Héctor jovem), Patricia Tamayo (Cecilia Faciolince, mulher de Héctor), Maria Tereza Barreto (Mariluz, a primogênita) e Whit Stillman (dr. Richard Saunders, o amigo americano). O filme referido mergulha em uma tragédia particular – o assassinato do médico colombiano Héctor Abad Gómez, em Medellín em 1987. Essa foi uma das décadas mais trágicas da história da sofrida Colômbia. O roteiro do filme é fruto também da história contada no livro do “colombianista” americano David Bushnell que trata da formação sociopolítica do país. Bushnell foi um dos primeiros americanos a estudar a Colômbia como objeto acadêmico e transformou-se ao longo do tempo num dos maiores especialistas sobre a Colômbia e sua História. É dele, e de 1993, a mais importante obra sobre a Colômbia, escrita inicialmente em espanhol e vertida para o inglês posteriormente: “The Making of Modern Colombia: A Nation in Spite of Itself”. Por incrível que pareça estereótipos latino-americanos não cabem aqui: nunca houve uma ditadura, militar ou não, na Colômbia, mas a violência política supera, em muito, outras paragens nesse continente que nos contém. Para se ter uma ideia da efervescência política da época, entre 1984 e 2002, pelo menos 4.153 pessoas ligadas à União Patriótica, frente ampla de esquerda à qual pertencia Héctor Abad, foram assassinadas, sequestradas ou desapareceram; entre elas, dois candidatos presidenciais, 5 deputados federais, 11 deputados, 109 vereadores, vários ex-vereadores, 8 prefeitos em exercício, 8 ex-prefeitos e milhares de militantes. Muitos dos crimes permanecem sem solução até hoje, como a do médico Abad; os responsáveis são ligados a grupos paramilitares, integrantes da Força Pública e/ou traficantes de drogas. No entanto, há fontes que mostram que, nos últimos 70 anos, os conflitos armados na Colômbia deixaram mais de 218 mil mortos, 25 mil desaparecidos e 5,7 milhões de pessoas deslocadas de seus lares. Houve quase 2 mil diferentes massacres, e cerca de 490 mil mulheres vítimas de abuso sexual. Na década de 2010, a Colômbia era considerada pela ONU o quinto país mais violento do mundo. Medellín, capital da província montanhosa de Antióquia é conhecida como a “cidade da eterna primavera”, devido ao seu clima ameno. Ela foi palco de boa parte desses crimes, mas não de todos: a Colômbia é um vasto país, de geografia complexa, populoso e diverso regionalmente. Esses números referem-se à União Patriótica apenas, a violência atingiu os mais variados estratos políticos, sem falar na população em geral – e as estatísticas, se tomadas em seu aspecto geral, crescem em espiral. Foi na Colômbia que um dos termos mais perversos da ciência política foi cunhado: narcoterrorismo. Se você estivesse no lugar errado, na hora errada – o que era uma probabilidade razoável, se vivesse em uma grande cidade – poderia ser vítima de carros-bomba, tática suicida que o glamourizado “capo” Pablo Escobar lançou no final dos seus dias, com o objetivo – bem, como o desejo – de simplesmente aterrorizar cidadãos e cidadãs. Na narrativa de A Ausência Que Seremos – extraída do livro homônimo de 2011 do filho de Abad, um respeitado jornalista e escritor, Héctor Abad Faciolince – esse pano de fundo diabólico praticamente não aparece. O livro de Facionlince trata do relato sobre a vida e a morte trágica do médico sanitarista colombiano Héctor Abad Gómez (1921-87). Ele foi defensor de causas sociais e dos direitos humanos executado pelos esquadrões da morte que golpearam seu país nos anos 1980. O título do livro e do filme remete ao primeiro verso do soneto 'Epitáfio', atribuído a Jorge Luis Borges, que Héctor Abad, filho, encontrou no bolso do pai, pouco depois de seu assassinato. O personagem central é um homem que, segundo a obra, tinha fortes convicções, conduzindo sua batalha sanitarista com paixão missionária, mas que nunca abraçou nenhum dogmatismo, advogando acima de tudo pela liberdade de pensamento. Transcorremos praticamente três quartos do filme imersos no cotidiano de uma família abarrotada de afeto, chefiada por um médico sanitarista liberal e emotivo – encarnado por Javier Câmara, ator de filmes sarcástico-transgressores de Almodóvar, em atuação impecável – como se a ebulição interna que se imiscuía na sociedade colombiana fosse imperceptível, na superfície da vida familiar de um professor universitário casado com a sobrinha do Arcebispo de Medellín. Os arroubos de consciência social do sanitarista Héctor Abad são descritos a partir do ponto de vista do filho, uma criança cujo limite de mau comportamento foi jogar uma pedra na casa do vizinho judeu. As ações de profilaxia social – visitar favelas para constatar a precariedade do saneamento – se mesclam com situações familiares pitorescas, irmãs adolescentes, pequenas sugestões de namoro, até uma freira ortodoxa que funciona como babá. A Colômbia, dizem os céticos, é o país do Sagrado Coração de Jesus: mas o médico, de formação científica, fica longe de tudo isso; ele é cristão na medida em que for capaz de agir concretamente para melhorar a vida das pessoas. O idílio familiar é rompido com a doença de Marta, a filha que toca violão: e é o ponto de virada do filme e do casal, obscurecendo a compreensão do mundo, das palavras e das coisas do menino-narrador. Para Fernando Trueba, a questão era evitar os extremos: “Eu não queria fazer um filme político ou piegas: queria que tivesse a personalidade da pessoa que está sendo retratada”. O roteiro, adaptação de uma biografia naturalmente impregnada de toda essa atmosfera, foi escrito pelo irmão do diretor – e acertou. A aposentadoria compulsória do médico Abad na Universidade é o presságio que introduz a volátil variável política na narrativa, apresentada como uma evolução do processo de conscientização do personagem – candidatar-se à Prefeitura de Medellín é uma consequência inevitável. É a partir desse momento que as fissuras começam a se fazer visíveis no espaço idílico familiar: existe uma violência monstruosa lá fora, dá para ver da janela do carro quando o Dr. Abad leva seus filhos menores de volta para casa. Uma bomba explodiu no meio da rua, cheia de transeuntes. Estamos em 1987, o terror está espetacularizado, sicários-assassinos de moto por toda a parte. Ninguém sabe quem mandou matar o médico. No bolso de Hector Abad, foi encontrado um fragmento do poema “Epitáfio”, de Jorge Luis Borges, que inspirou o filme, A Ausência Que Seremos: Ya somos el olvido que seremos. El polvo elemental que nos ignora y que fue el rojo Adán, y que es ahora, todos los hombres, y que no veremos. Ya somos en la tumba las dos fechas del principio y el término. La caja, la obscena corrupción y la mortaja, los triunfos de la muerte, y las endechas. No soy el insensato que se aferra al mágico sonido de su nombre. Pienso con esperanza en aquel hombre que no sabrá que fui sobre la tierra. Bajo el indiferente azul del Cielo esta meditación es un consuelo. Não é tanto no homem público conhecido em Medellin como “o apóstolo dos direitos humanos” que El Olvido Que Seremos está interessado. O roteiro, assinado por David Trueba, o irmão mais novo de Fernando, se concentra é no homem Héctor Abad Gómez, na pessoa, no pai de família. Até porque, como vimos, se baseia no relato autobiográfico do sexto filho do médico, o caçula e único filho homem, Héctor Joaquín Abad Faciolince. Mais até mesmo do que uma ode a um homem público indispensável, El Olvido Que Seremos é uma homenagem a um pai amoroso que tentava de todas as formas transmitir a seus muitos filhos os valores corretos, os valores fundamentais. O diretor é espanhol, o roteirista é espanhol e o ator principal é espanhol, mas El Olvido Que Seremos é um filme colombiano. A maior parte das filmagens foi feita em Medellín mesmo, e o elenco é composto basicamente por atores colombianos. O filme representou a Colômbia no Prêmio Platino de Cinema Ibero-Americano. A premiação criada em 2014 pela Entidad de Gestión de Derechos Audiovisuales (Egeda), da Espanha, e pela Federação Ibero-Americana de Produtores Cinematográficos e Audiovisuais (FIPCA) – foi o grande vencedor na oitava edição. Na festa de entrega dos prêmios, em Madri, no início de outubro de 2021, levou os troféus de melhor filme, melhor direção, melhor ator para Javier Cámara, melhor roteiro e melhor direção de arte para Diego López. O filme ganhou ainda o Goya, o mais importante prêmio do cinema espanhol, na categoria de melhor filme latino-americano.
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Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Indicado ao Oscar 2022 de Melhor Curta-Metragem Documentário, Onde Eu Moro, toca no urgente tema das populações em situação de rua. Pedro Kos teve como co-diretor Jon Shenk nessa empreitada que durou três anos para ser completada. Em 40 minutos eles traçam um terno e triste filme mostrando as vidas das pessoas sem teto em cidades como Los Angeles e São Francisco. Onde eu Moro, que está no Netflix, concorreu com 4 outros excelentes documentários: Audible (também na Netflix), The Queen of Basketball (que ganhou o Oscar e pode ser visto no YouTube), Três Canções para Benazir (também no Netflix) e When We Were Bullies. Eu começo meus comentários pelo fim. A triste maratona de entrevistas dos moradores daquelas duas grandes cidades é acompanhada por uma bela e triste balada (Endless Road) que dá todo o tom daquilo que vimos e imaginamos como perspectiva de futuro. Foi escrita por Mae Boren Axton e Ray Phoenix e interpretada por Angel Olsen: Bem, a cada estrada que vejo Leva para longe de mim Não há nenhuma Que me leve para casa A estrada fica me dizendo Amiga, venha ver o que há depois da curva Então, é de se admirar que eu esteja vagando? Todos os lugares onde estive Continuam me chamando de volta Você é uma boa menina Eu ouço os ventos frios soprarem Meu coração continua me dizendo Livre e descomprometido E a estrada passa E me chama enquanto segue adiante Bem, talvez em algum lugar haja alguém Esperando com um sorriso E talvez haja um lugar Para parar e descansar um pouco E talvez você não esteja destinada a ser Só uma pedra rolante E haja uma estrada a percorrer Que te leve de volta para casa Ah, mas eu vou continuar viajando Continuar observando o amanhecer Até que possa deitar este corpo solitário E quando esse dia chegar Eu nunca mais ou vagar E a estrada que eu vir Vai me levar para casa O aumento exponencial da quantidade de pessoas em situação de sem-abrigo na costa oeste dos Estados Unidos nos últimos cinco anos chamou a atenção de entidades públicas e governamentais, o que levou ao decreto de Estado de Emergência em relação ao desabrigo em cidades como Los Angeles, São Francisco e Seattle. Onde Eu Moro relata o dia a dia de algumas pessoas em situação de sem-abrigo e suas lutas pela conquista de melhores qualidades de vida e moradia enquanto precisam lidar com as inúmeras dificuldades decorrentes dessa condição. A experiência de Jon Shenk com cinematografia se faz perceptível em Onde Eu Moro. Enquanto o diretor norte americano é conhecido majoritariamente por sua atuação como cinematógrafo em peças documentais, Pedro Kos é creditado principalmente como editor, o que lhe rendeu um Emmy em 2014. O uso de drones para planos aéreos mostra, em primeira instância, o aspecto higienizado e limpo dessas cidades, como normalmente são representadas no cinema. Logo em seguida, o mesmo drone é utilizado para longos planos aéreos mais próximos do chão que exibem ruas completamente cobertas por barracas e abrigos improvisados, de forma a apresentar, gradualmente, o contraste entre realidades. O filme aborda histórias de pessoas que chegaram à situação de sem- abrigo por motivos diversos e é hábil em fazer o espectador se solidarizar com cada uma delas. Muitas situações relatadas estimulam o questionamento a respeito da possibilidade e do absurdo de um ser humano ser submetido a tal. O curta-metragem chama atenção para a condição de vulnerabilidade resultante da situação de sem-abrigo. Camadas de abuso moral e físico estão presentes em quase todos os relatos, enquanto a falta de apoio governamental unido a políticas sociais higienistas dificulta a obtenção de ajuda por parte dessas pessoas. Muitas delas acabam se vendo em constante trânsito entre a situação de desabrigo e lares cujos aluguéis são inviáveis considerando sua renda. Onde Eu Moro pinta um retrato da desigualdade social americana e de como esse problema é negligenciado pelo governo e pela sociedade como um todo. Os planos de câmera que desafiam qualquer orçamento de obra documental enriquecem a beleza do curta e cumprem também a função de ressaltar o contraste entre realidades. O destaque visual dado à construção de vários edifícios com anúncios de “aluga-se” mostra que o problema não está na falta de espaço físico para suprir a demanda de residências, mas sim no foco em aumentar receitas em detrimento de necessidades humanas básicas. O curta traz o espectador para perto das personalidades retratadas, humanizando-as e gerando identificação. Os problemas enfrentados são relacionáveis e reforçam a ideia da situação de sem-abrigo como uma condição temporária e que não define quem a enfrenta. Ao espectador, Kos e Shenk trazem a verdade inconveniente, ao nos transportar para o material humano que delineia a produção. São seus personagens vivendo suas realidades, tentando transpor o horror diário para uma vida onde o faz de conta é necessário de verdade, para aplacar um manancial de dores. São portas arrombadas demais para não permitir o vício, o desequilíbrio, a depressão, a violência e continua fazendo vítimas já exploradas pelo capitalismo, que é o que as levou na verdade até ali. Vítimas de um padrão que comunica um estupro e uma vida de esconderijos diante de um novo prédio sendo alicerçado, para gente rica, bonita e branca. Ao não construir uma perspectiva de resolução do problema, o documentário mantém, no espectador, o sentimento de preocupação e de empatia, que são encontrados pela oportunidade de tomar ação no site leadmehomefilm.com, oferecido pelo filme. Dessa forma, a obra torna-se eficiente em promover reflexão e deixar uma impressão marcante no pensamento de quem a contempla.
Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Com a entrada recente da filmografia quase completa do agente 007 – “Bond..., James...” -, 24 de seus 25 filmes no canal de “streaming” Amazon Prime Video é interessante fazer um balanço do que foi o fenômeno da “bondmania” na produção do cinema mundial. James Bond, também conhecido pelo código 007, é um agente secreto fictício do serviço de espionagem britânico MI-6, criado pelo escritor Ian Fleming em 1953. Ian Fleming “tirou” o nome “James Bond” do autor de um livro sobre ornitologia, Birds of the West Indies, A Guide to the Species of Birds That Inhabit the Greater Antilles, Lesser Antilles and Bahama Islands, de 1947, livro predileto de sua esposa (ou seja, o livro foi publicado por James Bond, escritor, seis anos antes da primeira novela de James Bond de Ian Fleming). O personagem foi apresentado ao público em livros de bolso na década de 1950 (em 13 de abril de 1953), com o romance Casino Royale, tornando-se um sucesso de venda e popularidade entre os britânicos e, logo a seguir, entre os países de língua inglesa. Ele escreveu doze livros e dois contos sobre ele, antes de morrer, em 1964. Após sua morte, outros livros subsequentes foram escritos por Kingsley Amis (1922-1995), que foi um ficcionista, poeta e cronista literário britânico, e Raymond Benson (nascido no Texas, em setembro de 1955, ficou conhecido por ter sido o autor oficial dos romances de James Bond de 1997 a 2003). Na década seguinte, os livros viraram uma grande franquia no cinema, a mais duradora e bem sucedida financeiramente, com um total de vinte e cinco filmes oficiais, produzidos em 60 anos, começando com O Satânico Dr. No, em 1962. O personagem já foi tema de seriado de televisão nos Estados Unidos antes de chegar aos cinemas, e de dois filmes independentes – ambos, curiosamente, do mesmo livro, Cassino Royale, um de 1954, para a televisão, e outro de 1967, para o cinema. Isso, à parte dos feitos pela produtora oficial, a inglesa, EON Productions, detentora dos direitos para as telas das histórias do espião, desde o acordo feito por Harry Saltzman e Albert Broccoli - produtores originais da série - com Fleming, no início da década de 1960. Em 1975, após desentendimento irreversível Harry Saltzman se afasta da companhia. Desde 1995, a produtora é dirigida pela filha e pelo enteado de Broccoli (Barbara Broccoli, e seu meio-irmão, Michael G. Wilson). James Bond também apareceu em quadrinhos, começando em 1958 com, novamente, Casino Royale, no jornal Daily Express (http://www.guiadosquadrinhos.com>007-(james-bond), videojogos, o primeiro deles em 1983, (http://www.jamesbondbrasil.com>category>games, e se tornou alvo de muitas paródias (http://stringefixer.com>Parodies_of_James_Bond). Em suas aventuras originais completas, entre elas Casino Royale, Dr. No, Goldfinger e Octopussy, Bond é descrito como um homem alto, moreno, caucasiano, de olhar penetrante, viril, porte atlético e sedutor, com idade estimada entre 33 e 40 anos, apreciador de vodka-martini (... Batido. Não mexido...), exímio atirador com licença “00” para matar (sétimo agente desta categoria especial, daí seu código 007) e perito em artes marciais, que combatia o mal pelo mundo (muitas vezes representado pela URSS naqueles tempos de Guerra Fria), a serviço do governo de Sua Majestade, com charme, elegância e cercado de belas mulheres, sempre se apresentando com a famosa frase "Meu nome é Bond, James Bond". James Bond, na concepção de Ian Fleming, definindo em traços o personagem fictício descrito em seus livros, serviu de base para publicação de seus quadrinhos no jornal Daily Express Em suas aventuras originais completas, entre elas Casino Royale, Dr. No, Goldfinger e Octopussy, Bond é descrito como um homem alto, moreno, caucasiano, de olhar penetrante, viril, porte atlético e sedutor, com idade estimada entre 33 e 40 anos, apreciador de vodka-martini (Batido. Não mexido) exímio atirador com licença 00 para matar (sétimo agente desta categoria especial, daí seu código 007) e perito em artes marciais, que combatia o mal pelo mundo (muitas vezes representado pela URSS naqueles tempos de Guerra Fria), a serviço do governo de Sua Majestade, com charme, elegância e cercado de belas mulheres, sempre se apresentando com a famosa frase "Meu nome é Bond, James Bond". Ao longo de sua longa vida literária e cinematográfica ele foi interpretado por oito atores, alguns com muito sucesso e outros sem muita expressão: Barry Nelson (1954, não faz parte da saga oficial), Sean Connery (1962–67; 1971; 1983, que não faz parte da saga oficial), David Niven (1967, também não faz parte da saga oficial), George Lazenby (1969), Roger Moore (1973–1985), Timothy Dalton (1987–1989), Pierce Brosnan (1995–2002) e Daniel Craig (2006-2021). A sua primeira aparição foi em Casino Royale e a última em 007 - Sem Tempo para Morrer. Robert Haakon Nielsen, mais conhecido por seu nome artístico Barry Nelson foi o primeiro James Bond no telefilme Cassino Royale (Casino Royale,1954), antes de Sean Connery. Ele e David Niven são os únicos intérpretes de 007 que nunca fizeram o papel em filmes produzidos pela EON Productions. Nas imagens acima: Sean Connery (foto,1980) George Lazenby (foto, 2008) Roger Moore (foto, 1973) Timothy Dalton (foto,1987) Pierce Brosnan (foto, 2002) Daniel Craig (foto, 2008) Barry Nelson e David Niven foram os únicos interpretes de James Bond que fizeram filmes que não foram produzidos pela EON Productions, os realizadores oficiais de filmes de Ian Fleming com o personagem James Bond. Barry foi o primeiro a dar vida nas telas ao icônico personagem James Bond. Foi numa produção de uma hora da novela Casino Royale no programa da TV americana Climax! Barry, que faleceu em 2007, trabalhou na televisão e no cinema por mais de 50 anos, de 1938 até 1990, tendo atuação em alguns filmes de sucesso, como Aeroporto, O Reencontro e O Iluminado. David Niven pode dispensar a sua atuação como James Bond em razão de uma carreira de muito sucesso, com. mais de 100 filmes (A Carga da Cavalaria Ligeira, O Prisioneiro de Zenda, O Morro dos Ventos Uivantes, Os Canhões de Navarone, A Pantera Cor-de-Rosa...). Nas imagens acima: Barry Nelson (foto, anos 1950) David Niven (foto, 1967) Os filmes de 007 foram produzidos inicialmente por Harry Saltzman e Albert Broccoli, detentores dos direitos cinematográficos de quase toda a obra já escrita por Ian Fleming e donos da produtora EON (Everything or Nothing). Em 1975, Saltzman abandonou a franquia. Desde 1995, os filmes são produzidos pela filha de Albert, Barbara Broccoli, e seu meio-irmão, Michael G. Wilson. Em 1962, foi lançado o primeiro filme, Dr. No (O Satânico Dr. No), com o personagem James Bond interpretado pelo então quase desconhecido ator escocês Sean Connery. A direção foi de Terence Young. O filme, feito com apenas um milhão de dólares (orçamento baixo, até para a época), estourou nas bilheteiras de todo o mundo, transformando Connery num ícone dos anos 1960, que com a sua espetacular popularidade internacional fez surgir uma nova histeria mundial da época: a “Bondmania”. Alguns dos fatores de maior empatia da série com o público, além do carisma e do charme de seu personagem principal, têm sido sem dúvida os mirabolantes vilões, os gadgets mortais e de alta tecnologia, as suas canções-tema (várias ganharam o prêmio de “Melhor Canção”, nas cerimônias anuais do Oscar, e as suas maravilhosas bond-girls. As namoradas do agente especial são conhecidas como bond-girls. Elas trouxeram aos filmes de 007 o ar de sofisticação, beleza e sensualidade, que são a sua marca registrada. Entre goles de champanhe Bollinger e Dom Pérignon, lençóis de seda inglesa, peles de raposa, tapetes persas, castelos e cenários de sonho em todo o planeta, a série lançou ao mundo as belas atrizes Ursula Andress, Grace Jones, Honor Blackman, Mie Hama, Diana Rigg, Jill St. John, Jane Seymour, Britt Ekland, Barbara Bach, Halle Berry, Lois Chiles, Carole Bouquet, Daniela Bianchi, Rosamund Pike, Eva Green, Maud Adams, Denise Richards, Kim Basinger, Monica Bellucci e Léa Seydoux, dentre outras. Os gadgets mortais e de alta tecnologia foram a essência, de uma certa forma, de Bond como agente secreto. O que seria dele, considerado como o espião invencível, se não fossem os brinquedos tecnológicos que o acompanham desde o início, e que por tantas vezes lhe salvaram a vida? Todos foram produzidos no laboratório de pesquisas do MI-6 pelo irascível "Q", o gênio inventor da agência de espionagem, vivido por Desmond Llewelyn (1914-1999). Llewellyn foi o ator que mais participou dos filmes de James Bond: esteve em todos, à exceção do pioneiro Dr. No e de Live and Let Die (no qual ele é rapidamente mencionado numa cena em que, M e Moneypenny entregam a James Bond um Rolex modificado por Q.). Faleceu, infelizmente, num acidente de automóvel no fim de 1999. Entre esses brinquedinhos tornaram-se famosos a Lotus Esprit, o carro esporte-submarino-lançador-de-mísseis de The Spy Who Loved Me; o Aston Martin DB5 com chapa blindada à prova de balas que protegia o vidro traseiro de Goldfinger; “Little Nellie”, o mini-helicóptero desmontável de You Only Live Twice, e até mesmo um brinquedinho não criado por "Q", mas pela NASA, o jipe lunar usado por Sean Connery em uma de suas fugas no filme Diamonds Are Forever. Os filmes oficiais foram: Em termos de aceitação popular, muito mais do que bilheteria (que obviamente é sempre muito alta), os diversos filmes tiveram avaliação muito variável, indo de meros 38% no “ranking” dos críticos do Rotten Tomatoes para o filme 007 Na Mira dos Assassinos, de John Glen, e onde há uma das falas mais famosas de Bond, “...um Martini. Batido, não mexido...” até 99% do filme de 1964, 007 Contra Goldfinger. Os outros filmes da saga têm as seguintes avaliações: 007 Contra o Homem da Pistola de Ouro, 40%; 007 Contra Octopussy, 42%; 007 – O Mundo Não É O Bastante, 52%; 007 – O Amanhã Nunca Morre, 56%; 007 – Um Novo Dia Para Morrer, 56%; 007 – Contra o Foguete da Morte, 60%; 007 – Os Diamantes São Eternos, 63%; 007 Contra Spectre, 63%; 007 – Quantum of Solace, 64%; Com 007 Viva e Deixe Morrer, 67%; Com 007 Só Se Vive Duas Vezes, 73%; 007 – Somente para Seus Olhos, 73%; 007 – Marcado Para A Morte, 73%; 007 – Permissão para Matar, 78%; 007 Contra GoldenEye, 79%; 007 – O Espião Que Me Amava, 80 %; 007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade, 81%; 007 – Contra a Chantagem Atômica, 86%; 007 – Operação Skyfall, 92%; 007 - Cassino Royale, 94%; 007 Contra O Satânico Dr. No, 95%; Moscou Contra 007, 95%. Com rendimento aproximado de 7 bilhões de dólares, os filmes produzidos pela EON constituem a terceira franquia com maiores bilheterias mundiais, atrás somente do Universo Cinematográfico Marvel e do Mundo Bruxo. Contabilizando com os efeitos inflacionários, os filmes da série 007 já renderam mais de 14 bilhões de dólares em valores atuais. Filmes da franquia já venceram cinco vezes o Oscar: de “Melhores Efeitos Sonoros” (para Goldfinger); “Melhores Efeitos Visuais” (para Thunderball); “Melhores Efeitos Sonoros” e “Melhor Canção Original” (para Skyfall); e novamente de “Melhor Canção Original” (para 007 Contra Spectre). Os filmes não-oficiais foram:
Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] O filme dirigido por Agnieszka Holland não é um original Netflix e foi lançado nos cinemas em 2019. É uma produção conjunta entre a Ucrânia e o Reino Unido. A atuação do elenco é impecável, a fotografia é incrível e a história de luta de um jornalista, Gareth Jones, é realmente muito boa. O roteiro foi escrito por Andrea Chalupa. O elenco de A Sombra de Stalin é liderado por James Norton no papel de Gareth Jones. O ator é conhecido por performances em Black Mirror, The Nevers e Vozes e Vultos. Vanessa Kirby, indicada ao Oscar, conhecida por The Crown, Hobbs & Shaw e Pieces of a Woman, vive Ada Brooks, uma jovem jornalista que também se envolve na jornada de Gareth. Peter Sarsgaard (O Preço de uma Verdade, A Órfã) interpreta Walter Duranty, outro jornalista que cobre eventos importantes entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Kenneth Cranham (de Malévola) é David Lloyd George, o ex-Primeiro Ministro Britânico que auxilia Gareth em sua jornada para Moscou. O elenco conta ainda com Joseph Mawle (de Game of Thrones), Krzysztof Pieczyńsk (Jack Strong), Beata Pózniak (Philly), Fenella Woolgar (Judy), Marcin Czarnik (Son of Saul) e Matthew Marsh (A Dama de Ferro). Agnieszka Holland começou sua carreira como diretora-assistente de Krzysztof Zanussi, tendo como seu mentor Andrzej Wajda. Seu primeiro filme foi Provincial Actors (1978), que ganhou o Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cannes em 1980. Dirigiu em 1980, Fever, The Lonely Woman, em 1981 e em 1985 o filme Angry Arvest, quando já havia migrado para a França. São de sua autoria também os filmes indicados ao Oscar Europa Europa, de 1990 e In Darkness, em 2011. Ela também colaborou com o seu amigo Krzysztof Kieslowski no roteiro da trilogia Three Colours, de 1993. Ela foi eleita para o Board da European Film Academy em 2014 e para a Presidência da mesma, em 2021. O filme A Sombra de Stalin aborda um dos momentos mais sombrios (dos muitos que existem) da história da Ucrânia. É um drama investigativo baseado numa história real, passado na União Soviética da década de 1930, e trata de um dos períodos mais chocantes da história russa, conhecido como Holodomor. Em A Sombra de Stalin, o jovem e ambicioso jornalista Gareth Jones (James Norton) viaja para a União Soviética em 1933 com o objetivo de conseguir uma entrevista com Joseph Stalin e entender como a tal “utopia soviética” funciona de verdade. Ele tinha um certo renome por ter entrevistado anteriormente Adolf Hitler. Ao chegar ao país, no entanto, ele encontra um cenário de caos, com a fome institucionalizada e um regime de trabalhos forçados que está levando milhares de pessoas à morte. De volta ao Reino Unido, sua missão é ter sua “denúncia” divulgada, mas precisará enfrentar o descrédito da mídia e de parte do governo, que não parecem dispostos a comprarem briga com o ditador soviético. O jornalista galês Gareth Jones, realmente lutou por muito tempo na década de 30 para que sua “descoberta” fosse conhecida e para que os horrores do regime de Joseph Stalin recebessem atenção. Apesar de toda a importância de sua história, ainda assim demorou muito para que a renomada diretora Agnieszka Holland aceitasse encabeçar o projeto do filme. Isso porque, pessoalmente para a diretora polonesa, que já tinha muita experiência com a direção de filmes sobre o Holocausto, falar sobre regimes totalitários sempre foi uma coisa muito difícil. O ponto principal de A Sombra de Stalin é a denúncia sobre o chamado Holodomor, período considerado um dos mais tristes da história da Europa Oriental. Holomodor é uma palavra ucraniana que tem como tradução algo como “morte por fome”. O jornalista em suas andanças pela URSS, sem autorização, se depara com um cenário arrasado de vilas esvaziadas, pessoas morrendo de fome, canibalismo e a violenta coleta de grãos feita pelo Estado.
Holomodor passou a ser usada para definir o período entre 1931 e 1933, quando a Ucrânia viu milhões de pessoas morrerem de fome devido às políticas econômicas aplicadas pelo governo de Stalin (estimativas apontam que mais de 3 milhões de ucranianos morreram de fome entre 1932-1933). . As políticas rígidas de produções de cereais aplicadas por Stalin na Ucrânia aconteceram devido ao fato de que o país não aceitou de bom grado o chamado processo de coletivização das produções agrícolas que a União Soviética queria implantar. Dessa forma, como uma espécie de retaliação pelas recusas do povo ucraniano, o ditador soviético exigiu que os camponeses batessem metas tão altas de produções de cereais que deveriam ser direcionadas para o Estado a baixos custos, que, para cumpri-las, a população começou a retirar partes de seu próprio sustento. A pena para quem não o fizesse ou não batesse a tal meta era a prisão, o envio para campos de trabalho forçado ou a morte. Com isso, em pouco tempo, os casos de morte por inanição se tornaram uma espécie de “epidemia” pelo país, o que foi um dos maiores genocídios europeus até hoje. O filme vale a pena ser visto, apesar da visão sobre o regime soviético ser bastante estereotipada e de claramente defender o lado da Inglaterra e de outros países capitalistas. O filme, no entanto, cumpre bem o papel de denunciar um genocídio que não ganhou a importância histórica que deveria. Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Faroestes são filmes que conquistaram públicos fiéis até a década de 80 do século passado. Todo mundo nascido antes disso sabe o nome de algum filme ou personagem famoso do “velho oeste”. Ainda que esporadicamente outros filmes do gênero apareçam para dizer que o gênero não está morto. No Tempo das Diligências (Stagecoach), de John Ford, 1939, Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cativo), de Sergio Leone, de 1966, Os Imperdoáveis (Unforgiven), de Clint Eastwood, de 1992, Bravura Indômita (True Grift), dos irmãos Coen, de 2010 são clássicos do gênero. Mas com o surgimento das ficções e o crescimento do cinema de ação, o tema foi ficando de lado das grandes produções, tendo alguns relances famosos de vez em quando, como vimos. Agora o retorno do gênero com grandes produções é real, e talvez em pleno ano de 2021, possamos ter novamente gerações que falem sobre os filmes de “cowboy” feitos hoje em dia. Vingança & Castigo, o mais novo faroeste original Netflix é, além de um resgate do tema, uma mensagem antirracista valiosa, que não se força para ser assim, e conquista o público por suas tramas bem feitas e pela legião de estrelas que o encabeçam. “Embora os eventos desta história sejam fictícios... Essas pessoas. existiram.” Esse é o começo do filme de estreia de Jeymes Samuel que traz uma violência estilizada que diverte e valoriza figuras históricas negras do Velho Oeste. O diretor que tem trabalhos realizados com Jay-Z, que é o produtor deste faroeste, conta com um elenco negro de peso: Regina King, Idris Elba, Zazie Beetz, Lakeithe Stanfield, Jonathan Majors e Delroy Lindo, além de Edi Gathegi e Damon Wayans Jr em participações menores. Vingança & Castigo, produção da Netflix, é um prazer sangrento. Um faroeste de vingança repleto de personagens memoráveis interpretados por atores talentosos, com cada cena e momento encenado por uma beleza voluptuosa e poder cinético, próprio de quem já está há muito tempo envolvido em produções musicais, como é o caso de Jeymes Samuel. Ele é o diretor do curta Jay-Z: Legacy, e músico consultor de O Grande Gatsby (The Great Gatsby), de Baz Luhrman, de 2013, além de responsável pela trilha sonora de outros filmes. O filme, do gênero tradicional faroeste, tem uma abordagem estilizada, clara, extremamente colorida, muito bonita, por sinal. A trilha sonora sincopada é incrível, assim que você se acostumar com ela e conta com artistas de renome no meio musical do rapper como Kid Cudi, CeeLo Green e Seal. Além disto, há um trabalho enorme na edição em que cortes, zooms, trocas de planos estão perfeitamente sincronizados ao “beat” de algum som incrível que ele trouxe para tornar esta celebração negra ainda mais grandiosa. Preste atenção, por exemplo na cena inicial, em que um homem misterioso chega na casa de um pregador e sua família e a trilha aumenta de forma repentina, já prenunciando algo prestes a acontecer. E a condução de toda a direção nos coloca no sentimento certo, porque nesta angustiante cena de abertura, nos preocupamos com esta família que está prestes a ser massacrada. É isso o que acontece com famílias que recebem visitantes misteriosos e silenciosos nos faroestes. Só quem sobrevive desse massacre é uma criança, Nat Love, que cresce para se tornar um fora-da-lei que rouba ladrões de banco. Aquele menino, testemunha traumatizada do assassinato de seus pais, é marcado por uma cruz, riscada pelo assassino com faca em sua testa. Pouco depois, conhecemos o adulto Nat (Majors), quando ele acabou de se vingar dos homens que cometeram aquele crime. Quem falta é exatamente aquele homem misterioso que o marcou na testa, Rufus Buck (Elba), que supostamente está cumprindo uma sentença de prisão perpétua, mas logo é libertado por uma gangue liderada pela violentíssima Trudy Smith (King) e o cavalheiro atirador Cherokee Bill (Stanfield). Preste atenção também no aviso colocado no início do filme e acredite nele, pois muitos dos principais personagens da história compartilham, realmente, os mesmos nomes de pessoas reais que viveram e morreram no Velho Oeste, incluindo Nat Love, Bass Reeves (também explorado na série Watchmen), Mary Fields (também conhecida como Stagecoach Mary), Jim Beckwourth e Cherokee Bill. Porém, os eventos dos quais eles participam são um disparate inventado na sua maior parte. Afinal estamos no cinema! Essa é a contribuição de Jeymes para o mundo faroeste. Ele escreveu a história, junto com Boaz Yakin, dirigiu e fez a música também. Tudo para reunir num só lugar, uma série de figuras históricas negras do Velho Oeste, amplamente ignoradas pelos livros de história e pelos principais criadores de mitos ocidentais. É importante destacar também a primorosa direção de fotografia de Mihai Malaimare Jr nos entregando ótimas cenas como a visão do alvo de um atirador de elite ou a visão aérea de dois pistoleiros, com sombras muito longas enfrentando uma a outra em uma rua. Destaca-se também a direção de arte a cargo de Mathew Gatlin e Gregory S. Hooper.
Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] O filme Rede de Intrigas (Network, no original) foi realizado em 1976 nos EUA. Teve a direção de Sidney Lumet e o roteiro de Paddy Chayefsky. No elenco destacam-se Peter Finch (ganhou o Oscar no ano como Melhor Ator), William Holden, Faye Dunaway (premiada com o Oscar de Melhor Atriz), Wesley Addy, Robert Duvall, Arthur Burghardt, Ned Beatty, Bill Burrows, John Carpenter, Jordan Charney. O filme tem duração de 121 min. A sinopse é bastante simples: diante de índices de audiência cada vez mais baixos, o âncora do programa de notícias da rede UBS, Howard Beale (Peter Finch), é demitido. A informação é transmitida por seu amigo Max Schumacher (Willian Holden). Ao buscar minimizar a agonia da situação, durante um drinque de final de expediente, Schumacher comete um equívoco. Dá uma ideia ácida ao amigo: “diga que vai cometer suicídio ao vivo”. Como Beale havia perdido recentemente a esposa, que o deixou sem filhos, ele estava extremamente vulnerável. Amargo, decidiu brincar com a sua situação e leva a sério o conselho do amigo. Ao entrar no ar para se despedir, informa que vai cometer suicídio e o que parecia o fim de um ciclo apresenta-se como renascimento. Após o anúncio, os índices de audiência aumentam exponencialmente. Com o surto ele ameaça mesmo se suicidar ao vivo. Depois do choque, a realidade inesperada: o desabafo foi um sucesso de audiência e a miséria humana vira programa de TV. Você já viu programas assim em algum lugar, não? Rede de Intrigas é um filme à frente do seu tempo. Sidney Lumet dirige o longa-metragem que critica de forma satírica os bastidores de um canal de televisão que tem apenas um objetivo: lucrar. Não existe obstáculo ou valor ético que segure os executivos da rede de buscarem audiência para aumentarem suas contas bancárias. A temática não está nada longe da nossa realidade atual, momento no qual os canais de televisão despejam uma programação lotada de shows de gosto bastante duvidoso, sedentos pelos saborosos números do Ibope. Paddy Chayefsky cria um roteiro que, para a época, poderia soar como um exagero apocalíptico. Mas, infelizmente, está muito mais próximo da nossa realidade. Fazendo-se uma análise à posteriori, os anos 1970 foram demarcados por severas críticas sociais aos acontecimentos que ressoaram após a conturbada década anterior. Com a Guerra do Vietnã, o escândalo de Watergate, a estagnação econômica e a crise do petróleo, os americanos se viram diante de tantos conflitos políticos e sociológicos que a indústria cinematográfica se tornou um dos caminhos para a panfletagem dos dilemas que acometiam os cidadãos em suas vivências cotidianas. Rede de Intrigas é um filme fruto dessa época onde a produção critica os bastidores de programas televisivos e seu foco central: o lucro. O problema disto tudo é como estes dividendos são obtidos, afinal, quem paga o preço no final das contas é o telespectador alienado, ente que sequer se dá conta disso enquanto é “controlado” por um sistema cheio de imbricações bastante amplas e complexas. Depois do anúncio inusitado todos acreditavam que a carreira de Beale havia acabado, mas como descrito anteriormente, ele renasce com toda força. Devido ao aumento da audiência ele é readmitido, volta a crescer, tendo um programa com o seu nome e passa a ser conhecido como O Profeta Louco. “Estou louco como o diabo, e não aguento mais isso”. O bordão do apresentador que diz “verdades” na televisão torna-se um sucesso e começa a ser entoado em vários lares da América. Neste momento o The Howard Beale Show torna-se a salvação da emissora. Como todo desenvolvimento dramatúrgico, as coisas perdem o controle, o comportamento insano de Beale sai dos trilhos e os responsáveis por sua posição no ambiente de trabalho arranjarão uma forma de detê-lo, nem que seja da pior e menos ética maneira possível. Muito além de uma análise moralista dos meios de comunicação, o filme nos mostra que o sensacionalismo que rende é o resultado da industrialização da cultura. É um processo que nos ajuda a compreender como e por que os conteúdos televisivos estão mantidos dentro de um sistema mercadológico, algo que hoje talvez não seja novidade, mas que poucas pessoas têm acesso, sequer noção da complexidade que as circunda a cada minuto de audiência fornecida a programas do quilate de Patrulha da Cidade, Datena, do Jornal Nacional, e outros que tais. Além do conteúdo temático é preciso analisar Rede de Intrigas no que tange aos aspectos técnicos, afinal, os temas são muito bem conduzidos, entretanto, é preciso saber os seus mecanismos. A direção de arte reflete muito bem os espaços, ora da redação, ora dos lares de seus personagens. O destaque fica para a personagem de Faye Dunaway, com figurinos similares aos aspectos cenográficos, numa espécie de metáfora para a sua condição intrínseca em relação ao ambiente de trabalho. A montagem assinada por Alan Heim também demonstra um exercício cinematográfico de competência, principalmente por flertar com a linguagem televisiva, tendo a metalinguagem a serviço do filme, além da narração estilo documental, proposital para manter o ritmo, assim como o trabalho sonoro de Elliot Lawrence. A excepcional direção de Sidney Lumet dispensa observação, tamanha a sua qualidade, mas o profissional que merece mais destaques é o roteirista. Há vários pontos para se tratar do roteiro. Inicialmente, o argumento é formidável. Logo mais, os personagens são bem delineados e críveis. Ainda sobre o texto, não podemos deixar de lado os diálogos maduros, sustentáculos de toda a narrativa. Como apontado, o texto base do filme é excelente e promove a ascensão de ótimos personagens, dentre eles, Frank Hackett (Robert Duvall) e a ambiciosa Diana Christensen (Faye Dunaway), em particular, a última, inicialmente acessória, mas detentora do protagonismo ao passo que o filme avança. Christensen é uma versão anos 1970 de todas as personagens femininas que ocupam um cargo importante dentro do sistema capitalista. Ela fala constantemente de trabalho, vive para isso, a ponto de atingir o orgasmo tendo como ato concomitante ao sexo, os comentários sobre o seu sucesso diante das estratégias de manutenção da audiência. É demasiadamente irônico, causa estranhamento, mas revela-se fundamental para que possamos compreendê-la dentro da dinâmica fílmica, principalmente após as suas sugestões para deter o messiânico Beale e seu programa televisivo. Rede de Intrigas estreou na mesma época que Todos os Homens do Presidente, filme que também apresentava conflitos no bojo do Jornalismo. Apesar de comemorar em 2022 quase 50 anos desde o lançamento, ainda é considerado extremamente atual dentro de suas considerações críticas. Ao longo dos seus 121 minutos, a trama que retrata com acidez as relações no meio televisivo demonstra que não há obstáculos que impeçam valores éticos de serem ultrajados. É importante dizer e, mais do que isso, colocar a história em seu contexto da época. Os acontecimentos de Rede de Intrigas se passam pouquíssimo tempo depois do final da guerra do Vietnã, após o escândalo de Watergate e com a população cética em relação ao mandato do presidente Ford. Neste cenário, surge um novo Howard Beale, de âncora sisudo para um jornalista sem papas na língua, que não tolera a situação atual dos Estados Unidos, e se coloca como porta-voz de uma parcela da população. É óbvio que existe demanda para um programa como este e os executivos da UBS estarão mais do que satisfeitos em aproveitar-se do estado mental de Beale para lucrar com a audiência. Até o chefão da empresa, Arthur Jensen (Ned Beatty, em participação pequena, mas marcante), se intromete na questão, tentando induzir Beale a um caminho proveitoso para a rede. Rede de Intrigas é, sem sombra de dúvidas, uma obra do diretor, não sendo necessário martelar estilismos desnecessários para tanto. Vencedor de quatro prêmios Oscar – Ator (Peter Finch, entregue de forma póstuma), Atriz (Faye Dunaway), Atriz Coadjuvante (Beatrice Straight) e roteiro (Paddy Chayefsky) – e incrivelmente atual, é uma crítica mordaz à falta de ética de certos meios de comunicação, como se diretor e roteirista conseguissem prever o futuro, retratando de forma precisa o nosso tenebroso presente televisivo. A cena do “diálogo” do diretor da empresa, Arthur Jensen (Ned Beatty), com Beale (Peter Finch) diz tudo sobre as corporações e empresas de comunicação: “VOCÊ É UM HOMEM VELHO, QUE PENSA EM TERMOS DE NAÇÕES E PESSOAS.
Não existem nações. Não existem pessoas. Não existem russos. Não existem árabes. Não existe terceiro mundo. Não existe oeste. Só há um sistema holístico de sistemas! Um vasto e imanente, interligado, interagente, multi-variante, multinacional, domínio de dólares! Dólares petrolíferos, eletro-dólares, multi-dólares. Moeda alemã, moeda japonesa, moeda russa, moeda britânica e moeda dos judeus! É o sistema internacional da moeda corrente que determina a totalidade da vida neste planeta. Esta é a ordem natural das coisas hoje em dia. Esta é a estrutura atômica, sub-atômica e galáctica das coisas hoje em dia. E você mexeu com as forças primitivas da natureza! E você vai se retratar! Estou me fazendo compreender? Você se levantou em sua televisãozinha de 21 polegadas e praguejou sobre a América e sobre a democracia. Mas não há América. Não há democracia. Só há IBM e ITT, e AT&T e Du Pont, Dow, Union Carbide e Exxon. Essas são as nações do mundo de hoje. Sobre o que você acha que os russos falam em seus conselhos de estado? Karl Marx? Eles saem de suas programações lineares, decisões em cima de teorias estáticas, soluções minimalistas e computam as probabilidades do custo-benefício de suas transações e investimentos, assim como nós. Nós não estamos mais vivendo num mundo de nações e ideologias, Sr. Beale. O mundo é um colegiado de corporações inexoravelmente determinado pelas leis imutáveis dos negócios. O mundo é um negócio. Tem sido assim desde que o homem saiu da caverna.” Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Este “velho” e brilhante documentário de apenas 9 minutos realizado em 1977 por Charles Eames (1907-1978) e sua mulher Ray Eames (1912-1988) é impressionante por pelo menos dois motivos. O primeiro, pela brilhante ideia e pela sua capacidade de síntese de usar saltos de 10 segundos para cada mudança da potência de 10 para dar um mergulho, a partir de uma cena bucólica de um piquenique de um casal de namorados num campo próximo ao Lago Michigan, próximo ao Soldier Field, em Chicago, na superfície da Terra, para a imensidão do espaço e no caminho inverso para as profundezas do corpo humano. O segundo, pela permanência dessa ideia e pela própria técnica de realização que permite que esse pequeno documentário seja apreciado com a mesma surpresa e rigor científico após mais de 50 anos depois (a ideia do filme começou a ser desenvolvida pelos dois em 1963). O documentário Powers of Ten trabalha com a grandeza relativa das coisas a partir das pesquisas que o casal Charles e Ray Eames faziam e quiseram pôr lado a lado as concretudes presentes no universo. O resultado disso foi Potências de 10, um dos mais fascinantes curta-metragens já produzidos. Isso a partir de um teste inicial em 1963, uma versão intermediária em 1968 e o trabalho final em 1977. A câmera põe em foco um tranquilo piquenique em Chicago, onde um casal está sobre a grama ensolarada. É a partir deles que se inicia uma viagem aérea, espacial, galáctica, celular, molecular e atômica onde o trabalho de medição das grandezas relativas acaba por nos fazer encontrar conexões íntimas, quase que orquestradas, entre cada peça visível ou invisível do nosso redor e do nosso interior. Os filmes, em qualquer de suas versões, retratam a pesquisa de acordo com um universo de magnitude (uma escala logarítmica) de base 10 que se expande até os fins do universo depois até dentro de um único átomo. As maçãs, os átomos, os planetas, as árvores, os anéis de Saturno, os poros, os continentes, as nuvens... têm seu perfeito encaixe métrico explorado em escalas que vão de 1025 a 10-18: o tamanho do universo conhecido e o tamanho da menor partícula subatômica conhecida, pelos dados da época. O curta, escrito e dirigido pelo casal Charles e Ray, ambos designers e norte-americanos, teve distribuição feita pela IBM e reflete, em suas passagens, o fascínio e otimismo que os avanços tecnológicos e as ciências exatas exerceram sobre as pessoas naqueles anos das décadas de 1960 e 1970. Talvez isso nos permita observar o filme com um fascínio especial; é deixar de lado, por menos de nove minutos, a certa desilusão que persegue nossos dias de hoje. O documentário foi dirigido por Charles e Ray Eames baseado no livro do educador holandês Kees Booke, Cosmic View. Foi narrado na versão experimental de 1968 por Judith Bronowski e por Philip Morrison na versão definitiva de 1977. A música que acompanha a narração é de Elmer Bernstein. A distribuição foi da IBM e da Pyramid Films. O filme pode ser visto hoje em vários canais de streaming e no Youtube. A primeira versão do filme, Um esboço para uma proposta de filme com os poderes de um filme e o tamanho relativo das coisas no universo, foi um compromisso e foi concluído em 1968; o segundo filme, Powers of Ten: A Film Dealing with the Relative Size of Things in the Universe and the Effect of Adding Another Zero, foi concluído em 1977. Ambos os filmes, e um livro baseado no segundo filme, seguem a forma do original de Boeke, adicionando cor aos desenhos em preto e branco empregados por Boeke em seu trabalho seminal. O filme de 1977 tem uma série de mudanças em relação ao original, incluindo o movimento para um lado e outro, ser colorido, movendo o local de partida de Miami para Chicago, removendo a dimensão relativística (tempo), introduzindo duas potências de dez adicionais em cada extremo, uma mudança no narrador de Judith Bronowski para Philip Morrison e gráficos muito melhorados. Em 1998, Powers of Ten, a versão de 1977, foi selecionado para preservação no National Film Registry dos Estados Unidos pela Biblioteca do Congresso como sendo "culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo”. Há também um filme do National Film Board of Canada, de 1968, intitulado Cosmic Zoom, que cobre o mesmo assunto usando animação. É sem palavras, usando música acelerada durante as viagens de volta ao tamanho normal. A versão de 1977 começa com uma visão aérea de um homem e uma mulher fazendo um piquenique em um parque à beira do lago Michigan, em Chicago, numa imagem de 1 metro quadrado, em um cobertor cercado por comida e livros que trouxeram com eles, um deles The Voices of Time , de J.T. Fraser. O homem (interpretado pelo designer suíço Paul Bruhwiler) dorme, enquanto a mulher (interpretada pela funcionária da Eames Etsu Grafias) começa a ler um dos livros. O ponto de vista dos autores, acompanhado por uma narração expositiva de Philip Morrison, vai lentamente para uma visão de 10 metros de largura (ou 101 metros em notação científica). O zoom-out continua (a uma taxa de uma potência de dez a cada 10 segundos), para uma visão de 100 metros (102 metros) (onde podem ser vistos o Burnham Park, perto de Soldier Field, 1 quilômetro (103 metros) (onde vemos a totalidade da cidade de Chicago), e assim por diante, aumentando a perspectiva e continuando a diminuir o zoom para um campo de visão de 1024 metros, ou um campo de visão de 100 milhões de anos-luz de diâmetro. A câmera para, então, e volta para trás a uma taxa de potência de dez a cada 2 segundos, chegando à superfície da mão do homem e, então, volta à sua taxa original de potências de dez, 10-1 (10 centímetros), e assim por diante, revelando uma célula da pele e ampliando-a – até que a câmera chegue a quarks em um próton de um átomo de carbono a 10-16 metros. 6 momentos importantes neste vídeo: De 02:11 A Lua De 02:23 A Terra De 03:49 A Galáxia Via Láctea De 04:22 1 bilhão de anos-luz De 07:14 Numa escala atômica De 07:49 O espaço interior Há outros filmes realizados pelos Eames. Realizaram mais de 100 filmes, iniciando em 1950 (Traveling Boy), todos curta-metragens, mesclando ficção, experimentais e documentários, sendo o último filme de 1978 (Art Game). Outros destaques são: Do-nothing Machine, Where Did You Go? Out. What Did You Do? Nothing (1960), 2n: A Story of the Power of Numbers (1961), A Rough Sketch for a Proposed Film Dealing with the Powers of Ten and the Relative Size of Things in the Universe (1968), The Lick Observatory (1968), Decorator Crab (1969), Kepler's Laws (1974), Art Game (1978), Cézanne (1978). Quanto aos livros a que nos referimos, encontráveis em qualquer bom livreiro, são:
Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Ozark é uma das produções mais incríveis dos últimos anos, competindo em termos de qualidade e da temática amoral com a sempre referenciada Breaking Bad (2008-2013, 5 temporadas, 62 episódios, criação de Vince Gilligan), mas com uma pitada de The Sopranos. (1999-2007, 6 temporadas, 86 episódios, criação de David Chase). A série renova o gênero extrapolando-o para uma construção minuciosa de atmosfera, onde a fotografia, roteiro, direção e trilha sonora trabalham juntos para criar o clima ideal de mistério – que é percebido de longe desde o início. Ozark é uma série de televisão norte-americana de drama e suspense criada por Bill Dubuque e Mark Williams, produzida pela Media Rights Capital, com Jason Bateman (Marty Byrde), Laura Linney (Wendy Byrde). Conta atualmente com 4 temporadas, iniciada em 2017, e 44 episódios, tendo sofrido uma interrupção em 2019 e 2021. A 4ª. e última temporada começou a ser exibida na Netflix em 2022. As atuações são fantásticas, o roteiro muito bem construído e a fotografia em tons sempre azulados torna a trama e o seu desenrolar ao longo das 3 temporadas “fria”, representando de forma adequada os sentimentos e objetivos de seus principais personagens. A série acompanha o trágico destino criminoso da família Byrde, obrigada a lavar dinheiro para um cartel mexicano após a descoberta de que o sócio de Marty Byrde (Jason Bateman) estava desviando milhares de dólares. Acuados pelos traficantes, a família não vê alternativa a não ser mudar-se para a região pantanosa de Ozarks e trabalhar lá para pagar a dívida deixada pelo ex-sócio. Além de lidar com o cartel, Marty e Wendy (Laura Linney) precisam conciliar seus negócios com a própria família e com os… “negociantes” locais. Em um dos melhores pilotos que já vi nos últimos tempos, a série nos apresenta seu protagonista, o anti-herói Marty Byrde (Jason Bateman), infeliz consultor financeiro de Chicago que, após ser acusado de desviar 8 milhões de dólares de um cartel mexicano e ter sua família ameaçada de morte (que , efetivamente foi realizada... mas por seu sócio) se vê na obrigação de se mudar para os arredores do lago de Ozark (daí o nome da série), um local afastado onde pode realizar lavagem de dinheiro sem a preocupação de ser pego tão facilmente. Com esse princípio em mente, ele passa a viver em prol da dívida que possui com seu chefe, Del (Esai Morales), que a qualquer momento pode desistir de Marty e tirar sua vida. Esse contexto se apresenta como a história principal, que claramente é a busca do protagonista em sustentar e proteger sua família que é composta por sua esposa Wendy (Laura Linney), sua filha de 15 anos, Charlotte (Sofia Hublitz), e seu filho de 13 anos chamado Jonah (Skylar Gaertner). O arco familiar dá abertura para o desenvolvimento de outras narrativas secundárias, o que caracteriza Ozark como uma série, e não um filme. Outras famílias e personagens assumem sua importância na produção a partir do segundo episódio, em que seus conflitos se correlacionam com Marty e sua família, que tentam a qualquer custo aprender a lidar com o FBI, uma família de ladrões, traficantes, um ingênuo agente imobiliário, um pastor aflito e muita confusão. Um dos grandes trunfos da série é a caracterização dos personagens. Além dos principais (Marty e a explosiva Wendy), o roteiro dedica um pequeno tempo para contar um pouco mais sobre outros personagens. Jonah é um jovem estranho e curioso. Charlotte uma garota que só quer ser normal e se divertir. As atuações são todas boas, mas quem se destaca nesse meio é o casal Jason Bateman e Laura Linney, que cumprem com seus papéis com esmero e não deixam a desejar. Ozark é uma daquelas séries com marcas registradas. Ou seja, do mesmo jeito que pensar em metanfetamina te lembra Breaking Bad ou pensar em mulheres de vermelho te lembra The Handmaid’s Tale, pensar em dinheiro, lentidão e na cor azul te fará lembrar de Ozark. Tudo acontece devido ao dinheiro, o qual adquire um simbolismo deprimente e problemático durante a narrativa. Chega o momento em que altas quantias no bolso soam como um problema, e não como uma solução. Além disso, reflexões pesadas são feitas em cima do significado do dinheiro dentro da sociedade. E o que não falta aqui são simbologias muito bem trabalhadas ora pelos diálogos, ora pelos enquadramentos estratégicos. Já a lentidão está presente nos roteiros de cada temporada. São 10 episódios por temporada, das 3 que estão na grade, cada um com 1 hora de duração. A trama é lenta, e os acontecimentos grandes demoram a acontecer, mas o foco aqui é a paciência e a imersão do telespectador. Falamos no início sobre a tonalidade azul presente na fotografia. É de se perguntar, se foi proposital. A resposta é simples, é! O azul está presente na fotografia. Todos os quadros possuem a cor azul explicitada e inserida por um belo filtro na tela, que deixa tudo com um aspecto frio, melancólico, silencioso, solitário… É como se não existisse calor ou alívio dentro daquela situação. Além disso, a fotografia como um todo usa a cor principal para deixar paisagens lindas ainda mais impressionantes. Por fim, a terceira temporada é uma perfeita obra-prima. Não possui defeitos e é uma das melhores coisas que a televisão já viu em décadas! Mas a história tem uma boa continuidade com a 4ª. temporada que está disponível no canal de streaming. Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Recentemente revi o filme Três Homens em Conflito no Prime Video da Amazon em sua versão em inglês estendida, uma obra restaurada de som e imagem realizada em 2003. Um trabalho competente da Cineteca Nazionale, The Film Foundation e Triage Motion Pictures Services aproximando esta versão, agora com 2h 58min, do original italiano de 1967. Como consequência “tive” de rever o conjunto das duas trilogias, obras primas de Sergio Leone. A primeira delas, a Trilogia dos Dólares, uma obra que poderia ser creditada a ele, a Clint Eastwood, novato no cinema ainda, e a Ennio Morricone com a sua música e temas envolventes. A segunda, a Trilogia da América, três outros filmes grandiosos fazendo um retrato de corpo inteiro de três momentos da história americana. Sergio Leone, o italiano considerado o "papa" do gênero dito western spagheti (veremos mais tarde, no entanto, que Leone entende de western e de América como poucos) trouxe um marco para sua carreira ao introduzir para o público o clássico herói do bang-bang sem nome interpretado magistralmente por Clint Eastwood em seus primeiros papéis, além de trazer outro status para o gênero. Clint Eastwood, na figura do cavaleiro solitário e sem nome e trajando sempre uma manta por cima da camisa, sempre com um cigarro no canto da boca e com movimentações mínimas em cena, esteve nos diferentes filmes como um personagem e em cada um deles recebeu um nome diferente (Joe, Monco e Blondie). Esporadicamente estabelecendo alguma conexão entre os três filmes, a trilogia dos dólares não precisa ser acompanhada na sua ordem cronológica nem possui a ambiciosa narrativa seriada como a de alguns longas metragens de hoje em dia, mas é interessante entender algumas das marcas que lhe confere uma unidade. Através dos filmes Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito, tanto Eastwood quanto Leone consolidaram suas carreiras em Hollywood e reafirmaram um imaginário sobre o cowboy americano. Por um Punhado de Dólares (Per um Pugno di Dollari) é o primeiro filme da trilogia tendo sido lançado em 1964. Apresenta Eastwood como um andarilho que se instala numa cidadezinha habitada eminentemente por mexicanos. Lá dois grupos de criminosos rivais disputam o controle e o personagem de Eastwood começa a manipulá-los até o ponto em que passa a ser alvo de ambos. É um filme que estabelece as bases da parceria do diretor com o ator, portanto, naturalmente de ambições reduzidas no tratamento da sua história, se restringindo à oferta de uma narrativa que acompanha a trajetória do herói relutante interpretado pelo astro, mas ainda assim trazendo lampejos da ambição estética do projeto. Repleto de recursos que se tornaram assinatura no gênero, como as cenas de duelo marcadas pelo silêncio do cenário deserto e dos planos que registram com atenção partes dos corpos das personagens como olhos e mãos, Por um Punhado de Dólares é uma ótima introdução ao universo, especialmente para iniciantes. Além de Clint, como Joe, são personagens importantes Gian Maria Volonté (Ramón Rojo) e Marianne Koch, como Marisol. A música, belíssima, é de Ennio Morricone e o roteiro de Adriano Bolzoni, Victor Andrés Catena e o próprio Sergio Leone (aqui deve ser feita uma observação importante que é a da ideia do filme ter se originado do filme Yojimbo, de Akira Kurosawa). O segundo longa da trilogia, Por uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollaro In Piú, For a Few Dollars More), estreou em 1965. No centro da sua narrativa está mais uma vez o personagem de Eastwood. Desta vez, o caçador de recompensas está atrás de um perigoso bandido recém-fugido da cadeia conhecido como El Indio (Gian Maria Volonté). Atrás dele também está o coronel Douglas Mortimer (Lee Van Cleef), habilidoso com pistolas e igualmente interessado na captura do ladrão de bancos. Em Por uns Dólares a Mais vemos o personagem de Eastwood agir em dupla, no caso em questão o coronel Mortimer interpretado por Lee Van Cleef, ator que retornaria no terceiro filme. O que torna o segundo longa um pouco superior ao primeiro é a dinâmica que se estabelece entre a dupla central e a posterior tensão quando ambos se infiltram no bando de El Indio. Diferente do anterior, Leone insere um drama familiar com o personagem de Van Cleef conferindo outra possibilidade de comunicação do projeto com seu público, a via da emoção. O roteiro bem estruturado é de Sergio Leone, Fulvio Morcella e Luciano Vincenzoni. A música é, de novo, de Ennio Morricone. No terceiro filme, Leone eleva seu trabalho ao nível da obra-prima com Três Homens em Conflito, (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo) trazendo Eastwood como "Blondie". O ator divide o protagonismo das telas com Lee Van Cleef (Sentenza), que desta vez retornava como o vilão "Olhos de Anjo", e Eli Wallach, que vivia o trapaceiro Tuco numa desempenho instantaneamente carismático. A trilha de Enio Morricone, que retorna depois de Por uns Dólares a Mais, e o contexto da guerra civil americana servem como ponte para a construção de uma narrativa potente sobre a busca de alguns sacos de moedas de ouro na cova de um cemitério. Leone é co-autor, junto com Luciano Vincenzoni, de um roteiro exemplar que consegue apresentar muito bem seus três personagens (o bom, o mau e o feio do título original) e equilibrar sua história entre os seus diversos focos de atenção, além de trazer os acontecimentos históricos à serviço de sua crescente ascensão dramática num desfecho que é o clímax da trilogia e, definitivamente, seu melhor capítulo.
A Trilogia dos Dólares (em italiano: Trilogia del dollaro) e também conhecida como Trilogia do Homem Sem Nome, é uma série de filmes, como vimos, composta por três filmes western spaghetti. Os filmes Por um Punhado de Dólares (1964), Por uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966), apesar de terem sido realizados num intervalo de três anos conseguem manter uma unidade coerente. Os três filmes são consistentemente listados entre os melhores filmes western de todos os tempos. Embora não fosse a intenção de Leone, os três filmes passaram a ser considerados uma trilogia, seguindo as façanhas do mesmo personagem chamado "Homem Sem Nome" (retratado por Clint Eastwood, vestindo as mesmas roupas e agindo com os mesmos maneirismos). O conceito "Homem Sem Nome" foi inventado pela distribuidora americana United Artists, procurando um forte ângulo para vender filmes como uma trilogia. O personagem de Eastwood realmente tem um nome (embora um apelido) e um diferente em cada filme, como vimos: "Joe", "Manco" e "Lourinho", respectivamente. Os únicos atores que aparecem nos três filmes além de Eastwood são Mario Brega, Aldo Sambrell, Benito Stefanelli e Lorenzo Robledo. Quatro outros atores aparecem duas vezes na trilogia, interpretando personagens diferentes: Lee Van Cleef, Gian Maria Volontè, Luigi Pistilli e Joseph Egger. Clint Eastwood refletindo sobre o impacto dos filmes, em uma entrevista, diz o seguinte: "Eu acho que [os filmes de Leone] mudaram o estilo, a abordagem dos westerns [em Hollywood]. ... Eles tornaram a violência e o aspecto de tiro um pouco maior do que a vida, e eles tiveram uma ótima música e novos tipos de pontuação. ... Foram histórias que não tinham sido usadas em outros westerns. Eles apenas tiveram um olhar e um estilo que era um pouco diferente na época: eu não acho que nenhum deles fosse uma história clássica - como [John Wayne's, 1956] The Searchers ou algo assim — eles eram mais fragmentados, episódicos, seguindo o personagem central através de vários pequenos episódios." Apenas para fazer referência, a outra trilogia de Sergio Leone, igualmente extraordinária, é a Trilogia da América, ou Trilogia Americana. Ela é composta pelos filmes Era uma Vez na América (Once Upon a Time in America), que é a última parte da trilogia, realizada em 1984, com 3h 49 min, contando no elenco com Roberto de Niro, James Woods, Tuesday Weld, Joe Pesci, Danny Aielo. O belo roteiro, baseado no livro “The Hoods”, de Harry Grey, foi de Leonardo Benvenuti e Piero De Bernardi. Música, magistral, de Ennio Morricone. Sergio Leon passou treze anos preparando o clássico Era uma vez na América, um épico ganguerista lançado em 1984 no Festival de Cannes. O primeiro da trilogia foi Era uma Vez no Oeste (C´era uma Volta Il West / Once Upon a Time in the West), 1968, com 2h 45 min. No elenco, um Henry Fonda sinistro e mau, Charles Bronson, Jason Robards, Claudia Cardinale, lindíssima. Roteiro de Sergio Donati e Sergio Leone sobre uma história de Dario Argento. Música: Ennio Morricone. O segundo filme da Trilogia da América é Quando Explode a Vingança (Giù la testa / Duck, You Sucker!),1971, 2h 37 min. No elenco, Rod Steiger e James Coburn, impecáveis, Romolo Valli, Maria Monti. Roteiro de Sergio Leone, Sergio Donati e Luciano Vincenzoni. A música, mais uma vez, a cargo de Ennio Morricone. A versão de Era uma Vez na América, exibida nos cinemas americanos, tinha apenas 139 minutos, cerca de uma hora e meia a menos que a versão completa do filme. Após muitos protestos do público e da crítica especializada, o filme chegou a ser exibido na TV a cabo norte-americana em uma versão de 192 minutos. Já em vídeo foi lançada uma versão um pouco maior, com 227 minutos. A versão finalmente lançada e registrada tem 229 min. Em 1996, Sergio Leone foi selecionado como um dos 50 maiores diretores do cinema mundial pela Entertainment Weekly. Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] O diretor Terry Gilliam leu Dom Quixote, de Cervantes, em 1989, e se interessou em filmá-lo. No entanto, até antes do lançamento oficial do filme, ocorrido apenas em maio de 2018 no festival de Cannes, sendo aplaudido de pé por vários minutos, muita água passou pelo moinho... Pior, muita coisa ruim aconteceu: muitos inícios e reinícios, cancelamentos e retomadas, inúmeros problemas de produção. Finalmente, somente em 2019, o “amaldiçoado” projeto de Terry Gilliam entrou, enfim, em circuito comercial. O sonho antigo de Terry Gilliam estava finalmente realizado. Essa epopeia parece ser a maldição de Dom Quixote, pois Orson Welles, em 1955, iniciou saga semelhante. O projeto de Welles durou mais de 20 anos, e mesmo assim, não conseguiu terminá-lo. Após mais de dez anos de conturbadas filmagens, seu projeto permaneceu inacabado. Aqui os personagens de Don Quixote e Sancho viajam pela Espanha de 1960, revelando as pessoas e seus costumes, destacando a clausura e corridas de touros que tanto apaixonava Orson Welles, sem deixar de lado tradições populares como festas de mouros e cristãos, ou procissões religiosas. A excepcional interpretação de Francisco Reiguera e Akim Tamiroff, como Dom Quixote e Sancho Pancho, escolhidos pessoalmente por Welles, assim como a aparição do próprio Welles em algumas cenas, tornam este filme imprescindível. Os dois atores principais morreram antes do término das filmagens (Reiguera em 1969 e Tamiroff em 1972). Com relação ao projeto de Welles há pelo menos dois filmes que atendem pelo nome de Dom Quixote de Orson Welles. O primeiro, esse produzido entre 1957 e 1972, que não chegou a ser montado. O segundo Dom Quixote foi lançado em 1992, sete anos após a morte do diretor norte-americano, e hoje está disponível no Youtube e em Blu-Ray e DVD no Brasil. Ambos os filmes, o inacabado e o de 1992 (este, às vezes, chamado de Don Quixote de Welles (1992) de Jess Franco - sim, o diretor espanhol Jésus Franco Manera conhecido pela sua mistura de horror e erotismo, “horróticos”, e pornô também), autorizado pela herdeira, Oja Kodar e o governo espanhol, revelam muito sobre a trajetória de Welles, um dos mais brilhantes e problemáticos artistas do modernismo norte-americano, que dirigiu sua obra-prima, Cidadão Kane, aos 25 anos. Voltando ao filme de Gilliam, e para quem quiser saber mais sobre essa saga na produção recomendo o documentário Perdido em La Mancha (2002), com roteiro e direção de Louis Pepe e Keith Fulton, onde todos os dissabores possíveis que podemos imaginar para uma produção cinematográfica, de desastres naturais a doenças dos protagonistas, aconteceram. Mas este é apenas um capítulo da saga quixotesca do próprio Gilliam. Em essência, o roteiro segue a base da produção iniciada em 1998, inspirado em Um Ianque Na Corte Do Rei Artur, de Mark Twain, e que Gilliam escreveu ao lado de Tony Grisoni. Na trama, Toby é um cínico publicitário considerado um gênio em sua área, mas que se vê atacado por uma crise de criatividade. Ele está filmando um comercial na Espanha, onde já havia filmado muitos anos antes, fazendo um projeto para a Universidade. O nome desse seu projeto da juventude? O Homem Que Matou Dom Quixote. Já nos primeiros momentos o diretor usa diversos estilos da música tradicional espanhola, para guiar sequências marcantes e também o que trazem de consequência para os personagens, especialmente em momentos de teor cômico (a essência do filme) e romântico.
Para Terry Gilliam, Quixote não foi apenas o “filme dos seus sonhos”, mas também uma maneira de experimentar coisas novas como diretor. Desta vez, estamos diante de seu primeiro filme rodado em digital e de seu primeiro filme capturado por lentes anamórficas, uma empreitada visual da qual o cineasta fez um excelente uso, fortalecendo a interação de personagens ao mesmo tempo contemporâneos e que nos remetem aos romances de cavalaria, mais os grandiosos cenários das Ilhas Canárias, Castilla-La Mancha e Navarra, em Espanha, e do Convento de Cristo, em Tomar, Portugal. Envolvido no projeto desde a versão de 98, o fotógrafo italiano Nicola Pecorini nos mergulha em Universos fantasiosos dominados pelas mais diversas paletas de cores e presença de luz, espaços que ora abraçam a realidade, ora enganam público e os personagens diante de sua característica alucinatória. E coroando essa pintura em luz temos a direção de arte e os figurinos, que se destacam especialmente nas cenas dentro do “castelo”, onde as grandes provações de Dom Quixote acontecem. Falando de Terry, o espectador precisa entender que não se trata de um filme comum. Estamos falando de Terry Gilliam. A proposital loucura e a liberdade criativa do diretor seguem em alta e nos traz não uma adaptação fiel do famoso livro de Miguel de Cervantes, mas uma leitura que, sem dúvida nenhuma, captura a alma do livro. Na ficha técnica temos ainda: título original, The Man Who Killed Don Quixote, produção de 2018 da Espanha, Bélgica, França, Portugal e Reino Unido, com 132 min e roteiro de Terry Gilliam e Tony Grisoni, Elenco: Adam Driver, Jonathan Pryce, Stellan Skarsgård, Olga Kurylenko, Joana Ribeiro, Óscar Jaenada, Jason Watkins, Sergi López, Jordi Mollà, Diogo Andrade, Eva Basteiro-Bertoli, Paloma Bloyd, Jorge Calvo, Jimmy Castro, Maria d’Aires. |
AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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