Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] A sinopse deste filme britânico é bastante simples: depois de encontrar uma série de cartas de amor de 1965, a repórter Ellie Haworth decide resolver o mistério desse romance secreto. São duas histórias ambientadas no presente e no passado que se entrelaçam entre os anos 1960 e os anos 2000. Um filme discreto da diretora americana Augustine Frizzell (Never Goin’ Back, 2018, filme premiado em diversos festivais e a série de tv Euphoria, 2019), numa história de Jojo Moyes (The Last Letter from Your Lover), escrita por Nick Payne e Esta Spalding e produção de Jennifer Weiss, Simone Urdl, Graham Broadbent, Peter Czernin e Stephen Traynor. A música é de Daniel Hart e conta nos principais papéis com Felicity Jones (Ellie Hawort), Shailene Woodley (Jennifer Stirling), Callum Turner (Anthony O'Hare), Joe Alwyn (como Lawrence Stirling) e Nabhaan Rizwan (Rory McCallan, um arquivista). A Última Carta de Amor Na época atual, Ellie Haworth, que recentemente terminou com seu namorado de longa data, tem que escrever um artigo sobre o editor de seu jornal recentemente falecido. Passando pelo arquivista formal Rory para acessar o arquivo da editora, ela encontra uma carta de amor, para alguém identificado como "J", de "Boot". Movida pelos sentimentos apaixonados entre o casal misterioso, Ellie se torna determinada a saber de suas identidades e como sua história de amor terminou. Em meados da década de 1960, a rica socialite Jennifer Stirling e seu marido Laurence viajaram para a Riviera Francesa nas férias de verão. O correspondente estrangeiro, Anthony O'Hare, chega para entrevistar Laurence. Durante um jantar, Jennifer ouve Anthony insultando os Stirlings e seu estilo de vida mimado, levando Anthony a se desculpar com Jennifer. Anthony convida os Stirlings para comer no dia seguinte, mas Laurence é chamado para uma viagem de negócios repentina, deixando Jennifer e Anthony para passar o verão juntos até seu retorno. Eles começam a escrever cartas uns para os outros, sob os pseudônimos "J" e "Boot" (ou "B"). Nenhum dos dois age com a eletricidade crescente deles, até que Jennifer impulsivamente tenta beijá-lo. Quando ele se afasta, ela foge. Alguns dias depois, uma carta escrita por Anthony chega até ela, propondo um encontro no Postman's Park, em Londres. Eles começam um caso, passando momentos juntos onde ela pode estar em segurança com ele. Finalmente, ele propõe que ela fuja com ele para Nova York. Jennifer está hesitante em sair, com medo de ser tratada como rejeitada por sua família e amigos. Depois que Anthony lhe envia uma carta dizendo que estará esperando por ela na estação de trem na noite de sua partida, Jennifer corre para encontrá-lo. Pouco antes de chegar, ela sofre um acidente de carro, com uma pancada na cabeça causando amnésia parcial. Anthony parte para Nova York, acreditando que Jennifer o rejeitou. Seis meses após o acidente de carro, Laurence esconde a última carta que Jennifer recebeu de Anthony na tentativa de impedi-la de se lembrar do caso. Jennifer se sente perdida enquanto luta para recuperar suas memórias. Ela começa a encontrar várias das cartas de amor de "Boot" escondidas em sua casa, levando-a a descobrir uma caixa postal em seu nome que Laurence havia fechado. Jennifer confronta Laurence, que afirma que Anthony morreu no acidente. Quatro anos depois, Jennifer esbarra em Anthony, restaurando suas memórias de seu tempo juntos. Anthony mais uma vez implora para que ela fuja com ele, mas ela se recusa em consideração a sua filha de dois anos. Enfurecida com Laurence por suas mentiras, Jennifer afirma que ficará com ele por causa de sua filha, mas jura ir embora se ele a maltratar. Por sua vez, Laurence ameaça arruinar a reputação de Jennifer e ganhar a custódia exclusiva de sua filha, já que ela só seria vista como adúltera pelo tribunal. Isso leva Jennifer a escapar com sua filha para ir com Anthony. Depois de descobrir que ele saiu do hotel, ela tenta encontrá-lo em seu local de trabalho, mas é informada pelo editor que Anthony já saiu. Forçada a voltar para Laurence, Jennifer dá o maço de cartas de amor ao editor para serem enviadas a Anthony se eles tiverem notícias dele.
Nos dias atuais, Ellie e Rory se aproximam à medida que descobrem mais cartas de amor. Depois de passar a noite com Rory, Ellie se distancia dele. Ela descobre que Jennifer e Anthony estão vivos e vai falar com eles. Depois de ouvir seus arrependimentos e dor pelo romance perdido, Ellie decide entrar em um relacionamento com Rory, escolhendo dar uma nova chance ao romance e não tem sentido viver com arrependimentos. Ellie retorna para Anthony e o encoraja a escrever uma última carta para Jennifer, na qual ele pede a ela para encontrá-lo mais uma vez no Postman's Park. Ellie e Rory assistem juntos à distância enquanto os dois amantes se reúnem. O filme no seu conjunto é bem feito e bem conduzido pela diretora. No geral a aceitação por parte de público e crítica fica na média. Há vários outros filmes no gênero, desde o clássico Tarde demais para esquecer (1957) até os mais recentes como Em algum lugar do passado (1980), Cartas para Julieta (2010), De repente amor (2005), Questão de tempo (2013), Diário de uma paixão (2004)... Como conclusão final, pena que o filme não foi mantido com o titulo original do romance The Last Letter from Your Lover. “From your lover” faz toda diferença na relação entre os dois enamorados.
0 Comments
Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] “Com certeza um filme que fala de memória, verdade e justiça, é um filme que traz uma mensagem importante. Quem dera os filmes pudessem mudar o mundo. Seria lindo. Mas, sim, nos faz perguntar como não cometer novamente os erros do passado” (Alejandra Flechner, como Silvia, a esposa de Strassera, em uma de suas falas quando da passagem dos atores pelo Brasil). Esta é a história verídica dos promotores públicos argentinos Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo que ousaram investigar, processar e condenar a ditadura militar mais sangrenta da Argentina em 1985. O filme tem a cinematografia de Javier Juliá, figurinos de Monica Toschi, edição de Andrés P. Estrada e interpretações magistrais de Ricardo Darin e Peter Lanzani. “Argentina, 1985” ganhou o Prêmio da Audiência no Festival Internacional de Cinema de San Sebastian, sendo exibido em outros festivais de cinema prestigiados em todo o mundo, inclusive os de Veneza, Londres e Rio de Janeiro. Ganhou o Prêmio e ganhou também o Golden Globe. Está indicado como um dos Melhores Filmes da próxima premiação do Oscar em março de 2023. No site Rotten Tomatoes, o longa argentino (realizado em parceria com os Estados Unidos), que foi selecionado para representar o país no Oscar 2023 na categoria de Melhor Filme Internacional, aparece com impressionantes 97% no “Tomatometer”, baseada em reviews dos críticos, e 98% de aprovação no “Audience Score”, nota destinada às impressões do público. A exibição, no Brasil, ocorreu e ocorre apenas no canal de streaming da Amazon Vídeo e afasta o grande público do espaço correto de exibição nos cinemas. Esse seria o espaço mais do que correto de um filme tão atual e importante. Mais ainda num país como o nosso que ficou apenas na investigação dos desmandos da ditadura de 1964, mas deixou de lado os processos judiciais e a condenação correspondente. O resultado desse erro acabou desaguando nos acontecimentos trágicos do dia 8 de janeiro de 2023 em Brasília, quase 60 anos depois. O filme Argentina, 1985 é inspirado na história real dos promotores Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo, uma dupla que ousou investigar e processar a sangrenta ditadura militar argentina, em 1985. Strassera e Ocampo reuniram uma equipe jurídica jovem e cheia de heróis improváveis para enfrentar a influência dos militares na época, para uma batalha no estilo de Davi contra Golias. O filme de longa metragem foi filmado nas locações históricas reais, sob a direção de Santiago Mitre, que também assinou o roteiro ao lado de Mariano Llinás, como vimos. Ricardo Darín e Peter Lanzani protagonizam o filme, nos papéis dos promotores Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo, respectivamente. Além da dupla, há outros nomes em seu elenco como os de Alejandra Flechner, Carlos Portaluppi, Norman Briski, Héctor Díaz, Alejo García Pintos, Claudio Da Passano, Gina Mastronicola, Walter Jakob e Laura Paredes. O filme conta uma história real. Em 1985, terminou o julgamento iniciado em 1983 que declarou culpados 5 dos 9 acusados pelos crimes da Ditadura na Argentina. Conhecido como “Juicio a las Juntas”, esse julgamento tornou-se histórico e muito importante por condenar militares que torturaram e mataram milhares de pessoas. O julgamento foi encabeçado pelo advogado Julio Strassera, tendo Luis Moreno Ocampo como promotor assistente. O filme foca, como vímos, no promotor Strassera sendo convocado para tal julgamento e em todos seus esforços em montar uma equipe para juntar informações, a fim de ter provas suficientes para a acusação. Como a democracia havia sido recuperada há pouco tempo, em 1982, o medo ainda imperava na sociedade argentina. Os militares ainda tinham força. E as pessoas ainda sofriam com tudo o que tinha acontecido. Por conta disso, a equipe reunida por Strassera foi toda de pessoas jovens, que tinham gana para ir atrás das informações e recolher depoimentos de pessoas que sofreram torturas e perderam pessoas. Não á fácil ver e ouvir os depoimentos na tela, claro. Ainda mais sabendo que tudo realmente aconteceu. Mas é importante para novas gerações, que não viveram o terror da Ditadura e a veem somente como uma parte da História, como algo longe delas, entenderem a dura realidade do que aconteceu. O filme manteve-se fiel a todos os aspectos dos anos 80. Do figurino aos enquadramentos, o espectador se sente realmente em 1985. A excelência da fotografia e da iluminação se fazem mais presentes nas cenas onde há relatos sobre as torturas, seja na Corte os nas salinhas de depoimentos para a equipe de Strassera. A iluminação mais fria leva quem está assistindo a sentir-se tão desconfortável quanto quem está recebendo os depoimentos. Porque é impossível sentir-se tão desconfortável quanto quem foi torturado. Quando Almudena González, intérprete de Judith, chora, sob a luz azulada, após a leitura de um depoimento, é impossível não chorar junto.
Apesar do tema sensível, o filme não foge, talvez para equilibrar um pouco, de algumas cenas de humor. Elas não parecem estranhas no contexto geral e cumprem perfeitamente seu papel, fazendo rir de verdade e permitindo que, quem assiste, possa dar um respiro entre tanto terror. E, finalmente, é preciso falar de Santiago Armas Estevarena, intérprete de Javier. O jovem já demonstra uma ótima atuação como o filho curioso e politizado de Strassera. O filme é a grande aposta de indicação ao Oscar 2023 da Argentina. Além de ter uma temática muito relevante, é, também, uma grande produção. Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Um filme de mais de três horas de duração (exatamente 187 minutos), produzido em 2022, mostra de forma extraordinária em que pé está o polo de cinema de Bollywood, na Índia, o já conhecido e falado polo produtor de cinema, fora dos esquemas de produção nos EUA, na Europa e na Ásia. É importante também lembrar que Bollywood é apenas a parcela em hindi da sua produção; “RRR”, por exemplo, é falado em télugo, apesar da versão disponível na Netflix ser dublada em hindi. A proposta de lá é fazer filmes que possam ter apelo para diferentes faixas demográficas da sua “pequena” população de mais de 1 bilhão de pessoas, atendendo ainda a uma amálgama heterogênea de tons e gêneros e de público. A cola que une todos esses impulsos díspares é a sensibilidade particular do modo de ser indiano – que, em cinema, se aproxima mais de uma lógica da “mostração” que da narração. Assim, em “RRR”, Rajamouli, seu diretor e roteirista, frequentemente pausa o andamento da trama para prolongar-se sobre alguma nova vista espetacular – e tome slow motion e dollys circulares. Seu uso de CGI é, nesse sentido, perfeito, complementando uma fluidez espacial que está mais preocupada em deslumbrar do que se ater às nossas monótonas leis da Física. A história do filme se passa na década de 1920, em uma Índia ainda colônia do Império Britânico, “RRR” conta a história da improvável amizade entre um oficial indiano servindo aos britânicos, Raju (Ram Charan), e o camponês revolucionário Bheem (N. T. Rama Rao Jr.). Raju e Bheem são nomes de figuras reais na história revolucionária indiana. Há um oficial inglês extremamente cruel que sequestra uma criança de uma tribo porque ela canta bem. Bheem, um dos membros da tribo, não vai deixar as coisas assim e fará de tudo para recuperá-la. O outro personagem principal é Raju, um indiano membro do exército inglês que tem um plano ambicioso e desesperado para expulsar os invasores. “RRR”, contudo, é um filme e não uma aula de história; boa parte do que o filme mostra em se tratando de seus heróis – incluindo sua força sobre-humana e habilidade musical – é fictício, a começar pelo fato de que, na vida real, Raju e Bheem nunca sequer se encontraram (Alluri Sita Ramaraju e Komaram Bheem, seus nomes reais, lutaram pela independência da Índia). No elenco aparecem ainda Ajay Devgn, Alia Bath, Olivia Morris e Ray Stevenson. A música é de M. M. Keeravani, a cinematografia é de K.K. Senthil Kumar e a direção de arte de Sabu Cyril. Esse foi um dos filmes mais comentados ao longo de 2022 e não sem motivos. Se você gosta de ação, mas está saturado com a forma como Hollywood trata esse gênero saiba que “RRR” é uma ótima opção. Mas é importante que você esteja preparado para os exageros comuns ao cinema indiano. A duração é longa, o ritmo é muitas vezes frenético, as cenas de ação desprezam as leis da física, o vilão é unidimensional, a história tem certa previsibilidade e há alguns números de dança e cantoria. E tudo isso funciona de maneira magistral, fazendo de “RRR” uma absoluta loucura cinematográfica extremamente divertida. O título, é verdade, não nos diz muito: Rise, Roar, Revolt em inglês, e “Revolta, Rebelião, Revolução” em português, mas, originalmente – e esse é o pulo do gato –, as iniciais representam os nomes de seus astros: Ram Charan como o temível militar Raju, Rama Nao como o afável Bheem e, finalmente, o próprio diretor S. S. Rajamouli. O diretor, que já trazia no seu histórico a maior bilheteria da história da Índia com seu Baahubali 2: A Conclusão, de 2017, desbancou a si mesmo com “RRR”, que tomou o título para si. Semelhante ao grandioso Bahubali: The Beginning de 2015, “RRR” é um filme que jamais se preocupa em explicar suas origens fantásticas. Ou melhor, nem faz questão de tornar isso uma questão. Quando vemos um pacífico integrante de um vilarejo colonial enfrentando um tigre de igual pra igual, não há necessidade de lógica - as alternâncias entre a câmera lenta e acelerada, pontuadas por uma trilha sonora bombástica, te convidam a apenas apreciar o momento entre homem de verdade e criatura de CGI. Impressiona também a relação entre o realismo das sequências de ação e a fantasia adotada na abordagem. Por mais absurdo que sejam os feitos físicos dos protagonistas, eles estão ali, tornando a suspensão da descrença algo praticamente automático. Em determinada cena, dois homens que nunca se viram antes se comunicam por olhares e realizam um resgate “impossível”, o que deve provocar o famoso “só em filme” do pessoal apaixonado por verossimilhança, mas alérgico a Cinema realista de verdade. E claro que a noção Ocidental de atuação se corrompeu ao longo dos anos, mas o que faz a dupla principal aqui é digno de todas as aclamações possíveis - além de atuarem “bem”, realizam as sequências de ação a modo de envergonhar as massinhas de modelar que substituem os astros norte-americanos, e ainda dançam mais do que estes. Interessante também como Rajamouli encontra espaço para explorar temas mais substanciais: a dicotomia do cavalo e da moto, a arma como maneira de libertação do povo e não de violência descabida, a tecnologia em prol do desenvolvimento humano e de suas relações.
E por mais empolgantes e/ou gratificantes que estes momentos sejam, ao abusarem da relação ingênua, quase infantil com o Cinema de ação e fantasia, acabam abordando com uma superficialidade frágil a ideologia, no mínimo, discutível que o filme adota. Não que seja difícil enxergar os ingleses como criaturas malignas, algo até comovente (difícil imaginar outra maneira que crianças indianas os enxergariam na época da colonização) justamente por contrapor os objetivos materiais do império com a simples, mas poderosa vontade de viver em liberdade que todo Indiano ainda deve partilhar. Mas, por mais gratificante que seja ver o início da destruição do império colonizador, a verdade é que os crimes foram ainda mais brutais que aqueles ali mostrados, e não foram resolvidos de maneira heroica e/ou “satisfatória”. Não foi uma flecha, mas uma greve de fome, a maior das ironias para um povo que tanto sofreu, e que só queria ter sua própria terra de volta. De novo, Rajamouli parece ciente disso - e não economiza na brutalidade dos vilões -, e visto o sucesso do filme na Índia, e no mundo, parece ter caído bem. O que não deveria surpreender. Pois mesmo com suas políticas inevitavelmente ambíguas, “RRR” é um filme tão sincero e apaixonado por seus heróis que o resultado final é um blockbuster adorável sobre como resolver as mazelas históricas com explosões e dança. Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] A minissérie Notre-Dame -- Catedral em Chamas (Notre-Dame, la part du feu) foi lançada oficialmente pela Netflix como um projeto original. Sem contar com grandes destaques, o elenco protagonista é formado por Roschdy Zem, Caroline Proust, Megan Northam, Simon Abkarian, Alice Isaaz, Marie Zabukovec, Sandor Funtek, Corentin Fila, Ambroise Sabbagh, Frédéric Chau, Victor Belmondo, Kassem Al Khoja, entre outros. Hervé Hadmar é o responsável pela direção dos 6 episódios da série francesa, que por sua vez tem o seu roteiro assinado por Olivier Bocquet e Hervé Hadmar. O time de produtores do projeto da Netflix é formado por Aimée Buidine, Philippe Guez, e Julien Madon. A trama de Notre-Dame — Catedral em Chamas é ambientada na noite em que a Catedral de Notre-Dame pegou fogo no ano de 2019, tendo como objetivo mostrar o destino dos homens e mulheres que precisam apagar incêndios pessoais enquanto tentam impedir que as chamas se espalhem pela famosa igreja. A produção acompanha os bombeiros de Paris vivendo as agruras da vida e do trabalho, onde se enfrentam, se amam, se odeiam e se ajudam em busca de uma chance de recomeçar. A Netflix acabou de estrear a série Notre-Dame — Catedral em Chamas, e nos perguntamos o que é real na trama desta produção, com tanta cena dramática daquele incêndio pavoroso e destruidor. A série original de seis partes não é apenas ambientada durante a noite em que o grande monumento gótico foi queimado. Mas também mapeia o impacto da tragédia na diversificada comunidade parisiense. O filme é apenas parcialmente baseado numa história real, ou seja, o próprio incêndio da Catedral de Notre-Dame. Houve uma parceria real entre o Corpo de Bombeiros de Paris e o renomado jornalista Romain Gubert, autor do livro-reportagem La Nuit de Notre-Dame (ou A Noite de Notre-Dame), de 2019. O livro é um registro dos bombeiros que serviram incansavelmente em 15 de abril de 2019, o dia em que uma chama “estourou” – possivelmente devido a um curto-circuito – logo abaixo do telhado do local religioso, por volta das 18h30, ameaçando engolir todo o local. Pela cronologia do incêndio e pela descrição feita pelo livro e destacado no filme o primeiro grupo de bombeiros (ou socorristas como destacado no filme) respondeu à cena quase imediatamente. Teria sido o suficiente se o incêndio não fosse tão intenso, como se revelou mais tarde durante o seu combate. Mais de 400 homens e mulheres arriscaram voluntariamente suas vidas para garantir que o fogo logo ficasse sob controle durante seu combate de horas que, felizmente, não teve vítimas fatais, mas sim muitos feridos. A temperatura dentro da catedral chegou a 800 graus Celsius. E os bombeiros tiveram até que extrair água diretamente do rio Sena. O combate ao fogo, em sua maior parte e tempo teve que ser feita a partir do solo e não do alto, pois havia o receio genuíno de danificar ainda mais a estrutura geral. Mas, mais do que isso, havia o medo real de que a estrutura, boa parte a madeira original da construção da catedral, não suportasse o fogo e a água que estava sendo usada em abundância para controlar o próprio fogo. O medo se confirmou ser muito real quando a enorme torre do edifício acabou por desmoronar, felizmente somente após um total de 15 horas de combate contínuo. Somente na manhã de 16 de abril de 2019, o fogo foi declarado completamente extinto. Acredita-se que a Catedral de Notre-Dame será restaurada à sua antiga glória até 2024, com um investimento substancioso. Por incrível que pudesse parecer a princípio, houve de fato algumas pequenas áreas que sofreram pouco ou nenhum desgaste por calor ou fogo. Se o incêndio da minissérie é real, os seus personagens não o são, pelo menos totalmente. Alguns foram inspirados realmente pelas ações de pessoas reais, mas não totalmente com base nelas. O próprio diretor Hervé Hadmar assumiu que a minissérie tem um viés mais para o romântico ou o melodramático: “Eu estava interessado em entrar nisso e estar com personagens que experimentaram coisas naquela noite”.
Para tanto ele olhou fotos reais daquela fatídica noite de 2019 antes de escolher seus personagens finais e “virou a câmera 180 graus para todas essas pessoas. Com meu co-roteirista, tentamos imaginar suas vidas. Então fizemos uma lista de 20 a 25 personagens diferentes. No final, não tivemos todos, mantivemos apenas seis ou sete”. Como vimos a história acompanha os acontecimentos da noite de 15 de abril de 2019, quando um incêndio se espalhou pela famosa Catedral de Notre-Dame de Paris, destruindo parte da igreja e causando tensão na cidade. Nesse contexto, um grupo de bombeiros e de cidadãos parisienses são desafiados até seus limites, com cada um deles com os seus próprios dramas. Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Leões e Cordeiros é um filme de 2007 dirigido por Robert Redford. Com ótimas atuações de Meryl Streep, Tom Cruise, Robert Redford, Michael Peña, Derek Luke, Andrew Garfield, Kevin Dunn e Peter Berg. O roteiro é de Matthew Michael Carnahan, fotografia de Philippe Rousselot, montagem de Joe Hutshing e música de Mark Isham. O filme é dividido em três frentes narrativas e traz o próprio Redford como o professor Stephen Malley, que, numa faculdade da Califórnia, tenta convencer seu aluno mais promissor, Todd (Garfield), a explorar melhor o seu potencial. Para isto, ele fala sobre dois ex-alunos, Ernest Rodriguez (Peña) e Arian Finch (Luke), que trancaram matrícula e se alistaram no exército, encontrando-se atualmente em uma missão secreta no Afeganistão – o que compõe o segundo terço da trama. Finalmente, acompanhamos uma intensa conversa entre a jornalista Janine Roth (Streep) e o senador republicano Jasper Irving (Cruise), que decide conceder uma entrevista exclusiva à repórter para revelar uma nova estratégia na “guerra contra o terrorismo”: o estabelecimento de pontos avançados no Afeganistão que possam ser utilizados numa ofensiva futura contra o Irã. Isso vale para qualquer uma das guerras desenvolvidas pelos EUA ao longo da história. Provavelmente a maioria das pessoas não se lembra mais, ou então ainda não parou para pensar, que o conflito entre EUA e Iraque, por exemplo, já tem um tempo de duração maior que o da Segunda Guerra Mundial. E que certamente não vai terminar tão cedo. É justamente este o maior mérito do filme “Leões e Cordeiros”: fazer com que as pessoas parem e pensem. Pensar no absurdo desta(s) guerra(s) fabricada(s), pensar na função de cada indivíduo dentro da sociedade, pensar no papel da mídia. Ou seja, o filme dirigido e interpretado por Robert Redford, “Leões e Cordeiros”, propõe exatamente o contrário da maioria dos filmes norte-americanos: pensar. O que é coerente com a longa carreira de Redford, sempre associada a trabalhos ligados a causas políticas e humanitárias. Em poucas horas de ação simultânea numa universidade da Califórnia, num gabinete do Congresso em Washington e numa montanha nevada do Afeganistão, Leões e Cordeiros sintetiza todo um debate que está afetando corações e mentes nos EUA (e creio que no resto do mundo também, vide a recente guerra entre a Ucrânia e a Rússia). Robert Redford não está ali para brincadeiras. Não faz rodeios de dramaturgia nem enfeita o discurso. Vai direto ao ponto. Sua consciência liberal precisa se exprimir de maneira rápida e crua. Em 2007, ano da realização do filme, os ideólogos da guerra estão no comando. A juventude está apática. A imprensa, em crise de consciência. E os “garotos” continuam morrendo no “front”. Cada um dos três blocos do filme veicula uma parte dessa equação, como vimos. O próprio Redford vive um professor de Ciências Políticas, veterano do Vietnã, que tenta convencer um estudante a colocar sua inteligência a serviço de uma boa causa. O desinteresse dos jovens pela política – mas não eventualmente pela sua face bélica, aventureira – abre espaço para as investidas de falcões como o senador republicano vivido por Tom Cruise, que impõem uma visão do mundo em preto-e-branco. Enquanto isso, Meryl Streep vive Janine Roth como o tipo de jornalista que fez (e faz) tanta falta aos Estados Unidos pós-11 de Setembro: dona de um rigor intelectual admirável, ela não hesita em fazer as perguntas certas (e duras) ao poderoso político à sua frente – e tampouco deixa de rebater as respostas vazias, incompletas ou falhas que lhe são apresentadas, deixando claro que não se contentará em ser uma mera porta-voz oficial das novas políticas daquela administração (um papel que, infelizmente, até mesmo jornais como o New York Times assumiram nos primeiros anos do governo Bush). Robert Redford, por sua vez, parece encantado com a postura idealista de seu personagem, sem perceber que, em boa parte das vezes, acadêmicos como Stephen Malley adoram bater nas próprias costas por sua visão progressista do mundo, mas falham diante da postura infinitamente mais agressiva dos conservadores, que acabam dominando a política norte-americana (e não apenas ela, infelizmente) ao explorarem a passividade de seus rivais liberais – e Malley entrega esta sua falta de pragmatismo ao dizer que o importante é “fazer qualquer coisa”, sem se importar com a eficácia da estratégia adotada, ou seja: se a intenção é nobre, falhar ao executá-la não é realmente um problema. Esta, aliás, também é a postura dos soldados vividos unidimensionalmente por Derek Luke e Michael Peña (que passam a maior parte da projeção imobilizados e à espera de socorro), que só se tornam mais interessantes quando comparados ao fraco novato Andrew Garfield, que interpreta o aluno Todd Hayes de maneira irritante, limitando-se a reagir com risadinhas irônicas a tudo que seu professor diz, transformando seu personagem em um sujeito incrivelmente antipático – algo gravíssimo, já que o roteiro espera que torçamos por sua “conversão”. Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Onze curtas de diferentes diretores mostram que, em Nova York, o amor está em toda parte. As histórias se passam em bairros específicos da cidade, tecendo uma colcha de retalhos do que é a vida na metrópole mais emblemática de nosso tempo, uma cidade que nunca dorme. Diretores tão diversos quanto Mira Nair, Fatih Akin, Yvan Attal, Allen Hughes, Shekhar Kapur, Shunji Iwai, Jiang Wen, Joshua Marston, Natalie Portman (em sua primeira direção), Brett Ratner, Randall Balsmeyer e Jason Reitman trabalham em 13 roteiros diferentes de FatihAkin, Yvan Attal, Xan Cassavetes, Shunji Iwai, Joshua Marston, Anthony Minghella, Jeff Nathanson, Jiang Wen, Natalie Portman, Israël Horowitz, Emmanuel Benbihy, Scarlett Johanson e Jim Strouse. Mais interessante ainda é o elenco multifacetado composto por Hayden Christensen, Rachel Bilson, Andy Garcia, Natalie Portman, Orlando Bloom, Christina Ricci, Ethan Hawke, Anton Yelchin, Shia LaBeouf, Julie Christie, John Hurt, Bradley Cooper, James Caan, Chris Cooper, Robin Wright, Elli Walach, Cloris Leachman, Kevin Bacon, Goran Visnjic e mais uma dezena de outros. Tudo isso costurado numa bela direção de arte de Katya DeBear, onde se misturam histórias de amor, humor, medo e todas as conexões de sentimentos, obviamente acontecendo em Nova York. A trilha sonora é ótima, de Michael Danna, Mark Mothersbaugh, Marcelo Zarvos, Nicholas Britell e Atticus Ross e as histórias são curtas e envolventes. Mesmo em se tendo 10 estórias diferentes isso não prejudicou a continuidade do filme. Ideia original e muito bem executada. O filme é da franquia "Eu Te Amo" (Cities of Love), que já realizou dois outros filmes nos mesmos moldes, Paris, Eu Te Amo (2006) e Berlim, Eu Te Amo (2019). Os filmes da franquia "Eu Te Amo" são conhecidos por uma parcela do público mais ou menos fiel e, dentre suas características principais, uma delas é a participação de nomes conhecidos na direção, no elenco e na produção. Nova York, Eu Te Amo não foge à regra sendo realizado após Paris, Je t´aime. Ao reunir em Nova York o trabalho de 10 diretores, entre eles a estreante Natalie Portman, e contando com vários rostos conhecidos estampados na telona, o filme formado por várias histórias é um grande caleidoscópio poético e cáustico de uma metrópole que bem simboliza o capitalismo selvagem. Após cenas rápidas da “Big Apple” na abertura, você embarca no primeiro conto que é quase uma síntese e marca registrada, envolvendo a pressa, um táxi e um motorista indiano. E uma vez escancaradas as portas da cidade, o que se vê em seguida são pequenas e significativas esquetes, pontuando aspectos típicos de um lugar que não para uma selva de concreto onde a mistura étnica é uma realidade permanente. Nova York, Eu Te Amo é o 2º. filme do projeto Cities of Love. O anterior foi Paris, Te Amo (2006). O filme foi gravado em 36 dias. Em linhas gerais, os cineastas tinham 24 horas para filmar e uma semana para editar, dando uma visão pessoal do bairro e de sua vizinhança. As filmagens ocorreram entre 10 de março e 30 de abril de 2008. Apenas como curiosidade, sua primeira exibição foi no Festival de Toronto de 2008 e inicialmente Nova York, Eu Te Amo tinha dois segmentos a mais, um dirigido por Scarlett Johansson e estrelado por Kevin Bacon, e outro dirigido por Andrei Zvyagintsev e estrelado por Carla Gugino, Goran Visnjic e Nicholas Purcell. Ambos foram retirados na edição final do longa-metragem, mas chegaram a ser exibidos em sua apresentação no Festival de Toronto. O segmento "Upper East Side" seria dirigido por Anthony Minghella, que faleceu antes das filmagens. Ele acabou nas mãos de Shekhar Kapur, que dedicou o filme ao amigo no início dos créditos finais.
Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Robert McCall é um ex-oficial das forças especiais que simulou sua morte para viver uma vida tranquila em Boston. Quando precisa sair de sua aposentadoria autoimposta para resgatar uma jovem (Teri), ele se encontra frente a frente com gangsters russos ultraviolentos. Enquanto pratica atos de vingança contra todos os que agem brutalmente sobre pessoas indefesas, o desejo de justiça de McCall se reacende. O filme conta com Denzel Washington, Chloë Grace Moretz, Marton Csokas entre outros. Como disse, a direção é de Antoine Fuqua, foi realizado nos EUA em 2014 e é baseado na série de televisão The Equalizer (O Justiceiro) dos anos 1980 (1985-1989, com 4 temporadas). O roteiro é de Richard Wenk, Michael Sloan e Richard Lindheim. Como o roteiro não trazia muitas indicações sobre o personagem Robert, foi o próprio Denzel que contribuiu sobre as características do personagem, principalmente sobre o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) que ele apresenta. Além disso, Robert McCall (Denzel Washington) é uma espécie de Batman. E com certeza esconde sob a fachada de assalariado comum uma fortuna tão grande quanto a de Bruce Wayne, o que indica que a CIA deveria pagar muito bem os seus agentes. Pelo menos é isso que O Protetor deixa a entender quando sugere que era lá que se empregava o nosso protagonista antes de decidir vingar a surra que traficantes russos de mulheres aplicam na jovem Teri. A vendeta, entretanto, acaba chamando a atenção de Teddy (Marton Csokas), um letal e habilidoso investigador a serviço desta rede criminosa internacional. Antoine Fuqua é quem assume a direção do filme, reafirmando a parceria com Denzel depois de ter lhe rendido um Oscar treze anos atrás (por Dia de Treinamento (2001). Fuqua é um tanto irregular em sua filmografia, mas é um bom maestro de sequências de embates. Ele já comandou o eficiente Lágrimas do Sol (2003), mas também os péssimos Rei Arthur (2004) e Invasão à Casa Branca (2013).
Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] A mágica de Fogo Contra Fogo se resume numa frase dita por Robert De Niro em diferentes momentos da história contada através de um roteiro impecável: "Não assuma compromissos com nada que não possa largar em 30 segundos se a coisa suja na esquina." Isso leva, necessariamente, à criação de uma disciplina de conduta crua e brutal para si mesmo e na relação com os outros. Essa é a disciplina conduzida por Robert De Niro num papel magnífico e com uma atuação brilhante como Neil McCauley. Que irá se contrapôr seguidamente com outro ator extraordinário, num papel igualmente muito forte, Al Pacino na pele de Vincent Hanna. Com essa dupla nos papéis principais e Michael Mann, inspiradíssimo numa direção segura e temos uma obra prima nas mãos que há muito não se via. Mann estabelece suas concepções narrativas morais e estéticas diretamente, sem voltas fúteis ou desconexas na linguagem, mostrando diferenças e semelhanças entre os dois personagens principais. Além deles há, ainda, Val Kimmer, Tom Sizemore e Jon Voight. De aparência simples, até a sinopse o é: Neil McCauley é seu grupo cometem roubos de forma rápida eficiente, mas em um assalto no valor de US$ 1,6 milhão, três policiais são mortos. Agora, o Tenente Vincent Hanna assume o caso e pretende fazer tudo o que for possível para acabar com essa quadrilha, mesmo com poucas pistas. No entanto, este policial de jogo de gato-e-rato trabalha com questões de moral e personagens e seus dramas bem definidos onde se estabelecem os conflitos centrais diretamente, porém sem a mínima pressa para resolvê-los. O que interessa aqui é o posicionamento moral frente ao absurdo cotidiano. O que é a moral? Pra quê e pra quem ela serve? Não há julgamento moral aqui. Há um contínuo embate, plenamente consciente pelos dois personagens principais. Pacino interpreta Vincent Hanna, um agente do Departamento de Roubos e Homicídios de Los Angeles. De Niro dá vida para Neil McCauley, um dos maiores profissionais do crime organizado. O caminho de ambos se encontra a partir do momento em que Hanna passa a investigar um roubo e todas as pistas o levam para o confronto com McCauley. São dois homens inteligentes, talentosos e considerados os “melhores” do seu ramo. ÀS VEZES EXAGERAMOS NOS ELOGIOS PARA DETERMINADAS OBRAS. Tornamos o "genial" banal diante a quantidade de produtos e obras de qualidade que chegam até nossas mãos, olhos e ouvidos nos tempos atuais. Nossa empolgação costuma ofuscar o bom senso e muitas vezes algumas opiniões ultrapassam determinados limites. Ainda que sejam poucos títulos, já aconteceu de lançamento dos últimos cinco anos até entrar em nossa lista de 100 filmes favoritos. Se foi o momento ou não, só saberemos com o passar dos anos. No entanto, para uma obra lançada em 1995, como Fogo Contra Fogo (Heat), não podemos estar mais certos ao afirmar: é sim um clássico moderno, uma obra imperdível do cinema de ação e obrigatória para qualquer cinéfilo que se preze. Para quem observa por fora, sem ter visto ao filme ainda, o reencontro de Al Pacino e Robert De Niro certamente pode ser um influenciador. Os dois atores trabalharam juntos em O Poderoso Chefão 2, mas não chegaram a contracenar. Esse encontro foi o sonho dos amantes do cinema durante muitos anos e coube ao cineasta Michael Mann realizá-lo. Mestre do cinema de ação e especialista em criar personagens viciados em seus trabalhos, a direção de Mann é o verdadeiro trunfo do longa-metragem. O charme de ter dois dos maiores atores de Hollywood juntos não significa garantia de sucesso (vide o fiasco As Duas Faces da Lei, de 2008), já que eles precisam ser dirigidos por alguém capaz de dar conta de tanto talento em cena e usar isso em favor da própria obra. Pacino interpreta Vincent Hanna, um agente do Departamento de Roubos e Homicídios de Los Angeles. De Niro dá vida para Neil McCauley, um dos maiores profissionais do crime organizado. O caminho de ambos se encontra a partir do momento em que Hanna passa a investigar um roubo e todas as pistas o levam para o confronto com McCauley. São dois homens inteligentes, talentosos e considerados os “melhores” do seu ramo, e um confronto é inevitável. É impressionante como Mann consegue introduzir tanta informação útil e desenvolver o background de muitos personagens secundários sem parecer que está apenas enrolando e gastando o nosso precioso tempo. Aliás, vale dizer que são quase três horas de duração de filme. A narrativa é tão eficiente que nem sentimos os 172 minutos. Do lado dos “mocinhos”, uma subtrama é dedicada para desenvolver a enteada de Hanna, que é um dos primeiros trabalhos no cinema da atriz Natalie Portman. A pré-adolescente está deprimida com a ausência do pai e o comportamento passivo da mãe e tenta se matar. Ainda que tenha poucos minutos em cena, é Natalie Portman mostrando que desde pequenininha já seria uma atriz sensacional. A outra trama mostra a esposa de Hanna tendo um caso para encerrar o seu relacionamento morto. O motivo disso não podia ser outro: a dedicação constante do marido para o trabalho e sua ausência na vida doméstica. Já pelo lado dos vilões, acompanhamos o casamento complicado de Chris (Val Kilmer) e Charlene (Ashley Judd), com direito até mesmo a uma atenção especial para que a relação extra-conjugal da esposa tenha uma função importante no roteiro; e Brendan (Dennis Haysbert), que até pode parecer desnecessário com o drama de um ex-presidiário que precisa se contentar com um emprego de merda para um chefe ainda mais bostão, mas é fundamental para outro gancho que define a participação de Trejo (Danny Trejo). Isso só para falar dos coadjuvantes, já que o roteiro apresenta e define muito bem os seus protagonistas. Somos apresentados a Hanna logo num momento íntimo. Somos voyeurs de uma relação sexual entre marido e esposa e percebemos que a câmera de Mann respeita demais o sexo. É algo sagrado e apaixonado. E assim como na maioria de suas outras obras, não temos nenhum pedaço de carne sobrando ou detalhes que possam dar um ar erótico para a cena. No cinema de Mann, o sexo é poesia. Logo depois da transa, Mann se revela como um homem focado apenas no seu trabalho e que se mantém afastado da família. Um líder nato e com autoridade inquestionável, como podemos ver nas cenas em que coordena seus detetives para investigar as pistas do assalto que inicia Fogo Contra Fogo. O fetiche de Mann com vilões não poderia ficar de fora do seu clássico. Em muitas de suas obras, o cineasta demonstra sua admiração com o mundo dos criminosos que não são pessoas ruins de fato, mas apenas homens que seguiram os caminhos errados. Nesse ponto, impossível não comparar com John Dillinger (Johnny Depp) em Inimigos Públicos, que provavelmente é um dos principais trabalhos do diretor ao lado de Fogo Contra Fogo. McCauley não chega a ser conhecido e admirado, como Dillinger, mas ele conquista justamente quem importa mais: você, o espectador. Nós o entendemos de imediato. Frio, organizado e metódico, o criminoso gosta de agir de acordo com suas próprias regras para evitar problemas e conflitos desnecessários. E é justamente esse espírito que faz com que ele viva os conflitos que resultam no seu destino. Depois de ser traído por um ex-comparsa (inclusive, vai aqui uma curiosidade sobre Waingro. Na sequência inicial todos os personagens usam máscaras de jogadores hoquéi. No cinema, máscaras de hoquéi lembram o assassino de Sexta-feira 13. E justamente Waingro usa a máscara que mais se assemelha ao clássico do horror e isso nos faz imaginar que talvez ele seja um grande psicopata desequilibrado imediatamente), McCauley vai buscar vingança. Ou justiça, para ser mais justo com os ideais do personagem. Como protagonista de Fogo Contra Fogo, os detalhes para entendermos McCauley aparecem aos poucos, sutilmente, mas perfeitos: o filtro azul que domina a cena em que o personagem está sozinho em pé refletindo é importante para isso. O azul aqui significa solidão, a frieza e calma do ambiente – que, se você perceber, irá sentir a falta de móveis e qualquer outra coisa que não seja fundamental para a sobrevivência. McCauley é a versão criminosa de George Clooney em Amor Sem Escalas, digamos assim. Ele não precisa de trinta segundos para arrumar as suas coisas e fugir. E em comum com o personagem de Clooney existe uma paixão arrebatadora que o faz questionar suas convicções e passar se incomodar com o vazio em sua vida (como na sequência em que os criminosos estão jantando com suas esposas e McCauley é o único sozinho).
Com dois personagens principais tão fortes e bem trabalhados seria um desperdício que eles não tivessem mais que apenas um duelo final que fatalmente resultaria em morte. O roteiro de Mann nos presenteia com um duelo verbal em que os dois se estudam e demonstram respeito e admiração. Em outra vida, eles provavelmente seriam grandes amigos, mas agora estão em lados opostos e deixam bem claro que no próximo encontro não hesitarão em matar um ao outro. Não tenho certeza, mas talvez o único sorriso verdadeiro de Hanna seja durante a conversa e a maneira como McCauley mexe com ele. É a confirmação de que Hanna é um homem tão concentrado no seu trabalho que apenas ele é capaz de lhe despertar alguma emoção, ao contrário de seu rival, que passa a ter na sua namorada um motivo de experimentar outro tipo de vida. Há milhares de coisas para serem ditas sobre o longa-metragem de Michael Mann, mas prefiro encerrar com uma besteira bem simples depois de destacar tanto a psicologia dos personagens. Enquanto Waingro está prestes a matar uma prostituta, Mann insere uma das elipses (passagem de tempo em que se omite informações facilmente identificáveis – o exemplo mais marcante é a do macaco jogando o osso para o alto em 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, e depois entra a cena da nave no espaço) mais interessantes que me recordo no cinema: depois de dar a entender que irá quebrar o pescoço da profissional do sexo, o espectador é surpreendido com uma garrafa de cerveja abrindo. Detalhes sutis que justificam todos os elogios para esse filme. Fogo Contra Fogo é considerado como um dos melhores filmes da década de 1990 (e ficou entre os cinco primeiros na nossa eleição com os principais longas de 1995 – mas você ainda terá que esperar um pouquinho para conferir o resultado completo) e uma das obras obrigatórias do cinema de ação. Assistir ao encontro de De Niro e Pacino sob direção de um cineasta competente como Mann é uma experiência inesquecível. Daquelas que ficam em nossa memória por muito tempo, assim como a vontade de separar um tempinho apenas para rever o filme inteiro. Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] Filme épico e de drama em coprodução EUA e China, de 2005, direção de Robert Marshall, produção de Lucy Fisher, Douglas Wick e Steven Spielberg, roteiro de Robin Swicord, baseado no livro de mesmo nome de Arthur Golden, música de John Williams, com Zhang Ziyi (Chiyo Sakamoto/Sayuri), Ken Watanabe (presidente Iwamura Ken), Gong Li (Hatsumomo) e Michelle Yeoh (Mameha). A produção ocorreu no sul e no norte da Califórnia e em vários locais de Quioto, incluindo o templo Kiyomizu-dera e o santuário Fushimi Inara-taisha. Memórias de uma Gueixa conta a história de uma jovem garota, Chiyo Sakamoto, que é vendida por sua família a uma okiya, uma casa de gueixas. Sua nova família irá enviá-la para a escola para se tornar uma gueixa. Chiyo, que passaria a ser conhecida por Sayuri — o seu nome de gueixa — recebe a sua formação de uma das mais conceituadas gueixas do Japão, Mameha, rival de uma outra (Hatsumomo) que vive na sua casa (okyia) e que, desde a sua chegada, tem dificultado a vida. Este filme é principalmente sobre Chiyo mais velha e sua luta como uma gueixa para encontrar o amor, sendo que neste processo termina por fazer um monte de inimigos. O filme foi indicado e ganhou inúmeros prêmios, incluindo indicações para seis Oscar , ganhando três: Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino. Este drama-romance provocou muitas críticas, principalmente da mídia japonesa, à época de sua estréia. Tanto por trabalhar com a cultura japonesa, quanto por evocar questões muito sensíveis, herança das questões étnicas e políticas pós-segunda guerra. Uma questão muito sensível foi a dança apresentada por Sayuri. A cena em que Sayuri tem sua dança solo é linda, um deleite visual, mas nada fiel ao tipo de dança da época que o filme retrata. Ela usa um figurino Kabuki e faz uma dança Butoh, ambos contemporâneos e que só surgiram na década de 70; além disso, ela usa sandálias muito altas que são típicas de Oirans (prostitutas). Para os japoneses, essa mistura toda só fez descaracterizar o filme e fazer a personagem parecer um fantasma. Mesmo que o roteirista Robin Swicord tenha feito um esforço no sentido de diferenciar as gueixas das prostitutas comuns, o que acaba criando um vácuo narrativo na história, já que as experiências daquelas mulheres assumem uma ingenuidade incompatível com o restante da trama. Se ignorarmos essa rigidez das críticas japonesa (lembrem-se que o filme é uma coprodução EUA/China) o filme se torna um espetáculo. A fotografia é maravilhosa e combinada com a trilha sonora de John Williams tudo fica mágico e encantador. Os cenários são maravilhosos, principalmente ao mostrar os jardins. As flores de cerejeira pareciam combinar perfeitamente com os traços de Zhang Ziyi, criando uma harmonia entre a atriz e o cenário. Além dela as atuações de Gong Li, como sempre espetacular, de Youki Kudoh (Pumpkin) num papel difícil de adolescente, quando você já tem 35 anos, de Kaori Momoi no papel da gueixa-mãe e a pequena Suzuka Ohgo, que conseguiu roubar a cena em seu primeiro trabalho para o cinema ocidental. Apesar de muitos equívocos narrativos, Memórias de uma Gueixa tem, a seu favor, o brilhantismo técnico de uma equipe experiente de artistas, a começar pela belíssima trilha sonora de John Williams, que busca inspiração em instrumentos e arranjos orientais ao compor a música que, por si só, consegue conferir certo peso dramático à trajetória de Sayuri. Da mesma forma, o montador Pietro Scalia cria transições elegantes (como a neve que se converte em fumaça) que conferem uma fluidez que o filme, de outra maneira, não possuiria. A fabulosa direção de arte vai além da simples recriação de época, investindo em cenários que expressam a realidade e os sentimentos dos personagens, como as estreitas vielas que mal permitem a passagem dos riquixás ou as colunas que, próximas umas das outras, acabam dando a impressão de formarem um longo corredor que sufoca a corrida da protagonista. Além disso, a fotografia enriquece ainda mais a beleza dos sets, atribuindo uma aura de mistério a estes, como no momento em que Sayuri sobe uma escadaria ladeada por paredes de bambu que ganham um brilho mágico em função da bela composição em contraluz de Dion Beebe. Portanto premiações no Oscar 2006 mais do que merecidas: Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Figurino. A injustiça de não ganhar Melhor Trilha Sonora no Oscar foi compensado com a premiação no BAFTA (no Reino Unido) e no Globo de Ouro (EUA).
Nelson Marques Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e Associação Cultural Cineclube Natal e-mail: [email protected] A inspiração para este ensaio veio através de parte do conteúdo do livro que tive recentemente em mãos. O livro de título “Ética y Magia A Través del Cine”, de Federico Ludueña e Juan J. Michel Fariña como compiladores, tem uma abordagem psicanalítica, evidenciada pelo subtítulo “El Acto de Prestidigitación y El Acontecimiento Clínico”. Foi publicado na Argentina, em junho de 2009. Com a colaboração de 15 profissionais da área, entre mentalistas, psicanalistas, magos, psicólogos, filósofos, traz como proposta fazer uma interlocução da magia (através do CAIRP – Centro Argentino para a Investigação e Refutação das Pseudociências) com a academia (Universidade de Buenos Aires e Universidade de Hertfordshire). O livro esta organizado em três partes. Na primeira - O Efeito Mágico e a Experiência Subjetiva - analisa-se a profunda tradição da magia e seu impacto no terreno da subjetividade. A segunda parte - Ilusionismo e Acontecimento Clínico. Ilustrações Cinematográficas - recorre a diversos cenários em que o ato de magia propicia ocasião de uma reflexão ética. A terceira parte - Os Magos e o Cinema - está integrada por textos breves originadas da pergunta “Qual foi o filme que mais o inspirou em sua relação com a magia?” O livro abre e fecha com variações mágicas que jogam com a ilusão. É exatamente esta relação entre magia, ilusão e cinema que trouxe minha atenção ao selecionar alguns filmes que trabalhassem com esses temas. Historicamente podemos dizer que o cinema é a arte da magia e da ilusão. Desde o seu princípio em 28 de dezembro de 1895, em Paris, quando houve a primeira projeção pública, a magia estava posta ao transformar fotografias estáticas em movimento no truque da projeção. Não é por menos, então, que o primeiro registro dessa magia apareça menos de um ano depois, em outubro de 1896 com o filme Escamotage d´une dame au Théatre Robert-Houdini, feito por Georges Méliés, com a invenção do primeiro truque “fílmico”, com o “truque da substituição”. O filme tem também a originalidade de ser o primeiro filme com argumento. Foi protagonizado por Jehanne D´Alcy, sua amante, que foi, portanto, a primeira atriz do cinema. A trama era muito simples, uma mulher vem a se sentar numa cadeira, entra Méliés na cena, cobre a atriz com uma coberta, que desaparece em seguida. Ante um gesto mágico de Méliés um esqueleto toma o lugar de Jeahnne na cadeira. A cena é repetida e, agora, quem desaparece é o esqueleto, reaparecendo a bela dama. O filme de apenas 1 minuto tem direção, montagem e direção de arte de Méliés. Ele mesmo como ator e Jehanne D´Alcy como atriz. Foi o primeiro filme de Méliés a fazer uso de trucagens. O tema da mulher que desaparece (The Lady Vanishes), no entanto sem magias, permanece em dois outros filmes. O clássico de 1938 de Alfred Hitchcock (A Mulher Oculta) e outro, e mais recente, de 1979 de Anthony Page (Mistérios na Bavária). O filme de Hitchcock teve roteiro de Ethel Lina White, Sidney Gilliat e Frank Launder e atuações de Margaret Lockwood, Michael Redgrave e Paul Lukas. O de Anthony Page teve roteiro de George Axelrod, Sidney Gilliat e Frank Launder e atuação de Elliot Gould, Cybill Shepherd e Angela Lansbury. Houdini (Houdini, O Homem Miraculoso) 1953, dirigido por George Marshall, com Toni Curtis, Janet Leigh e Torin Thatcher, é a história de um dos mais famosos mágicos (ou magos) da história da magia. Impressionava a muitos que além de seus truques ele tinha uma vida centrada na magia, interagindo com pessoas que tinham os mesmos interesses. Foi um empenhado artista de circo que se tornou mágico e artista de fugas mais cativante do mundo. Uma história de vida tão interessante que há uma nova versão recente, uma minissérie para televisão de 2014, com Adrien Brody, Kristen Connolly e Evan Jones. Eternally Yours (Eternamente Tua), direção de Tay Garnett, com Loretta Young, David Niven e Broderick Crawford. Conta a história do mágico Arturo e suas apresentações em clubes noturnos e grupos da alta sociedade Magic (Um Passe de Mágica ou Magia Negra), direção de Richard Attenborough, com Anthony Hopkins, como ator e narrador, Ann Margret e Burgess Meredit. Um ventríloquo à mercê de seu boneco cruel. Europa di Notte (Europa de Noite), 1959, direção de Alessandro Blasetti, co-produção ítalo-francesa. Basicamente é um passeio noturno por lugares de variedades de Roma, Londres e Paris (Crazy Horse, Nouvelle Eve, Caroussell e Pigalle). Há vários magos que trabalham no filme, mas sua importância reside no fato do aparecimento de pombas, pela primeira vez, nos números de magia nas mãos de Channing Polock (mágico e ator americano, nascido em 1926 e falecido em 2006). All About Eve (A Malvada), 1950. Direção de Joseph L. Mankiewicz, roteiro de Mankiewicz do livro “The Wisdom of Eve” de Mary Orr, e atuações de Bette Davis, Anne Baxter e George Sanders. Desenho visual maravilhoso, Diálogos com ritmo impecável, recheados de astúcia e ironia. The Bride of Frankenstein (A Noiva de Frankenstein), 1935, direção de James Whale que conseguiu eclipsar seu precursor, o clássico Frankenstein, dele mesmo realizado em 1931. O filme tem um desenho de arte avançado, música sutil de Franz Waxman e uma combinação precária entre um obscuro e inquietante drama e um bom entretenimento, com o grito e o riso muito próximos um do outro. Per Qualche Dollaro In Piú (Por Uns Dólares A Mais), 1964, direção de Sergio Leone. Não é o melhor dos “spaghetti western” (difícil superar o “Era Uma Vez No Oeste”, de 1968). É notável como Leone usa o espaço físico, visual e temporal. Seus usos do silêncio, do vazio, são eloquentes. The Horse´s Mouth (Maluco Genial), 1958, direção de Ronal Neame, mas o filme se deve sem nenhuma dúvida a Alec Guiness, seu escritor, que atua no papel “protagônico” de seu próprio roteiro, o único que realizou. O personagem de Gulley Jimson não dá respiro à audiência e temos que aceitá-lo em seus próprios termos. Scanners (Scanners: Sua Mente Pode Destruir), 1981. Direção de David Cronemberg. Um filme assombrosamente audaz e por uma razão particular (que não é vista na tela, obviamente), pois Cronenberg reeditou o filme frente à resposta da audiência na pré-estréia, modificando a sequência de certas cenas. Confirmando o que Kuleshov e Mosjukhin afirmaram há muito tempo atrás: é crucial a ordem em que a informação é apresentada. The Illusionist (O Ilusionista), 2006, direção de Neil Burger, com Edward Norton, Jessica Biel e Paul Giamati. Drama, fantasia e mistério. O ilusionista Eisenheim desperta a curiosidade do poderoso e céptico Príncipe Leopold. Quando Sophie, a sua noiva, vai ao palco, vê em Eisenheim o amor de sua juventude – e quando aparece morta, ele é o mais empenhado na investigação.
The Prestige (O Grande Truque), 2006, direção de Christopher Nolan, com Christian Bale, Hugh Jackman e Scarlett Johanson. Dois magos de palco se engajam em uma batalha para criar a ilusão final enquanto sacrificam tudo o que têm para enganar um ao outro, The Fun House (Pague para Entrar, Reze para Sair), 1981, direção de Tobe Hooper, com Elizabeth Berridge, Shawn Carson e Jeanne Austin. Quatro amigos adolescentes passam a noite em um parque de diversões e no trem fantasma e são perseguidos por um homem deformado com uma máscara de Frankenstein. Um dos poucos filmes que respeita a linguagem específica da magia. Há também um mago de aspecto sinistro, decadente e alcoolizado que simboliza o aspecto escuro e aterrorizante da magia, bonecos de ventríloquos e de papel maché, infundindo medo, terror e inquietude que são partes da arte da magia. |
AutoresGianfranco Marchi Histórico
Fevereiro 2022
Categorias |