Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Ao assistir trhillers policiais europeus com mais frequência acabamos nos inteirando das diferenças culturais, educacionais e policiais entre o “velho” continente europeu e o “novo” continente americano. A polícia europeia, principalmente a inglesa e a dos países nórdicos, têm procedimentos e condutas muito características. Para aqueles que curtem filmes policiais como gênero o contraste é muito claro: os filmes policiais europeus, em geral, têm muita inteligência e pouca violência, contrastando com os filmes policiais americanos onde a relação se inverte, sempre com muita violência e uso generalizado de armas, mas pouca inteligência para solucionar os diversos tipos de crimes. Apenas para lembrar, e se quiserem conferir, cito algumas boas séries policiais inglesas mais antigas e outras de anos mais recentes, como “Inspetor Morse”, de 1987, com John Thaw como o inspetor, “Prime Suspect”, de 1991, com Helen Mirren como a Superintendente Jane Tennison, “Inspetor Lewis”, de 2006, com Kevin Whately como o inspetor e “Endeavour”, de 2012, uma prequel do Inspetor Morse, retratando o jovem detetive Endeavour Morse no início de sua carreira na polícia de Oxford. Já comentei neste mesmo espaço, há alguns meses atrás, outras séries policiais. A franquia “Criminal” é outro bom exemplo, com histórias de investigação que se passam no Reino Unido (“Criminal Reino Unido”), França (“Criminal França”), Alemanha (“Criminal Alemanha”) e Espanha (“Criminal Espanha”), todos de 2019 (https://cineclubenatal.weebly.com/blog/criminal-serie-criativa-de-george-kay-e-jim-field-smith-na-netflix). Desta vez comentarei a excelente série policial dinamarquesa “Departamento Q”, departamento este especializado em arquivar casos encerrados, ou no jargão especializado, “cold case”. Os americanos também entraram nessa seara, com a bem sucedida série “Arquivo Morto“ (Cold Cases), de 2003, com Kathryn Morris como Lilly Rush. A “série” “Departamento Q” na verdade é uma tetralogia de filmes iniciada em 2013 e o quarto, e até agora o último, realizado em 2018. São histórias independentes, mantendo os mesmos personagens principais, Carl Mork, Assad e Rose, e atores e atrizes principais, Nikolai Lie Kass, Fares Fares, Johanne Louise Schmidt. Os filmes de 2013 e 2014 tiveram o mesmo diretor, Mikkel Norgaard, o de 2016, Hans Petter Moland e o de 2018, Christopher Boe. O roteirista dos quatro filmes foi Nikolaj Arcel, sobre as novelas de Jussi Adler-Olsen, escritor dinamarquês especializado em temas policiais. O primeiro filme, de 2013, foi “Departamento Q. O Guardião das Causas Perdidas”. É onde ficamos sabendo sobre a origem desse departamento. O detetive Carl foi “transferido” (seria melhor dizer exilado) para essa nova área da delegacia central de policia de Copenhagen em razão de sua personalidade irritadiça, sempre mal humorado, com muitos problemas de cunho pessoal e agressivo com os seus colegas. Carl se sente realmente rebaixado e o que parecia ser uma boa solução para o seu superior – arquivar burocraticamente casos não resolvidos – se transforma numa zona de conflito permanente em razão de sua decisão de abrir novas investigações sobre os casos “frios”. Junto com ele vem um assistente, Assad, que é sírio e muçulmano, mas traz com e para eles uma série de preconceitos da sociedade dinamarquesa. Cada um dos filmes trará um caso policial que já havia sido abandonado, mas não solucionado. E com isso ótimas tramas policiais e de mistério. Todos eles têm excelentes roteiros baseados nos livros de Jussi. O filme de 2014, “Departamento Q: O Ausente”, conta a história da busca pela solução do assassinato de dois jovens, a partir do suicídio do pai deles, um ex-policial, inconformado pela solução dada ao caso. O filme tem muita violência e paixão com um final à altura. Filme com boas atuações e tensão que se arrasta do início ao fim. O terceiro filme da tetralogia, “Departamento Q: A Conspiração da Fé”, de 2016, dirigido por Hans Petter Moland, tem um roteiro excelente em suspense, criatividade e emoção. Ele narra a difícil tarefa de esclarecer o caso de uma nota escrita com o sangue de um menino, encontrada em uma garrafa que ficou muito tempo flutuando no mar. Mais uma vez, argumento violento e uma mostra do temperamento e personalidade de policiais solitários, típico de filmes e livros policiais nórdicos. Aqui ficam muito claros os contrastes entre o policial dinamarquês e o seu assistente de origem síria, tanto pelos métodos investigativos, quanto pelas formas inteiramente diferentes de abordar pessoas nos casos em que envolvem. O quarto filme da tetralogia, ”Journal 64” (ou Departamento Q: Em Busca de Vingança)”, talvez seja o melhor dos quatro. Apesar do título, tem os mesmos personagens e atores e atrizes. É dirigido, no entanto, por outro diretor, Christopher Boe, que consegue manter o mesmo clima de suspense e mistério dos outros filmes. Neste há uma horripilante história de mistério quando três corpos mumificados são achados atrás de uma parede em um velho apartamento em Copenhagen. A partir deste início tétrico a história mergulha em dois tempos paralelos de um esquema de esterilização de jovens imigrantes e dinamarquesas pobres por um grupo de médicos ilustres que acreditam em uma raça pura. “Journal 64” é muito bem conduzido, roteirizado e interpretado.
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AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
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